Haja grandeur. Com um magnífico, inusitado – e polêmico – espetáculo de luzes do céu, os franceses pretendem comemorar em 1989 os 100 anos de existência da torre Eiffel, cravada no coração de Paris. Apesar dos protestos de astrônomos de todo mundo, a empresa que explora o monumento erguido para celebrar o centenário da revolução de 1789 quer lançar no espaço, a cerca de 804 km da Terra, um ofuscante holofote. Trata-se de um anel de 24 quilômetros de circunferência, composto de 100 balões infláveis destinados a refletir a luz solar. Será algo semelhante a uma grande lua cheia, que ao girar em torno da Terra poderá ser visto no mundo inteiro, todas as noites. O anel permanecerá no espaço de três meses a dois anos.
Compreende-se o mau humor dos astrônomos: durante esse período, suas pesquisas e observações ficaram praticamente paralisadas. Além disso, o anel em nada contribuirá para o avanço da ciência com os cientistas temem, também, que se abra um perigoso precedente – qualquer organização e poderá colocar em órbita o que bem entender, menos armas nucleares, se tiver como pagar a conta da operação.
Há quem enxergue outros riscos ainda. Para o astrônomo Eugênio Scalise Júnior , do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), por exemplo, ” pessoas desinformadas, como um índio no amazonas, poderão achar que o mundo está acabando “. A empresa francesa argumenta que o anel simbolizar a a passagem do século XX para o século XXI, da mesma forma que a torre Eiffel – duramente criticada na época de sua construção pelos intelectuais – marcou a chegada do século XX. A esperança dos astrônomos é que a empresa não consiga arrecadar os 300 milhões de francos, ou 2,3 bilhões de cruzados, a preços de agosto, necessários à construção e lançamento do anel.