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Brasileiro não gosta de trabalhar?

Pode até não gostar, mas trabalha. A jornada média no Brasil é de 40,9 horas semanais, contra 38 horas na Alemanha e 35 na França

Por José Francisco Botelho
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 6 abr 2012, 22h00

Praia, calor, futebol, carnaval, excesso de feriados… Tudo isso costuma virar argumento na boca de quem acha que os brasileiros não gostam de trabalhar. OK, pode até ser que não gostem mesmo – tanto quanto americanos e europeus. Afinal, no mundo inteiro, os índices de insatisfação com o emprego são altos. Nos EUA, por exemplo, o Bureau de Estatísticas do Trabalho estima que quase 67% dos trabalhadores acham “chato” ou “muito chato” aquilo que se veem obrigados a fazer para ganhar a vida. E nem por isso os americanos são considerados pouco afeitos ao batente.

Gostando ou não gostando daquilo que fazemos, o fato é que nós, brasileiros, trabalhamos mais do que se trabalha na maioria dos países desenvolvidos. E não é de hoje! Já na década de 1930, os EUA e a Europa Ocidental criaram leis fixando a jornada de trabalho semanal em 40 horas. O Brasil, por outro lado, manteve uma jornada de 48 – além de 12 horas extras permitidas por lei – até 1988, quando a Constituição foi alterada. Só então a jornada máxima passou para 8 horas diárias e 4 horas aos sábados – totalizando 44 semanais.

Na Alemanha, trabalha-se em média 38 horas por semana. Na França e na Espanha, menos ainda: 35 horas. Aqui no Brasil, a média é superior a 40 – para ser exato, 40,9 horas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE em 2008. Embora a média seja menor que a jornada máxima prevista na legislação trabalhista, esse mesmo levantamento revelou que 1 em cada 3 brasileiros trabalha mais que 44 horas semanais. E que 1 em cada 5 vai além das 48 horas por semana.

“Enquanto a prática de horas extras é rigidamente controlada nas economias desenvolvidas, no Brasil é algo corriqueiro”, diz o sociólogo Sadi Dal Rosso, da Universidade de Brasília (UnB). Os números comprovam. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 40% dos brasileiros fazem hora extra com regularidade – e o índice sobre para quase 50% no caso de empregadas domésticas, trabalhadores rurais e comerciantes.

O mito da preguiça nacional tem raízes profundas. Tão profundas que chegou a ser fomentado por um de nossos intelectuais mais importantes – o historiador Sérgio Buarque de Holanda. Em sua obra Raízes do Brasil (Companhia das Letras, 1997), ele culpa nossos colonizadores pela “indolência brasileira”. Ao contrário dos anglo-saxões, os fidalgos portugueses seriam avessos à ideia de ganhar o pão com o próprio suor.

 

Suor e lágrimas
No Brasil, a jornada de trabalho é longa. E o salário, curto

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País – COREIA DO SUL
Jornada semanal de trabalho (em horas) – 55
Salário mínimo mensal (em US$ *) – 904

País – BRASIL
Jornada semanal de trabalho (em horas) – 40,9 **
Salário mínimo mensal (em US$ *) – 306

País – EUA
Jornada semanal de trabalho (em horas) – 40
Salário mínimo mensal (em US$ *) – 1 257

País – ALEMANHA
Jornada semanal de trabalho (em horas) – 38
Salário mínimo mensal (em US$ *) – Não há valor estipulado por lei

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País – FRANÇA
Jornada semanal de trabalho (em horas) – 35
Salário mínimo mensal (em US$ *) – 1 855

* Cotação de 11/10/2010.
** População ocupada de 16 anos ou mais.

 

 

A gente rala, e muito!
Mais de 50% dos brasileiros vão além das 44 horas semanais de trabalho previstas em lei

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JORNADA MÉDIA POR SEXO* (Semanalmente)
Homens – 44 horas
Mulheres – 36,4 horas

 

JORNADA DE TRABALHO*
Superior a 44 horas semanais – 33,7%
Superior a 48 horas semanais – 19,1%
Inferior a 35 horas semanais – 23,1%
Outras jornadas – 24,1% 

 

REDUÇÃO DA JORNADA NOS ÚLTIMOS ANOS
1992 – 42,8 horas semanais
2008 – 40,9 horas semanais

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* População ocupada de 16 anos ou mais.

Fontes: IBGE (PNAD 2008); Dieese.

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