Conheça o homem que quer viver longe de qualquer coisa protegida por direitos autorais
Por um ano, Sam Muirhead pretende viver longe de qualquer objeto, tecnologia, comida ou cultura protegida por direitos autorais. Aqui ele conta como anda sobrevivendo (não muito bem, por sinal)
Carol Castro
O neozelandês radicado em Berlim Sam Muirhead pretende viver longe de qualquer objeto, tecnologia, comida ou cultura protegida por direitos autorais por um ano. Só interessam produtos sem licença, como o Linux, sistema operacional cuja “receita” é aberta para qualquer um. Ou seja, nada de Coca-Cola, filmes ou eletrônicos. Aqui ele conta como anda sobrevivendo (não muito bem, por sinal)
Como anda o projeto?
Algumas coisas são muito difíceis de trocar. Eu não posso comprar livros e músicas, por exemplo. Todo dia procuro músicas com domínio público. Também uso transporte público e bicicleta. E faço meu próprio sabão e pretendo aprender a fazer cuecas. Então, com quase três meses de projeto, ainda é cedo para mudar tudo o que eu gostaria. E o que estou tentando fazer é contar tudo que é possível fazer open source. Mas não é fácil, nem tudo pode ser substituído.
De onde surgiu essa ideia?
Tem muita coisa acontecendo aqui em Berlim. Além dos vários softwares, existem também projetos de design sem copyright. Por exemplo, tem um site no qual você pode desenhar seus próprios móveis, ver se as estruturas funcionam, se ficam em pé etc. E quando ele está pronto, você precisa compartilhá-lo com todo mundo. Então qualquer um pode fazer ou pegar o desenho de qualquer coisa e construir um objeto.
Você usa um computador da Apple, mas pretende construir um totalmente open source. Como está essa ideia?
No momento eu já tenho uma plataforma open source, alguns hardwares e programas livres, e estou instalando o sistema operacional. A ideia é trabalhar com programadores e especialistas em eletrônicos para desenvolver um computador simples. Quero criar um hardware para telas LCD, e vou usá-lo mesmo se for preto e branco. Substituir coisas tecnológicas é bem caro.
Como você come?
Minha ideia original era cozinhar em casa. Também não compro nada geneticamente modificado, de empresas que detêm as patentes de sementes, por exemplo. E continuo comendo e bebendo normalmente. O pão, por exemplo, tem 10 mil anos de história – não há nenhum tipo de patente envolvido na produção dele, e as receitas não podem ter copyright. Então, embora eu faça muito pão em casa, eu ainda posso comprá-lo numa padaria.
E quanto aos móveis e aos aparelhos domésticos, como geladeira e máquina de lavar?
Tenho me preocupado com a minha máquina de lavar, não tem nenhuma máquina open source. Por enquanto uso uma lavanderia compartilhada. E se a minha geladeira morrer, trocar por algo mais aberto. Um australiano criou uma maneira sem direitos autorais de controlar o sistema de refrigeração e compartilhou a tecnologia para fazer isso. Por enquanto, isso é o mais perto que existe de uma geladeira open source.
Do que você mais sente falta?
Deixar de ir ao cinema é o mais difícil. Tem muita coisa legal por aí, mas não posso ver.