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Dinheiro não traz felicidade?

Todo mundo sabe e repete: ser rico não é ser feliz. Mas estudos sustentam que o dinheiro pode, sim, dar uma forcinha na sua satisfação com a vida. Tudo depende de como você gasta

Por Ana Prado
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 1 fev 2013, 22h00

Durante 3 anos, entre 2008 e 2010, 1 milhão de moradores dos Estados Unidos recebeu telefonemas de gente interessada em saber apenas uma coisa: se eles eram felizes. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Gallup e pela Healthways, empresa especializada em gestão de doenças crônicas, e deu no Well-Being Index (ou “Índice do Bem-Estar”). A intenção? Avaliar o quanto eles estavam satisfeitos com a vida que levavam e de que modo seu nível de renda interferia nisso. Não por acaso, o início da pesquisa coincidiu justamente com o estouro da crise financeira que se alastraria pelo mundo.

Um estudo dos pesquisadores Angus Deaton e Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, nos EUA, baseado nesse índice (e com um recorte de cerca de 450 mil respostas) encontrou uma relação direta entre nível de renda e saúde emocional/avaliação positiva que uma pessoa faz de sua vida. Quanto mais dinheiro esses americanos relataram ter, mais felizes eles se consideravam. E, quanto menor a renda, maiores os níveis de tristeza e estresse. “A dor causada pelos infortúnios da vida, incluindo doenças, divórcio e solidão, é agravada pela pobreza”, constataram. Segundo o estudo, até uma dor de cabeça incomoda mais os pobres que os ricos.

Quer dizer que ser rico é lindo? Não da forma como você provavelmente imagina. Em um artigo intitulado “Money Can Buy Happiness” (“Dinheiro pode comprar a felicidade”), a filósofa Tara Smith, da Universidade do Texas, sustenta que o dinheiro define o bem-estar emocional de uma pessoa de duas maneiras. Uma é permitindo a cada um saciar suas necessidades materiais básicas para viver – comida, abrigo, roupas, remédios. Só depois de resolvido isso, segundo Smith, é que temos energia para ir atrás das coisas que de fato nos fazem felizes.

A segunda maneira, para a filósofa, é que o dinheiro nos permite comprar tempo. Sem grana, você precisa ocupar muitas de suas horas tratando de ganhá-la. Já com a conta bancária mais folgada, você pode usar esse dinheiro extra para pagar por certos bens e serviços que te permitem ter mais tempo livre para fazer o que gosta. Em outras palavras, o dinheiro pode nos dar mais autonomia para gastar as horas do nosso dia como bem entendemos – autonomia proporcional ao tamanho da fortuna. Temos, por exemplo, a possibilidade de jantar fora em vez de cozinhar em casa – se cozinhar não for exatamente um hobby pra você. Ou de perder menos tempo no trânsito, podendo comprar ou alugar uma casa mais perto do trabalho, independentemente do bairro. E, administrando bem essa liberdade financeira, sobra mais tempo para se dedicar a coisas legais, como viajar e ficar com a família.

O fato é que, segundo especialistas, o dinheiro pode mesmo contribuir para a sua felicidade. Mas não quer dizer que ele sempre o faça ou que baste para alguém ser feliz. Para Deaton e Kahneman, existe uma espécie de teto econômico para a saúde emocional de uma pessoa. Eles descobriram que a sensação de felicidade só aumenta conforme a renda para quem ganha até US$ 75 mil por ano (cerca de R$ 10 mil ao mês). Depois disso, essa sensação se estabiliza. Apesar de a avaliação positiva que uma pessoa faz de sua vida aumentar conforme o salário, o nível de bem-estar diário (ligado à felicidade) não se altera seela ganha US$ 100 mil ou US$ 150 mil. “Alta renda não traz felicidade, mas oferece uma vida que se acredita ser melhor”, resumem os autores.

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Pesquisadores das universidades de Cardiff e Warwick, na Grã-Bretanha, defendem que, para se considerar feliz, basta apenas que você seja um pouco mais rico que seu vizinho. Eles entrevistaram mais de 80 mil pessoas e descobriram que elas se diziam mais ou menos felizes de acordo com a posição que julgavam ocupar em uma escala de riqueza, e não com o valor absoluto de suas posses. Ser o mais rico da rua, por exemplo, já é o suficiente para que a pessoa se considere bem afortunada – mesmo que ela more em um bairro simples, na periferia. Segundo os autores, isso pode explicar por que o crescimento da renda de um país pode não ter efeito na felicidade média do povo: em tese, não adiantaria muito estar ganhando mais, se os vizinhos e os amigos também estivessem.

Parece mesquinho, mas um motivo para isso pode estar no sistema de recompensa do cérebro. Uma pesquisa conduzida por neurocientistas e economistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, analisou a atividade cerebral de voluntários por ressonância magnética enquanto eles realizavam alguns testes simples, em duplas, que rendiam recompensas em dinheiro para quem os acertasse. Quando um dos membros da dupla recebia um valor maior para o mesmo acerto, ocorriam alterações na oxigenação do sangue de ambos, afetando a atividade cerebral na região relacionada à recompensa. Ou seja, perceber que se está em vantagem – ou desvantagem – financeira em relação a outros faz com que o cérebro libere mais ou menos hormônios relacionados à sensação de prazer.

Gaste com parcimônia
Se apenas um pouco de dinheiro já é suficiente para tornar você mais feliz, o prazer de viver pode ser ainda maior dependendo de como você gasta esse dinheiro. Certos estudos, por exemplo, garantem que a satisfação é maior quando você gasta com os outros (leia no quadro ao lado). E uma pesquisa feita por psicólogos das universidades americanas do Colorado e de Cornell descobriu que você pode ser mais feliz fazendo do que tendo as coisas. Eles pediram a um grupo de voluntários que se colocassem em uma situação hipotética. Deveriam escolher entre duas opções: gastar uma grana com um bem material (como um relógio novo) ou com uma experiência (como ir a um café com um amigo). Eles deveriam apontar qual opção lhes faria mais feliz, mas com um detalhe: alguns deveriam considerar a situação no presente, ao passo que outros eram instruídos a imaginá-la no passado ou no futuro. Em todas as situações, investir em experiências como uma viagem ou um jantar foi o que ofereceu maior grau de satisfação. Além disso, quanto maior o valor empregado em bens materiais, maior foi a sensação de arrependimento. Já gastar em experiências prazerosas surtiu o efeito oposto – menos arrependimento.

Segundo os pesquisadores, a explicação é que, por ser abstratas, as experiências acabam ganhando interpretações mais positivas ao longo do tempo. Enquanto aquela tevê de última geração só vai ficando cada vez mais obsoleta, as memórias de nossas viagens, por exemplo, tendem a acumular boas sensações. Outra coisa que ajuda a explicar os resultados, segundo eles, é o fato de as experiências terem um papel social mais importante que os bens materiais na hora de construir relacionamentos duradouros. Em outras palavras: se “dinheiro na mão é vendaval”, como canta Paulinho da Viola, a única maneira de reter a felicidade efêmera que ele pode trazer é tratando de investi-lo em lembranças que duram.

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Mão aberta
Dinheiro no bolso? Nada. Vale mais sair distribuindo por aí

Em um estudo de 2008, pesquisadores das universidades de Harvard, nos EUA, e da Colúmbia Britânica, no Canadá, pediram a 630 americanos que classificassem seu nível de felicidade geral, dissessem quanto ganhavam por ano e quanto gastavam por mês em contas, agrados para si mesmos, presentes e donativos. “Independentemente de quanto era a renda de cada um”, diz a professora Elizabeth Dunn, uma das autoras, “os que usaram mais o dinheiro com os outros relataram maior felicidade do que quem gastou mais com coisas para si”. Em outro experimento da mesma esquipe, foi dada a cada participante uma nota de US$ 5 para ser gasta num dia. Metade dos voluntários foi instruída a comprar coisas para si, e a outra metade, para os outros. O segundo grupo relatou se sentir mais feliz no fim do dia. “Essas descobertas sugerem que mudar a forma como você gasta meros US$ 5 pode ser suficiente para produzir ganhos reais de felicidade em um dia”, diz Dunn.

Para saber mais 
Money Can Buy Happiness. Tara Smith, Crown Archetype, 2007.

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