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Estudo revela que não fazemos ideia do quão ricos bilionários realmente são

Nosso cérebro não é bom em computar quantidades ridículas – e acabamos subestimando a quantidade de dinheiro que os super-ricos realmente têm.

Por Manuela Mourão
28 set 2024, 10h00

Um bilhão pode parecer uma quantidade fictícia de tão astronômica, mas imagine assim: 1 milhão de segundos equivale a menos que 12 dias, já um bilhão de segundos é quase 32 anos. Quando falamos em dinheiro então, a situação é mais inimaginável ainda.

Um estudo publicado recentemente na PNAS Nexus mostrou que as pessoas costumam subestimar o quão rica a população que faz parte dos 1% mais ricos realmente é. Em algumas áreas dos EUA, o acesso ao clubinho do 1% equivale a ganhar mais de US$ 1 milhão por ano.

No Brasil, esse número muda um pouquinho: a renda média para entrar no grupo de ricaços brasileiros é de R$ 20 mil por mês per capita e, mesmo assim, esses são “pobres” (rs) em relação ao resto do estrato. Quem faz parte do 0,1% ganha, mensalmente, 300 mil reais. 

Barnabas Szaszi, autor principal do estudo, e uma equipe de pesquisadores realizaram alguns experimentos  para tentar compreender como as pessoas entendem a riqueza quando ela está concentrada na mão dos outros. 

990 americanos foram questionados sobre o quanto achavam que ganhavam anualmente diferentes estratos socioeconômicos do país.

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Os resultados sugerem que os participantes entendiam mais precisamente o quanto recebiam as porções mais pobres da população, enquanto as estimativas de renda para a panelinha do 1% foram bem menores do que o números reais. 

Em um outro experimento, os pesquisadores forneceram aos voluntários um software que permitia distribuir uma população fictícia por diferentes faixas de renda, e decidir o quão severa seria a concentração de riqueza no topo da pirâmide.

Novamente, observou-se que os participantes consistentemente subestimavam os ganhos dos 20% mais ricos, enquanto acertavam melhor as estimativas para as faixas de renda mais baixas.

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Essa distorção na percepção pode ser explicada por um fenômeno conhecido como “insensibilidade ao escopo”. Nesse caso, as pessoas não distinguem com precisão as grandes variações que existem dentro do 1%, e tendem a agrupar grandes fortunas em uma categoria guarda-chuva de “ricos”. 

Assim, o impacto de um bilionário ganhar mais alguns milhões não é tão surpreendente quanto o de saber que uma pessoa de renda média ganhou na loteria. 

Esse é o mesmo fenômeno que faz você ignorar a diferença de preço entre um carro de R$ 90 mil e um de R$ 89 mil, enquanto uma diferença entre uma TV de R$ 2 mil e uma de R$ 1 mil é considerada brutal. A diferença absoluta entre os preços é idêntica (R$ 1 mil), mas a diferença relativa disfarça. 

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Uma comparação visual ajuda a explicar quanto, realmente, é um bilhão. Quatro anos atrás, quando Jeff Bezos, o empresário por trás da Amazon, ainda era o homem mais rico do mundo, viralizou um vídeo que representava sua fortuna em grãos de arroz. A percepção por volume pode fazer esses números parecerem mais reais:

No Brasil, o 1% mais rico, composto por aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, concentra quase um quarto de toda a renda do país. As camadas mais endinheiradas acabam contribuindo pouco, proporcionalmente, com o sistema tributário.

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Esther Duflo, ganhadora do Nobel de Economia em 2019, destacou, em uma entrevista à Folha de S.Paulo, que uma tributação de 2% sobre as fortunas dos super-ricos e o aumento de impostos sobre multinacionais poderiam gerar cerca de US$ 500 bilhões de arrecadação extra por ano que poderiam ser destinados a ajudar as populações mais vulneráveis, especialmente as afetadas pelas mudanças climáticas.

Dados recentes do Observatório Fiscal da União Europeia reforçam essa preocupação. Relatórios de 2023 apontam que a maioria dos sistemas tributários no mundo é regressivo ou seja, os mais ricos pagam uma porcentagem muito menor de seus rendimentos em impostos do que a média da população.

Entre os bilionários, a taxa efetiva de imposto pode ser tão baixa quanto 0,5% em alguns países. Segundo estimativas, a aplicação de um imposto de 2% sobre a riqueza de aproximadamente 3.000 bilionários ao redor do mundo poderia gerar uma arrecadação anual de US$ 250 bilhões.

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