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Freixo o verdadeiro fraga

Deputado da vida real enfrentou milícias e entrou em rebelião sem colete. Só não casou com a mulher do coronel do Bope

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 25 mar 2011, 22h00

Texto: Vinicius Cherobino

O Diogo Fraga do filme foi inspirado em Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PL do Rio de Janeiro. Em 2010, o professor de história e ativista dos direitos humanos foi o 2º mais votado, com 177 mil votos. Mas não foram votos fáceis de conquistar. Apesar do apoio de atores do filme, como Wagner Moura, ele teve de fazer campanha seguido por seguranças, por causa das ameaças de morte que recebe.

Super – Como você avalia Tropa de Elite 2?
Freixo – Ao contrário do primeiro, o Tropa 2 joga a discussão para o andar de cima, a política, que é onde tem que ser discutida. Segurança não é problema de polícia, é de política.

Quanto há de realidade no Diogo Fraga?
Irandhir Santos, o ator que interpreta Fraga, virou meu amigo, veio ao meu gabinete várias vezes, discutimos o texto juntos. Tínhamos a mesma preocupação sobre como a população entenderia as cenas. Era uma responsabilidade muito grande. A preparação levou mais de um ano. O Bráulio Mantovani, roteirista do filme, viu todas as sessões da CPI, todos leram o relatório.

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E o que é ficção?
Tem muito de ficção. Eu nunca fui casado nem com a ex-mulher do Coronel Nascimento nem com a do Wagner Moura. Aliás, a minha mulher, que é jornalista, tem respondido a essa pergunta sistematicamente. Na realidade, negociei várias rebeliões em presídios. Mas aquela cena do tiro no preso dado pelo policial do Bope nunca aconteceu. Quando tinha rebelião no Rio, o Bope me chamava e ia me buscar em casa. Negociei dezenas de rebeliões junto com o Bope e nunca houve um refém, preso ou guarda ferido. Sempre tiramos os reféns com vida, os presos saíam com vida e sem serem torturados ou, como eles falam, sem “o esculacho”. Agora, a cena do colete aconteceu de verdade. Eu estava entrando no presídio em rebelião e um comandante disse para mim: “Bota o colete”. Eu disse: “Não. Tenho que andar uns 50 metros e eles estão com as armas lá. Se quiserem me atingir, vão me atingir”.

Você acredita que as milícias foram apresentadas como são na realidade?
O trabalho do Padilha é genial. O que leva o Rio a ter milícia existe em todas as outras grandes cidades. Corrupção policial, clientelismo político, corrupção política. Isso não é uma característica carioca. Quem controla as vans em São Paulo? Tem de acabar com a hipocrisia, e o filme rompe com ela. É um filme de ficção que dialoga com a realidade como poucos documentários fizeram.

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Como foi o processo para instaurar a CPI das Milícias?
Eu já tinha feito o pedido para a CPI, mas ele ficou arquivado durante um ano e meio. Só foi possível depois da tortura bárbara que os jornalistas do jornal O Dia sofreram por milicianos. Essa comissão mudou a história da segurança pública do Rio. Levou à prisão de muitos líderes, entre eles deputados como Natalino [Guimarães, ex-DEM, acusado de ser o chefe da milícia “Liga da Justiça”] e vereadores como Jerominho [Jerônimo Guimarães, do PMDB, irmão de Natalino e preso sob a mesma acusação] e Cristiano Girão [acusado de chefiar milícia em Gardênia Azul, zona oeste do Rio].

É possível dizer que as milícias foram superadas?
Elas não estão extintas. Há um enfraquecimento político com as prisões e com a mudança na opinião pública. Hoje, nenhuma autoridade pública defende as milícias abertamente. Nesse sentido, a CPI venceu. Mas as milícias têm estrutura de máfia, não acabam se não forem enfraquecidas territorialmente e economicamente. Por exemplo, Jacarepaguá inteiro está nas mãos das milícias.

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A milícia incomoda menos ao Estado do que o tráfico de drogas?
A milícia garante a produção de obediência. Ela é feita por agentes públicos que cometem crimes baseados no discurso da ordem. Foi o que sustentou, por muitos anos, o discurso da milícia como mal menor. E deu no que deu: uma estrutura de máfia crescendo e ameaçando a democracia. Basta ver o mapa da violência no Rio para notar que as regiões com os maiores índices de homicídio estão, em sua maioria, nas áreas de milícias.

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