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Inflação nunca faz bem à economia

Quem defende índices "saudáveis" de inflação provavelmente não vive de salário mínimo nem está preocupado com a cesta básica

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 6 abr 2012, 22h00

Textos Arthur Albolea

Já virou tradição: a cada aumento da Selic, a taxa básica de juros determinada pelo Banco Central, empresários promovem uma chiadeira geral contra o que chamam de “rigor exagerado” nas metas de inflação. Eles argumentam, com toda a razão, que a subida da Selic reprime o consumo, encarece o crédito e prejudica investimentos no setor produtivo. É esse remédio amargo, no entanto, que vem mantendo o dragão inflacionário sob rédeas curtas há quase 20 anos no Brasil. Para entender por que aumentar os juros funciona, é preciso conhecer a essência desse fenômeno. Inflação nada mais é que aumento de preços, que pode ser reflexo – como ocorre por aqui e em outros países em desenvolvimento ao redor do mundo – de uma economia aquecida (aumento da procura sem que a oferta aumente na mesma proporção). Taxa Selic elevada, por outro lado, significa pé no freio produtivo – os preços não sobem; em compensação, o país não cresce. Por essa perspectiva, um pouquinho de inflação não seria nada mal. Com índices controlados (de 2,5% a 6,5% para alguns, até 10% para outros), o poder de compra não correria riscos, a economia se manteria aquecida e o país cresceria com mais vigor.

O problema de tentar manter a inflação num nível supostamente saudável é que ela pode escapar do controle. Primeiro, porque sempre existe o risco da chamada espiral inflacionária. Quando preços sobem, salários perdem poder de compra. Ao cabo de um ano, lá estão os sindicatos reivindicando reajustes, que acabam concedidos pelos empregadores. O aumento de custos da produção é repassado ao consumidor na forma de mais aumento de preços. E assim vai. Com o tempo, a cultura do aumento provoca reajustes preventivos, um sintoma inequívoco de descontrole. Investimentos que iriam para a indústria e o comércio são redirecionados para a ciranda financeira. O desemprego cresce. E o país se afoga na recessão.

Além do mais, a equação dos índices inflacionários nem sempre é tão simples quanto a lei da oferta e da procura. Veja o caso do fenômeno conhecido como estagflação, quando um quadro de estagnação econômica é acompanhado de escalada de preços. O que ocorre nessa situação é, basicamente, o seguinte: quase ninguém compra, quase ninguém vende e o desemprego explode; mesmo assim, os preços não param de subir. Ou seja: se controle da inflação fosse apenas uma questão de equilíbrio entre oferta e demanda, a estagflação – que neste exato momento ameaça alguns países da Europa e o Japão – simplesmente não existiria.

Na opinião dos economistas mais prudentes, tudo isso sugere que a melhor estratégia é usar todas as ferramentas disponíveis para garantir uma inflação a mais baixa possível. Afinal, seria muito mais fácil administrar um índice que salta de 2% para 6% ao ano do que um que pula de 10% para 30%.

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O lado mais fraco
São os pobres que entram pelo cano com a inflação porque:

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Ao contrário dos ricos, eles não têm como buscar refúgio nas aplicações financeiras.

Inflação é concentração de renda: ricos ficam mais ricos; pobres, cada vez mais pobres.

A corrida aos supermercados provoca desabastecimento, que penaliza bem mais a população de baixa renda.

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Com inflação, cai o investimento no setor produtivo, levando a desemprego e estagnação econômica.

No Brasil, 23% dos trabalhadores ganham até um salário mínimo por mês.

Para essa população, a cesta básica representa 49% do orçamento familiar.

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Cada ponto a mais de inflação tem impacto direto na vida desses 40 milhões de brasileiros.

Fontes: IBGE; Dieese.

 

 

 

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