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Por que nos lembramos de ocasiões embaraçosas e sentimos vergonha de novo?

Você conhece o sentimento de se envergonhar do seu passado. Mas por que essas memórias ressurgem e como parar de se sentir mal com elas?

Por Leo Caparroz
18 nov 2022, 11h56

Se você já cometeu alguma gafe na frente da turma, falou algo que cortou o clima do rolê ou escorregou na porta da firma, provavelmente se lembra bem desse momento; e pior, ele insiste em voltar à mente nas horas mais inoportunas.

David John Hallford, professor na Universidade de Deakin, na Austrália, discute como essas lembranças podem abalar nosso emocional – mesmo tendo acontecido anos atrás. Segundo ele, nos lembramos de experiências de duas formas: de um jeito proposital e voluntário, como quando você tenta se recordar o nome de um ator ou seu almoço de domingo; e de um jeito não intencional e espontâneo, esse vem a nossa mente de forma indesejada e, por vezes, intrusiva.

Essas recordações, que inicialmente deveriam servir de lembrete constante para não cometermos os mesmos erros, acabam nos mantendo presos a uma espiral de emoções negativas. A gente não só relembra o sentimento ruim da ocasião, como lembrar de que passamos por aquilo nos causa desconforto.

Uma lembrança pode ser reavivada com um estímulo externo, como sons, cheiros e visões; ou internos, sensações, pensamentos e sentimentos. Quando lembranças têm informações que se interseccionam de alguma forma, ativar uma pode, por tabela, trazer a outra à tona. Memórias podem compartilhar o contexto, ocorrer em períodos similares da vida ou trazer emoções e temas comuns – mas nem sempre essas associações são claras para nós, e nem toda ativação vai levar a uma memória consciente.

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Memórias geralmente evocam respostas emocionais – boas ou ruins. Em certos casos, o que deveria ser algo positivo e saudável acaba virando motivo de angústia. Nossa memória anda lado a lado com o nosso humor atual, então, se você está se sentindo triste, é mais provável que se lembre de memórias relacionadas a decepções, perda ou vergonha. Se a ansiedade é predominante, você talvez se lembre mais de momentos em que se sentiu assustado ou inseguro.

Hallford também chama atenção para a ruminação que pode acompanhar alguns distúrbios de saúde mental. Assim como as vacas mastigam o capim, enviam-no estômago abaixo e ele volta para a boca onde é novamente mastigado, nós pensamos repetidamente em experiências negativas passadas e como nos sentimos em relação a elas.

Memórias involuntárias podem nos deixar tristes, ansiosos ou com vergonha do nosso eu do passado. Contudo, elas são importantes para nós, pois nos ajudam a aprender a administrar situações futuras. Hallford afirma que, apesar da boa intenção, ruminar nos prende no passado e retoma emoções negativas. Isso também significa que essas memórias em nossas redes neurais fortalecem suas conexões e são ainda mais propensas a serem lembradas depois.

A boa notícia é que as memórias são muito adaptáveis. Quando evocamos uma memória, podemos elaborá-la e mudar nossos pensamentos, sentimentos e avaliações de experiências passadas.

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Para o portal de divulgação científica The Conversation, Hallford escreve: “Em um processo conhecido como ‘reconsolidação’, mudanças podem ser feitas para que a próxima vez que a memória for recuperada seja diferente do que era antes e tenha um tom emocional alterado.”

Refletir sobre algo que não deu certo pode nos deixar tristes ou envergonhados. Ao reformular essa memória, Hallford aconselha a lembrar de aspectos que deram certo, e integrá-los à ideia de que você enfrentou um desafio. Também é importante lembrar a si mesmo de que não há problema em se sentir ansioso ou desapontado com coisas difíceis – isso não te torna um fracasso ou uma má pessoa.

“Quanto à ruminação, uma estratégia é reconhecer quando está acontecendo e tentar desviar a atenção para algo sensorial (por exemplo, fazer algo com as mãos ou focar em imagens ou sons)”, diz. “Essa mudança de atenção pode causar um curto-circuito na ruminação e permitir que você se concentre em algo diferente.”

No final das contas, nossas lembranças não devem nos paralisar ou ser motivo de remorso. “Não precisamos ficar presos ao passado”, encerra Hallford.

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