Professores da pré-escola tendem a ser racistas com seus alunos negros, mesmo sem querer
Eles têm uma expectativa subconsciente de que seus alunos negros vão aprontar com mais frequência, diz estudo de Yale
Pesquisadores da Universidade Yale decidiram investigar se existe professores da pré-escola tratam alunos negros e brancos de forma diferente – ainda que não tenham a menor conciência disso.
Começaram “enganando” os participantes. Disseram que queriam entender como professores identificavam sinais de que algum aluno iria aprontar – antes que ele aprontasse de fato. Então mostravam vídeos curtos de sala de aula e pediam que os professores ficassem alertas. Só que o eventual mau comportamento dos alunos nunca aparecia – ninguém atirava papel na professora nem dava com a régua na cabeça do coleguinha. Nada.
Os cientistas, na verdade, estavam rastreando o olhos dos professores, para ver quais estudantes eles mais observavam na expectativa de encontrar problemas. E descobriram o seguinte: 42% do tempo, eles olhavam para os meninos negros na sala. Em segundo lugar, vinham os meninos brancos (34%). Meninas brancas e negras vinham nos últimos lugares. Esse padrão se repetia tanto entre professores brancos quanto entre professores negros.
Os autores do estudo acreditam que a descoberta ajuda a explicar números preocupantes na educação infantil. Nos EUA, só 19% das crianças matriculadas na pré-escola são negras. Mesmo levando desvantagem nos números, elas ainda batem recordes de suspensões: têm 3,6 vezes mais chances de receber uma ou mais suspensões que as crianças brancas. E é bom lembrar que estamos falando de crianças que tem só entre 3 e 7 anos.
O viés inconsciente que os pesquisadores encontraram não tem só a ver com cor – os meninos também tendem a receber mais atenção que as meninas, e são disciplinados mais severamente.
“Nenhum distúrbio de comportamento estava presente nos vídeos, o que sugere, pelo menos em parte, que os professores da pré-escola podem ter expectativas diferentes de comportamento baseados apenas na cor da criança”, falaram os autores no relatório.
Na segunda parte do estudo, os professores liam o perfil de um estudante problemático e tinham que sugerir que providências a escola deveria tomar. Em metade desses perfis, os pesquisadores incluíram informações sobre o cenário familiar dessa criança. Aí descobriram também uma relação cruzada entre a cor do aluno e do professor. Quando ambos eram negros ou brancos, saber do contexto familiar do aluno aumentava a empatia do professor pelo aluno – e o comportamento errado parecida menos grave. Já quando um era negro e outro branco, os professores se sentiam sobrecarregados pela informação e acabavam superestimando o problema de comportamento.
A ideia da pesquisa não é culpabilizar os professores e sim buscar estratégias para reduzir o viés que eles apresentam em sala, mesmo que sem intenção. Os resultados da pesquisa vão ser apresentados ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA para tentar criar iniciativas federais e estaduais que melhorem a qualidade de vida dos alunos de pré-escola no país.