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Quer mitigar as emissões de CO2? Faça dinheiro dar em árvore

Em Uganda, o desmatamento caiu em 50% quando pequenos agricultores passaram a ser pagos para não derrubar árvores.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 jul 2017, 19h25 - Publicado em 21 jul 2017, 18h37

Dinheiro não dá em árvore? Às vezes dá, sim. Um estudo inédito de preservação ambiental revelou que pagar uma recompensa mensal a agricultores pobres – sob a condição de que eles não cortem as árvores de suas propriedades – é a maneira mais rápida e eficiente de reduzir as emissões de gás carbônico.

A equipe de Seema Jayachandran, pesquisadora da Universidade Northwestern, nos EUA, acompanhou a aplicação experimental desse método em Uganda, na África. 70% da floresta equatorial nativa do país, de clima semelhante ao da Amazônia, está em propriedades privadas. Os agricultores locais, parcela mais pobre da população, plantam por subsistência. Volta e meia, quando algo dá errado na lavoura, cortam árvores do próprio terreno para vendê-las como carvão – garantindo, assim, o almoço do dia seguinte. 

Para piorar a situação, essas matas também são habitat de uma espécie em risco de extinção, o chimpanzé-comum (Pan troglodytes). Para sobreviver, esses animais dependem de corredores ecológicos – extensões de floresta preservada que ligam reservas isoladas entre si, permitindo a circulação de animais e interações por longas distâncias. Justamente o tipo de tapete verde que é interrompido aqui e ali por um pequeno sítio ou uma queimada. Os chimpanzés, com fome, acabam atacando a lavoura e são recebidos a tiros pelos proprietários, uma guerra que só tende a piorar conforme o desequilíbrio ecológico aumenta.

Uma multa salgada, é claro, não adianta nada: além do fato óbvio de que ninguém teria dinheiro para pagá-la, a preservação ambiental não é prioridade em países que sofrem com graves problemas socioeconômicos – não é um castigo pedagógico mexer no bolso de alguém que está tentando sobreviver com alguns poucos dólares por dia.

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Por isso, a abordagem foi diferente: 120 vilarejos selecionados de forma aleatória foram dividas em dois grupos. Metade deles passou a receber o equivalente a US$ 11,20 anuais por cada 4 mil metros quadrados de área em que a vegetação local ficasse intacta. A outra metade, usada de referência, não recebeu a proposta. Dois anos depois, um terço dos agricultores da primeira área cumpriram o acordo – e só 4,2% da vegetação virou carvão. Na área de controle, que não recebeu a oferta, 9,1% da cobertura vegetal virou pasto – mais que o dobro. Os resultados foram publicados na Science.

Os resultados podem parecer óbvios, mas não são. Economistas e cientistas sociais consideram políticas de preservação ambiental que oferecem recompensas um investimento incerto. Em primeiro lugar, porque é impossível saber se o proprietário beneficiado realmente teria cortado suas árvores caso não recebesse o reforço financeiro – a necessidade de liberar novas áreas para plantio ou produção de carvão varia de forma imprevisível de acordo com o clima e questões sociais. Além disso, nada impede o proprietário que assinou o acordo de desmatar uma área pública ou um pedaço abandonado de outra propriedade – garantindo a recompensa do governo e lucrando por fora com as mesmas atividades ilícitas de antes.

O fato de que essas variáveis não afetam o resultado final provam que vale a pena insistir na tática – muito mais barata e rápida do que financiar o desenvolvimento de painéis solares e carros elétricos, que sem dúvida serão úteis em longo prazo, mas não têm potencial para protagonizar a mudança de rumo drástica que as emissões de CO2 precisam tomar para evitar um aumento catastrófico nas temperaturas médias do globo.

“Resolver esse problema com leis mais rígidas nem sempre funciona”, afirmou ao New York Times Jeff Mosenkis, responsável por uma organização sem fins lucrativos que colaborou com a implantação do programa. “Você precisa desenvolver um método que leve em consideração as necessidades das pessoas que moram ali, e esse estudo é um ótimo exemplo disso.” Outros especialistas entrevistados concordam que testes práticos dessas dimensões são raros nas pesquisas sobre políticas públicas, e podem dar novas chances a métodos que já haviam sido descartados na teoria.

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