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Revolução na telefonia

O iPhone criou um novo padrão para os celulares inteligentes. E foi além: mudou o equilíbrio de forças de um mercado conservador (e bilionário)

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 8 Maio 2012, 22h00

Tiago Cordeiro

Em 2005, uma equipe de desenvolvimento da Apple apresentou a Steve Jobs um protótipo rudimentar que o chefe tinha encomendado. Era um display de vidro touch screen em que era possível realizar todos os comandos imagináveis em um computador – principalmente digitar textos. Era uma primeira versão e um novo tipo de tablet, do jeito com que ele tinha sonhado. Só que, no momento em que olhou para o resultado do trabalho de seus engenheiros e designers, o patrão teve uma sacada. “Pensei: ‘Meu Deus, nós podemos construir um telefone baseado nisto’. Engavetei temporariamente o projeto do tablet porque o telefone era mais importante”. E foi assim que o iPad, que só seria lançado em 2010, inspirou o iPhone, de 2007.

Durante a muito esperada apresentação do novo aparelho, Steve anunciou que a empresa iria lançar não um, mas três produtos revolucionários. O primeiro era um iPod com tela maior e controles touch. O segundo, um telefone celular inovador. O terceiro, um gadget para se comunicar via internet. “Então, três coisas”, ele disse à plateia. “Um iPod, um telefone, um comunicador. Vocês estão entendendo? Esses não são três aparelhos separados. É um só, que estamos chamando de iPhone”.

Para o fundador da Apple, aquele produto dava continuidade à sua própria história: o computador pessoal que ele tinha ajudado a criar agora cabia no bolso. Em dezembro de 2007, o iPhone era eleito, pela revista Time, a invenção do ano. No ano seguinte, já dominava 13% do mercado de smartphones. Até o fim de 2010, havia vendido 73,5 milhões de unidades no mundo. Também pudera. O aparelho era incrível. Mas quase não saiu do papel. Os bastidores da criação do aparelho foram tumultuados até para os padrões da Apple.

Gritos e choro

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Para começar, a empresa se debateu em torno de um problema sério: não havia sistema operacional que desse conta dos aplicativos do novo aparelho e que só tivesse poucas centenas de megabytes, uma fração do tamanho do OS X. Quer dizer, existia uma alternativa muito viável, o Linux, mas Jobs fazia questão de desenvolver um produto inédito. Enquanto um grupo trabalhava na questão, outro tentava entender especificidades técnicas da telefonia, uma total novidade para a Apple. Nesse quesito, era preciso começar do zero. A antena foi testada em salas especiais, cheias de robôs. Para checar se o nível de radiação era aceitável, os engenheiros criaram réplicas de cabeças humanas, com uma gosma ocupando o lugar do cérebro. Estima-se que o projeto todo, batizado internamente com o nome Purple 2, ou P2, não tenha saído por menos de US$ 150 milhões.

Parecia não ser o suficiente. Em 2006, depois de um ano de trabalho de 200 engenheiros, Jobs reuniu os gerentes responsáveis pelo projeto do iPhone. Surpreendentemente, não gritou, não chamou ninguém de burro. Apenas disse: “Nós não temos um produto ainda”. De fato, o produto tinha uma lista gigantesca de falhas: as ligações caíam, a bateria parava de carregar antes de ficar cheia, aplicativos travavam o tempo todo sem razão aparente. Quem estava na reunião ficou apavorado com a frieza tão pouco comum do chefe. Naquele momento, Jobs já tinha decidido: o iPhone seria lançado na convenção Macworld de 2007 mesmo que ninguém mais dormisse até lá.

Havia muita coisa em jogo com essa apresentação. Depois de um ano e meio de conversas, ele tinha conseguido negociar um acordo com a AT&T. A operadora de telefonia seria a única a funcionar nos iPhones por cinco anos em território americano. Em troca, a Apple criaria o novo aparelho da forma como bem entendesse. Era inacreditável: a maior provedora de serviços wireless dos Estados Unidos tinha concedido liberdade a uma fabricante. Só faltava o aparelho ficar pronto.

Para muitos funcionários da Apple, as semanas que se seguiram foram as mais tensas de sua vida. Gritos e choros eram ouvidos nos corredores. Muita gente passou dias inteiros dentro da empresa. Uma gerente de produtos deu um soco tão forte na porta de sua sala que a fechadura quebrou. A coitada acabou ficando presa por mais de uma hora.

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Vitória do fabricante

No fim, deu certo. Em dezembro de 2006, Jobs se encontrou em Las Vegas com Stan Sigman, o presidente da divisão de conexão sem fio da AT&T. Sigman diria que aquele era o melhor aparelho que ele já tinha visto. Com tal aprovação, Jobs dava um xeque-mate no conceito de que não eram os aparelhos que atraíam clientes, mas os serviços das operadoras.

“O mercado de telefonia movimentava US$ 11 bilhões por ano, e os fabricantes eram tratados como vassalos”, diz Drew Hull, diretor de pesquisas da empresa NDP Group. “Com o iPhone, a Apple mudou o equilíbrio de forças desse mercado.” E isso apenas seis anos depois de mudar a indústria da música.

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Para saber mais

• A Cabeça de Steve Jobs, Leander Kahney, Agir, 2008.

Fábrica de morte
O fornecedor da Apple na China registrou 14 suicídios nos últimos anos

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Algo muito estranho acontece na fábrica do grupo chinês Foxconn em Tucheng, Taiwan. Nos últimos três anos, a grande fornecedora de componentes eletrônicos do mundo (e maior empresa privada da China) vem ficando conhecida pelo alto número de funcionários que cometem suicídio. Um deles, o engenheiro Sun Danyong, de 25 anos, recebeu em 2009 um lote de 16 protótipos do iPhone 4G. Quando se deu conta, tinha só 15 em mãos. Desesperado com o sumiço, ele se jogou de um apartamento no 12º andar. Questionada, a Apple se manifestou por intermédio de Steve Jobs: “A Foxconn tem piscinas, quadras e é até bem legal para uma fábrica. Estamos lá, conversando sobre o problema para ajudar a resolvê-lo”.

A companhia chinesa, que também fornece peças para empresas do porte de Intel, Cisco, HP, Dell, Nintendo, Nokia e Sony, é acusada de manter seus funcionários em cárcere privado, estimular guardas a agredi-los e obrigá-los a cumprir cargas horárias de até 12 horas por dia. Em 2010, foram registrados nada menos do que 14 suicídios. Em maio de 2011, uma explosão na linha de montagem do iPad 2 causou três mortes e deixou 15 trabalhadores feridos.

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