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Se eles existissem

A SUPER vai contar como seriam os ETs de cada planeta do Sistema Solar, caso eles fossem habitados. Os organismos que você vai ver foram montados com os dados de que a ciência dispõe sobre as condições para o surgimento de seres biológicos. E, é claro, com uma boa dose de imaginação. Prepare-se para conhecer uma turma do outro mundo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 Maio 1999, 22h00

Thereza Venturoli, com Marcus Volpe

Seres vivos são muito raros. Por mais potentes que sejam os telescópios e mais ousadas as aventuras espaciais, o homem ainda não topou com nenhum ET por aí. Dos planetas conhecidos, só a Terra tem o cenário e as condições para o surgimento de qualquer atividade biológica.

O primeiro ator desse teatro bioquímico é uma substância trivial no dia-a-dia terráqueo: a água. A combinação de dois átomos de hidrogênio com um de oxigênio, na temperatura adequada, constitui um líquido capaz de dissolver uma variedade imensa de moléculas. A densidade desse solvente e a forma como seus átomos se unem levam diferentes elementos químicos a se combinar e recombinar. Até que, trilhões e trilhões de encontros depois, surja um aminoácido – o tijolo básico dos organismos. Os demais atores codjuvantes do espetáculo vital são outros quatro tipos de átomos com grande afinidade para ligações duradouras: carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre – materiais abundantes em nosso planeta.

Bem, essa é a receita para a fabricação de seres biológicos: aqueles que retiram energia do meio para realizar reações químicas entre substâncias orgânicas e que se reproduzem. É por essa fórmula mágica que os cientistas procuram quando caçam organismos em outros mundos, em um safári de suspeitas e esperanças. Como o anúncio da Nasa, em 1996, de que fósseis de micróbios marcianos teriam sido descobertos num meteorito achado na Antártida, infelizmente até hoje não confirmado. Idem com as expectativas geradas pelas descobertas recentes a respeito do ambiente de certos corpos do Sistema Solar – como a lua Europa, de Júpiter –, que favoreceriam o desenvolvimento de microsseres. Nos dois casos, não dá para sonhar com organismos mais avançados do que primitivas bactérias.

Para imaginar seres extraterrestres, a ciência impõe limites. É natural que os estudiosos receiem esbarrar na linha que separa o conhecimento da ficção. Com raras e notáveis exceções, como o astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996), que especulou a sério sobre ETs no livro Cosmos, de 1980. A SUPER insistiu e praticamente intimou químicos, anatomistas, fisiologistas e astrônomos a responder à questão: qual a forma que os eventuais ETs deveriam ter para sobreviver em cada um dos planetas do Sistema Solar? E desenhou as figuras que você vai ver a seguir. “Vale lembrar que criaturas surgidas sob condições diferentes das terrestres podem – e devem – ter formas que o homem nem sequer identificaria como as de um ser biológico”, afirmou o anatomista Edson Liberti, da Universidade de São Paulo (USP).

“Estamos constantemente descobrindo novas fronteiras, cada vez mais amplas, para a existência de seres vivos aqui na Terra, e isso alarga a possibilidade de organismos se desenvolverem em outros mundos”, arrisca o paleontólogo Thomas Rich Fairchild, também da USP. Um exemplo são as bactérias que sobrevivem no escuro total a temperaturas de mais de 100 graus Celsius, à beira de bocas vulcânicas submarinas.

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“Imaginar como seriam os seres de outros planetas nos mostra o valor desse fenômeno bioquímico extraordinário chamado vida”, entusiasma-se o químico Atílio Vanin, da USP. Com o apoio cauteloso desses craques você pode deixar a fantasia rolar. A SUPER não teve a pretensão de brincar de Deus. A não ser, talvez, que Ele seja o que o físico Freeman Dyson define no livro Infinito em Todas as Direções, de 1985: “Deus é o que a mente se torna quando ultrapassa os limites da nossa compreensão”.

Mercúrio

Esse planeta, a apenas 58 milhões de quilômetros do Sol, tem o chão coberto de areia parecida com a de nossas praias. Ela é composta do elemento químico silício, como aqui. Alguns bioquímicos acreditam que o silício, sob certas condições, poderia formar cadeias moleculares semelhantes às de carbono, que constituem os organismos que conhecemos. Ainda assim, dois problemas dificultam o surgimento de ETs em Mercúrio. O primeiro é a variação da temperatura, que vai de 185 graus Celsius negativos à sombra a 470 graus positivos ao sol. O segundo é a falta de água corrente. Mas os astrônomos acham que as bordas eternamente sombreadas das crateras perto dos pólos podem esconder gelo. É nelas que imaginamos que moram nossos mercurianos.

Mercuriano de areia

Sombra e água fresca num mundo esturricado.

1. Para não ser frito pelo sol, o mercuriano teria de se esconder dentro das crateras dos pólos. Sem poder aproveitar a luz solar e sem atmosfera para respirar, disporia de pouquíssima energia. Por isso, deveria ser um organismo pequeno e simples. Nem pernas teria, pois mover-se seria impossível.

2. O ET absorveria a água do gelo e a areia do solo. Reações químicas dentro do organismo purificariam a areia até restar apenas o silício. Essa seria a matéria-prima da sua carapaça. Como esse elemento é mau condutor de calor, o animal-rocha disporia de um bom isolante térmico.

3. O mercuriano é uma única célula. Assim, a maneira mais prática de se reproduzir é por autodivisão. Como ele não tem órgão nenhum, seria difícil transferir material genético para um parceiro do sexo oposto, como se faz aqui na Terra.

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Vênus

O problema, aqui, ainda é o calor. A 108 milhões de quilômetros do Sol, Vênus recebe 2,5 vezes mais luz do que a Terra. Além disso, pesadas nuvens de gás carbônico abafam o planeta, produzindo um tipo de efeito estufa. A temperatura média é de 480 graus Celsius. A atmosfera é rica em dióxido de carbono, nitrogênio, oxigênio, água e enxofre. E o solo, em água, ácido fluorídrico, ácido clorídrico, dióxido de carbono e enxofre. Para um venusiano, esses compostos podem ser um lauto banquete.

Toupeira malcheirosa

Os compostos de enxofre tornariam o venusiano fedido.

1. As células do ET seriam construídas de nutrientes retirados do solo. Devido à grande concentração de enxofre, o bicho federia como bomba de São João ou ovo podre. O oxigênio respirado ajudaria a realizar reações químicas dentro do organismo. Com ele, as moléculas orgânicas seriam quebradas e remontadas, liberando calor.

2. A carapaça seria de queratina – a mesma proteína que forma as unhas humanas e o casco da targaruga. Ela protegeria o animal do calor extremo e serviria de barreira contra o ácido sulfúrico, corrosivo, da atmosfera.

3. Meio tatu meio toupeira, nosso venusiano passaria a maior parte do tempo enterrado. Como obtém água do subsolo, precisaria de garras para cavar. As unhas serviriam também para se agarrar à rocha e não ser arrastado pelos ventos fortes que sopram nesse mundo toda vez que saísse da toca.

Marte

Este planeta é um freezer. A 228 milhões de quilômetros do Sol, a temperatura média é de 60 graus Celsius negativos. Um organismo que tivesse a pretensão de sobreviver ali teria de possuir células resistentes ao frio. A atmosfera, muito rarefeita, é composta principalmente de gás carbônico. Existem também nitrogênio, argônio, oxigênio e um pouco de água. A gravidade é três vezes menor que a da Terra. Com algumas adaptações, um ser que morasse lá poderia até ser feliz.

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Cego em tempestade de areia

O marciano tem os olhos tapados por uma membrana.

1. O marciano precisaria de escamas para resistir às queimaduras provocadas pelo sereno de gelo seco das madrugadas. Uma cera sobre as escamas o protegeria dos raios ultravioleta que incidem sobre a superfície do planeta. Mais ou menos como as loções com filtro solar que usamos na praia. Assim, o bicho seria imune ao câncer de pele.

2. Para resistir ao frio, o líquido que circula por suas veias não poderia conter água, como o sangue dos terráqueos. Talvez álcool etílico, que congela a uma temperatura bem mais baixa, 114 graus Celsius negativos. Seria um marciano movido a álcool.

3. As loucas tempestades de areia do planeta exigiriam proteção para os olhos, como uma membrana. Isso dificultaria a visão. Quase cego, ele só enxergaria o vulto dos objetos.

4. Seria um herbívoro. Em Marte há gás carbônico na atmosfera e água no subsolo capazes de sustentar plantas, que captariam energia do Sol.

5. O modo mais eficiente de se mover num ambiente de baixa gravidade seria aos saltos. Para isso, nada como pernas longas.

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Saturno

A 1,4 bilhão de quilômetros do Sol, tem a superfície escondida debaixo de uma densa atmosfera rica em hidrogênio, hélio e compostos orgânicos. A temperatura média é de 180 graus Celsius negativos. O melhor lugar para morar seria o equador, onde há mais radiação solar. Mas ali os ventos são insuportáveis. Nós imaginamos dois tipos de saturnianos.

Júpiter

A 778 milhões de quilômetros do Sol, o chão de Júpiter fica abaixo de pesadas nuvens de compostos orgânicos, como metano, acetileno e amônia. Cerca de 100 quilômetros abaixo do topo da atmosfera, a temperatura é de 0 grau Celsius. Esse mundo gasoso não é tão inóspito como parece. Alguns astrônomos chegam a imaginar que os relâmpagos que caem na atmosfera jupiteriana podem estar criando aminoácidos, os tijolos básicos dos seres biológicos. O ET da SUPER é inspirado no jupiteriano desenhado por Carl Sagan.

Borboletas em evolução

Os saturnianos que migraram para a região do equador teriam se adaptado às novas condições.

1. Um dos grupos de saturnianos viveria perto dos pólos, onde os ventos são mais brandos. Suas grandes asas funcionariam como velas para propulsão pelas nuvens e, também, como captadores de energia solar.

2. A outra população teria se mudado para as nuvens do equador, atrás de mais energia. É que, ali, o sol bate direto. Mas os ventos atingem 1 800 quilômetros por hora. Então, o ser teve de passar por algumas transformações.

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3. As borboletas do equador teriam asas bem menores para não se rasgarem com os furacões da região. Reduzidas, elas perderiam a função de captar energia do Sol.

4. A nova espécie teria dentro do organismo bactérias que a ajudariam a fazer as reações químicas. Seria uma simbiose, em que o hospedeiro ajudaria o invasor e vice-versa.

Medusas esburacadas

O corpo na forma de balão ajudaria a flutuar.

1. Para viver na atmosfera, o corpo teria a forma de medusa. Seria oco. Os ventos entrariam pela abertura da parte inferior e inflariam o “balão”, impulsionando o ser numa viagem errante pelo ar.

2. Estes imensos poros funcionariam como bocas por onde o jupiteriano absorveria os gases nutritivos da atmosfera.

3. Os gases seriam distribuídos pelo organismo por meio de uma rede de canais semelhante ao sistema circulatório dos terráqueos. Lá dentro, as moléculas seriam quebradas e remontadas em novas substâncias para abastecer as células de energia e de matéria-prima.

4. Para controlar a velocidade do vôo, o jupiteriano contrairia o corpo como um fole. O movimento espremeria os canais internos, que devolveriam gases tóxicos ao ambiente – os excrementos do ET.

Urano

A 2,9 bilhões de quilômetros do Sol, recebe pouquíssima luz. Também é um planeta gasoso, com nuvens de hidrogênio, hélio e hidrocarbonetos, principalmente metano, escondendo a superfície. O planeta gira com os pólos voltados diretamente para o Sol. Isso faz com que, a cada oitenta anos, essas regiões mergulhem em um inverno escuro que dura duas décadas. Para vencer essa dificuldade, os uranianos teriam de aproveitar os fortes ventos da atmosfera de maneira criativa.

Fungos esvoaçantes

Livres de amarras, o uraniano viajaria pelo planeta todo.

1. Como a energia disponível é pouca, só organismos muito simples sobreviveriam. Uma colônia de fungos, por exemplo.

2. Os uranianos seriam empurrados por ventos que atingem 500 quilômetros por hora. Com sua forma achatada servindo de vela, viajariam por todo o planeta. Dependendo da época do ano, se mudariam dos pólos para o equador e vice-versa, atrás dos locais onde o sol bate mais forte.

3. Os ETs absorveriam os produtos orgânicos da atmosfera pela pele porosa. A luz solar provocaria reações fotoquímicas que rearranjariam as moléculas desses produtos em outras, liberando calor.

Netuno

A quase 5 bilhões de quilômetros do Sol, Netuno é o último planeta gasoso do Sistema Solar. Como chega ali pouquíssima energia solar, os netunianos poderiam ser fungos semelhantes aos de Urano. Devido ao frio, que pode chegar a 150 graus Celsius negativos, protegeriam as células com uma substância anticongelante. Ela circularia como sangue por seus vasos.

Plutão

Essa bola de terra e gelo não oferece nenhum atrativo para o surgimento de atividade biológica. O último planeta parece um núcleo de cometa que, em vez de mergulhar em direção ao centro do Sistema Solar, se equilibrou numa órbita estável, a quase 6 bilhões de quilômetros do Sol. A luz que chega até ele é 1 000 vezes mais fraca do que a que alcança a Terra. Não existe atmosfera e a temperatura média é de 200 graus Celsius negativos.

Plantados nas nuvens

Os netunianos estariam presos por hastes às camadas mais densas da atmosfera.

1. Sacudidos pelos ventos, os netunianos soltariam esporos (células reprodutoras) que se espalhariam em todas as direções. Germinariam nas camadas mais densas das nuvens, nutridos pelo material orgânico condensado ali.

2. Pelas hastes ocas, o ser absorveria nutrientes. Por ali circulariam também aminas – compostos de metano e amônia cujo ponto de congelamento é baixíssimo. Assim, os ETs não congelariam e suas hastes não se quebrariam.

É vida ou não é?

Da escuridão gelada brotaria uma criatura bizarra, meio bicho meio coisa.

1. O solo não parece abrigar nenhum organismo. Mas, e essas minúsculas estruturas cristalinas? Talvez sejam vírus congelados. O astrônomo Fred Hoyle acha que o núcleo dos cometas é carregado desses microrganismos. Como Plutão tem tudo para ser um cometa adormecido, poderia haver uma colônia latente por lá. Será que Hoyle está certo?

2. Mas espere aí! Vírus não é ser vivo. Ou é? Os cientistas não sabem ainda definir essa estranha criatura. Ela não come, não respira nem produz nada. É só um código genético envolvido em proteína. O plutoniano estaria apenas esperando um impulso de energia e uma célula para invadir e se replicar.

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