Namorados: Revista em casa a partir de 9,90

Um antepassado do cubo mágico

Características do quebra-cabeça de números.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 30 set 1990, 22h00

Luiz Dal Monte Neto

Há uma década o mundo foi tomado de assalto pelo cubo mágico, o diabólico quebra-cabeça inventado pelo arquiteto húngaro Erno Rubik. Quem viu aquela febre se lembra do fascínio magnético que ele exercia sobre as pessoas. Todavia, a febre durou pouco e, hoje, salvo em poucas publicações hiperespecializadas, o cubo está esquecido. Não morto. É certo que, mais dia, menos dia, ele voltará para contaminar nova legião de adeptos, pois tem qualidade de sobra para isso.O fenômeno não é novo no mundo dos quebra-cabeças, embora antes do cubo só se tenha notícia de um outro caso semelhante, quer na amplitude da epidemia, quer na rapidez do esquecimento. Trata-se do Boss Puzzle, ou The Puzzle of Fifteen, como foi chamado originalmente. Os franceses o batizaram de Taquin e, no Brasil, ele foi comercializado com o nome de Acerte os Números. Tudo começou na década de 1870, quando o americano Sam Loyd, inventor de um número enorme de quebra-cabeças geniais, fez publicar no suplemento dominical de um jornal nova-iorquino um problema-desafio com o prêmio de 1000 dólares para quem descobrisse a solução.

Como o editor se mostrasse desconfiado, Loyd teve de garantir o pagamento, de seu próprio bolso. Foi a loucura. Relatos da época dão conta de que muitos patrões tiveram de proibir o porte de quebra-cabeça nos recintos de trabalho, para impedir que seus funcionários brincassem com ele pelos cantos. Rapidamente, o vírus atravessou o Atlântico em algum navio de cruzeiro. Consta que na Alemanha os deputados chegaram a levá-lo às sessões do Parlamento. Em Paris, tornou-se comum promover torneios nos cafés, onde os fregueses se esqueciam dos compromissos, concentrados por horas a fio.

O Boss Puzzle consistia em uma caixinha quadrada com dezesseis partilhas, também quadradas. A 16ª era retirada, deixando-se um espaço vago, para o qual podia-se empurrar uma pastilha adjacente. Esta, por sua vez, deixava atrás de si outro espaço, para o qual se empurrava outra pastilha e assim por diante. Desse modo, era possível desarranjar a ordem indicada na figura 1, através do deslizamento sucessivos de pastilhas (não valia retirá-las da caixa). Bem, isso já era conhecido pelo menos desde outubro de 1865, quando a empresa Embossing Co. comercializou o The Puzzle of Fifteen – o primeiro puzzle de blocos deslizantes de que tenho notícia.
O que Sam Loyd propunha em se desafio público era chegar à configuração da figura 1, partindo da posição indicada na figura 2. Nesta, pode-se ver que há uma inversão entre as peças 14 e 15. O leitor pode desfrutar desse passatempo, improvisando peças em cartão. Para isso, recorte dois quadrados de 8 centímetro e lado. Divida o primeiro em dezesseis quadrados iguais, descarte um e escreva sobre os outros os números de 1 a 15. Ponha os quadradinhos sobre o segundo quadrado grande e mãos à obra.

Ninguém jamais ganhou o prêmio oferecido por Sam, ainda que muitas pessoas alegassem ter descoberto a solução casualmente, mas, sem tê-la anotado, diziam não saber reconstituí-la. Notória demonstração de orgulho ferido, já que o problema, simplesmente, não tem solução. Loyd sabia disso e, portanto, não hesitou em “arriscar” seu próprio dinheiro no prêmio. Não tardou muito para que começassem a investigar o comportamento matemático do passatempo. Descobriu-se que, entre os vários bilhões de combinações iniciais possíveis, exatamente 50% deles apresentam a possibilidade de chegar-se à posição da figura 1. Os outros 50% conduzem, na melhor das hipóteses, à posição da figura 2. E mais: a partir de qualquer posição do primeiro grupo é possível mover as peças de modo que se atinja qualquer outra posição do mesmo grupo. O mesmo é válido ente as combinações dos segundo grupo. O que não é possível é partir de uma combinação de um grupo e chegar a outra de outro grupo – exatamente o que Loyd propunha. Assim, se você partir de uma posição inicial aleatória, terá 50% de chance de poder chega à figura 1 e 50% de chegar à 2.

Continua após a publicidade

A demonstração matemática desse comportamento é algo complexa para o âmbito desta seção, mas há uma fórmula fácil para se saber de antemão se uma determinada posição poderá ser levada àquela da figura 1. Deixando o canto inferior direito vago, conte quantas transposições existem nela (dois quadrados formam uma transposição quando o maior antecede o menor). Se o número total de transposições for par, a combinação pertencerá à mesma classe da figura 1. Se for ímpar, pertencerá à figura 2.
Loyd também propôs outros problemas, dessa vez possíveis: a) partir da figura 2 e chegar à figura 3; b) partir da figura 2 e chegar à figura 4 (observe que esta última é semelhante à figura 1, só que com a caixa e os número deitados); c) partir da figura 2 e transformar a caixa num quadrado mágico, isto é, produzir uma combinação em que cada fileira, coluna ou diagonal maior tenha sempre a mesma soma (resposta na seção de soluções). O Boss Puzzle teve um ressurgimento no fim dos anos 40 e, de tempos em tempos, ainda é fabricado pelas indústrias de brinquedos. Quando acontecerá o mesmo com o cubo de Rubik?

 

Luiz Dal Monte Neto é arquiteto e designer de jogos e brinquedos.

Continua após a publicidade

 

 

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.