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Vai ser bom para você?

Iniciação sexual precoce, mulheres ultraliberadas, pornografia ao alcance de todos... No mundo contemporâneo, o sexo está virando uma coisa banal. Será que vai acabar perdendo a graça?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

Alexandre Petillo

A liberação sexual em curso no século 21 é única na história da humanidade. Pessoas de todas as idades e classes sociais têm acesso a uma quantidade cavalar de informações sobre o assunto – e à prática propriamente dita. Como reflexos dessa realidade, podemos perceber algumas importantes tendências, como a gradativa redução da idade para a iniciação sexual e a descoberta, pelas mulheres, de que o prazer pode ser desvinculado do compromisso afetivo.

“As mulheres têm buscado cada vez mais descobrir o prazer, ficaram mais exigentes e procuram uma prática com mais qualidade. Essa busca se espelhou, neste começo de século, nos homens, que eram o paradigma mais próximo. Elas começaram a fazer como eles, aumentando a prática sexual sem relação afetiva”, diz a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundadora do Projeto Sexualidade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “As mulheres descobriram que sexo é muito bom e que elas podem também aproveitar somente o momento. Que o cara que está ali com ela não precisa ser necessariamente seu namorado dali para a frente e aquele ato não existe somente para fins de reprodução”, diz Carmita.

Autora do livro O Descobrimento Sexual do Brasil (Summus, 2004), Carmita aponta a redução da idade de iniciação sexual como uma das principais revoluções dos próximos anos. “Aumentou muito o número de adolescentes que se iniciam rapidamente no sexo com outros adolescentes na mesma idade. Caiu aquela velha história de os homens começarem na vida sexual com prostitutas mais velhas”, afirma Carmita. “O fundamental, nesse caso, é que ambos tenham uma educação perfeita sobre o assunto, que saibam o que estão fazendo e suas conseqüências.”

Os jovens estão se expondo ao sexo cada vez mais cedo. O ato sexual, muitas vezes explícito, está ao alcance dos olhos de qualquer um por toda a parte: na internet, na TV, no cinema, nas revistas, nos outdoors espalhados pelas ruas. Com isso, o sexo está se banalizando. “A pornografia de hoje é muito mais vulgar do que era há 30 anos. Não existe senso de humor, não existe aquela transgressão de testar os limites da sociedade, porque atualmente não existem mais esses limites”, diz a jornalista americana Dian Hanson, autora da enciclopédia History of Men’s Magazine (Taschen Books, 2004).

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VULGARIZAÇÃO

Instrumento facilitador para quase todas as evoluções do mundo moderno, a internet está ajudando a vulgarizar o ato sexual. Sites de sexo explícito abundam em toda a rede, enquanto a onda de blogs e fotologs atiça a sanha tanto dos que gostam de observar como dos que adoram se exibir. A goiana Wilsiane dos Santos Araujo é dona de um fotolog que chega a ter 40 000 acessos semanais. Tudo porque Wil, como gosta de ser chamada, capricha em suas fotos sensuais. “Não coloco as fotos somente para me exibir. Me divirto muito sendo observada. Meu estilo é sexy. Gosto de decote, de saias curtas”, conta Wil.

Alguns desses fotologs mostram garotas adolescentes beijando e se relacionando com suas amigas. Dizem ser bissexuais, embora gostem mais de meninos. A psicóloga Cláudia Barrozo, do Núcleo de Psicodrama de Goiânia, diz que esse “fenômeno” pode ter sido despertado, principalmente, pela mídia. “A TV, por exemplo, dita as novidades, lança a idéia para que as pessoas discutam e, quando isso não acontece, elas apenas reproduzem aquele comportamento. O ponto principal é perguntar: existe um espaço de discussão nas famílias?”, questiona a psicologa.

Outra novidade para as próximas décadas, segundo a escritora americana Barbara Ehrenreich, autora do livro Nickel and Dimed (Owl Books, 2002), é o monossexualismo. Isso mesmo: pessoas que não querem se relacionar sexualmente com outras pessoas podem muito bem levar uma vida normal. Podem, inclusive, ter filhos sem fazer sexo, graças às novas técnicas de reprodução assistida. As mulheres já podem recorrer a um banco de sêmens e engravidar sem necessidade de se relacionar com homens. E os homens monossexuais poderão, no futuro, ter um banco de óvulos congelados à sua disposição – é verdade que, pelo menos por um bom tempo, eles ainda vão depender de uma “barriga de aluguel” para aumentar a prole.

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Mas onde vamos parar com tudo isso? Qual será a grande mudança no comportamento sexual na próxima década? “A grande revolução será no âmbito da aceitação. A sociedade vai aceitar melhor as diferenças, o sexo sem culpa, o prazer para homens e mulheres. Essa, sim, será a grande mudança”, diz a sexóloga Carmita Abdo. Já a jornalista Dian Hanson acha que, no final, tudo continuará na mesma. “O sexo no futuro será basicamente como é no presente e como foi no passado”, afirma. “A maioria sempre vai buscar o compromisso, o casamento, a monogamia. Existe uma coisa que não muda, apesar da tecnologia: o amor.”

Em resumo: para o alívio geral, aconteça o que acontecer nos próximos anos, parece que o sexo continuará sendo muito bom.

Tendências

• MULHERES

Seguindo o exemplo dos homens, as mulheres estão descobrindo cada vez mais que o sexo pode ser atividade prazerosa desvinculada da relação afetiva.

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• JOVENS

Cresce o número de adolescentes que se iniciam no sexo com pessoas da mesma idade, em vez de recorrerem à ajuda de pessoas mais velhas.

• VULGARIZAÇÃO

O sexo está cada vez mais facilmente disponível por toda a parte: na internet, na TV, no cinema, nas revistas, nos outdoors. Não há mais limites a ultrapassar.

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• MONOSSEXUALISMO

Quem não quiser se relacionar sexualmente com outras pessoas poderá levar uma vida normal, sem sentimento de culpa.

Viagem no Tempo

Variações sobre um velho tema

Pedro Doria

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Entre os anos 60 e 70 do século passado, a revolução sexual transgrediu costumes, deslocou pudores e desnudou alguma pele; nos anos 80 e 90, com o surto da aids, a revolução deu uma freada. Somos, de certa forma, mais caretas do que fomos. Há uma disputa corrente no mundo, entre conservadores e liberais. Em comum, estão todos descontentes com as coisas como estão. Uns vencerão nuns países, outros vencerão noutros. É bem possível que o cinema pornográfico atinja um ápice de consumo nos próximos anos e entre em lento declínio. Expôs o sexo como nunca dantes, mas continuará incapaz de contar uma história. Aos poucos, assim como a nudez abriu espaço no cinemão, também virá o sexo explícito. Aqui e ali, no cinema independente, ele já dá suas caras. Em dez anos, uma grande estrela de Hollywood vai fazer uma cena de sexo à vera.

De país em país, a partir da Europa, o casamento entre homossexuais será institucionalizado. Começa já, já. Alguns lugares demorarão bem mais para legalizar a prática. Mas numa ou duas décadas serão como países onde mulheres não votam. Arcaicos, medievais. Virão novos fetiches, novos químicos que resolverão problemas vários e estimularão um quê, o aperfeiçoamento das técnicas de mudança de sexo, o aborto será legal nuns cantos, em outros não; a aids fatalmente terá sua cura. Mas, no fim, todas as novidades parecerão já previstas e nenhuma mudança espantará, de fato, uma velha prostituta francesa. Para quem já viu de tudo, o novo permanecerá uma variante sobre o mesmo (velho) tema.

Pedro Doria é jornalista, escreve para o site No Mínimo (www.nominimo.com.br) e na Folha de S. Paulo

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