Vende-se peixe
O Brasil tem soberania sobre 8,5 milhões de km² de oceano Atlântico e pescar é a atividade principal de milhares de brasileiros. Cada um, a sua maneira, busca no mar o caminho para a sobrevivência
Com textos de Mariana Lacerda e Patrícia Cornils
Nobreza do oceano
Os atuneiros capturam uma das espécies mais valiosas do mar. Partindo de entrepostos no sul do país, pescadores passam nove meses por ano longe de casa, em um mundo regido pelo balanço do mar. Os atuns devem ser mortos em seus braços, para não se debaterem no chão e amassar em a carne, que, machucada, perde muito do seu valor de mercado. Assim, o convés de um atuneiro vive molhado de água e sangue
Bandos de peixes
A traineira pode voltar de viagem carregando até 100 toneladas de peixes. Uma rede de um quilômetro de extensão é usada para cercar e retirar do mar cardumes inteiros de palombetas (foto), anchovas, tainhas e sardinhas. O barco toca a terra apenas a cada cinco ou seis dias, para despejar num entreposto o pescado que escoa da cidade de Itajaí (SC) para o resto do país
Com as mãos
Produto de exportação, a lagosta tornou-se rara nos nossos mares. Desafiando a natureza – e a lei, já que a pesca com compressor é proibida no Brasil – pescadores da cidade de Caiçara do Norte (RN) alcançam o fundo do oceano respirando por mangueiras de ar. A ilusão da riqueza ao alcance das mãos se mostra perversa. Alguns perdem a visão, a audição e o movimento das pernas. Outros perdem a vida por causa de doenças descompressivas – causadas por erros em mergulho de profundidade
Mar de dentro
Todo mês de maio é igual. Com a chegada da temporada da tainha, os caiçaras de Cananéia, em São Paulo, fazem cercos de taquara para esperar os peixes. As tainhas começam sua viagem na Lagoa dos Patos (RS) e seguem até o litoral do Rio de Janeiro. Em Cananéia, são capturadas nos currais e recolhidas diariamente. “Mar de dentro” é como os caiçaras chamam o estuário, lugar de água calma onde o rio se mistura ao oceano e onde montam manualmente os cercos
Pela tradição
Na Prainha do Canto Verde, mantém-se viva uma das mais tradicionais artes de pesca do Brasil: as jangadas, que a cada nascer do sol ganham o mar do litoral do Ceará. Donos de uma sabedoria transmitida de pai para filho, os jangadeiros utilizam-se dos sinais das estrelas e dos ventos para se localizarem no meio da imensidão do mar. Organizar a pesca sustentável na comunidade foi o meio encontrado para garantir a permanência de seu trabalho. Eles deixam de pescar em certas áreas durante um ano para ter da onde tirar o alimento na temporada seguinte