A história real por trás de “A Forca”
Saiba mais sobre o filme que pode entrar para a história do terror na telona
É difícil fazer um bom filme de terror. Imagine só o desafio: você precisa de um roteiro inteligente, não muito óbvio, com personagens cativantes, boas sequências de ação e susto, e um bocado de grana para bancar tudo isso. De uns tempos pra cá, a parte do dinheiro, pelo menos, ficou mais fácil. É que esse filme ajudou a popularizar um subgênero do terror conhecido como found footage, algo como “filmagens encontradas” em português. São aqueles filmes gravados em tempo real, com câmeras caseiras, como se fossem filmagens amadoras, mesmo. Mesmo com efeitos visuais e firulas técnicas, filmes assim costumam ficar mais baratos. A bruxa de Blair, de 1999, talvez seja o exemplo mais conhecido do estilo. Ele custou 600 mil dólares e faturou quase 250 milhões.
Atividade Paranormal, de 2007, custou bem menos: apenas 15 mil dólares. Não é de se admirar que, desde sua estreia, Hollywood já lançou mais de 100 filmes na pegada found footage (entre 1980 e 2007, a Wikipédia contabiliza apenas 26 lançamentos do gênero). Mas, por mais que você curta levar uns sustos, acredite em mim: a maior parte desses 100 filmes é ruim. Os estúdios ficam tão empolgados com a chance de economizar em equipamentos que acabam cortando a grana no departamento de roteiro também. Mas, de vez em quando, aparecem filmes que merecem mais a nossa atenção. REC (2007), Cloverfiled (2008), Projeto X (2012) estão aí para provar. Pelo pouco que já soubemos, A Forca, parece seguir pelo mesmo caminho.
Sim, galera, todo esse prelúdio foi para dizer que vocês deviam ficar atentos ao lançamento de A Forca, que acontece em algumas semanas aqui no Brasil. Precisam de mais um motivo? Vejam só:
A Forca se passa numa escola norte-americana marcada por uma tragédia: em 1993, um aluno chamado Charlie Grimille morreu durante a encenação de uma peça de teatro. Duas décadas depois, a escola quer reencenar a peça, apesar dos rumores de que o espírito de Charlie ainda ronda a escola. Dá tudo errado e alguns alunos começam a morrer, como a menina da cena que você viu. O trecho liberado com exclusividade pela Warner já dá a dica de que o filme é bem mais do que a genial ação de marketing que o promoveu. O susto é legítimo e o suspense não depende de uma trilha tensa para acontecer. Ainda não dá para conhecer muito bem a trama. Mas temos motivos para acreditar que A Forca acertou na contratação de atores desconhecidos, assim como em A bruxa de Blair. Aliás, as semelhanças com o pioneiro do terror found footage são muitas.
Fatos reais
A história real de A Forca começou com uma ideia da dupla Travis Cluff e Chris Lofing, que se conheceu durante a gravação de um curta na Califórnia. Como acontece frequentemente com estudantes de cinema, os dois queriam fazer um grande projeto com um orçamento pequeno – e o found footage pareceu a saída mais óbvia. Com a ideia na cabeça, a dupla criou um trailer promocional para atrair patrocinadores. Deu certo. O projeto chamou atenção de empresas de entretenimento grandes, como a Blumhouse, que financiou Atividade Paranormal. Em pouco tempo, Cluff e Lofing estavam de contrato assinado com a New Line Cinema, a mesma companhia por trás de clássicos do terror como A hora do pesadelo e O massacre da serra-elétrica. Mas o que A Forca tem que outros tantos filmes found footage não têm?
As filmagens de A bruxa de Blair duraram apenas 8 dias. Se você tiver boa memória, se lembrará que o filme foi filmado todo em locação – ou seja, não havia set montado. O filme conta a história de três jovens que faziam um documentário sobre a personagem-título nos arredores de uma cidadezinha de Maryland, nos EUA. Os moradores da cidade, que dão depoimentos sobre a história da tal bruxa, não eram atores profissionais, e o que eles diziam também era surpresa para o trio de atores principais. Tudo foi feito na base do improviso, para garantir reações genuínas dos protagonistas. Até mesmo detalhes do roteiro, como hora e lugar de filmagem, eram dadas pela equipe de direção ao longo do processo. Em A Forca, o improviso também foi essencial.
Durante a gravação da cena em que Charlie morre enforcado – fato que serve de mote para toda a história – Travis Cluff e Chris Lofing deram um jeito de enganar os figurantes e surpreendê-los, matando o personagem antes da hora combinada no roteiro. Os gritos e expressões de surpresa que aparecem na versão finalizada do filme são reais: a maior parte das pessoas do set realmente não sabia que Charlie morreria daquele jeito, naquela hora. Isso inclui o ator que interpreta Charlie.
Para preservar o realismo – sim, é possível ser realista em uma obra que trata de mistérios paranormais, como espíritos e maldições -, até mesmo o nome real dos atores foi usado para batizar os personagens. Exatamente como A bruxa de Blair. Efeitos sonoros “naturais” do set, como o ruído do ar condicionado, também pegaram a equipe de surpresa. E, é claro, todos esses elementos entraram na versão final. A equipe do filme garante, inclusive, que “fenômenos estranhos” aconteceram durante a filmagem, como barulho de corrente em lugares vazios do set.
A Forca tem potencial para virar hit. A fórmula é perfeita: imagens tremidas de câmeras de celular, como as que estamos acostumados a ver todo dia, drama adolescente, maldição paranormal com alto poder de viralização, e um nome simples e forte. Talvez seja complicado atingir o mesmo sucesso de bilheteria de A bruxa de Blair ou Atividade Paranormal. Mas diretores de filme de terror não costumam ter medo de desafios.
O filme estreia no dia 23 de julho. Não perca.