Cate Blanchett em 12 telas e 13 personagens
Atriz dá vida a mais de dez personas diferentes em instalação artística do diretor Julian Rosefeldt
Não é preciso conhecer a fundo a extensa filmografia de Cate Blanchett para saber que ela é uma atriz extremamente versátil. A australiana, que tem duas estatuetas do Oscar – de melhor atriz coadjuvante por O Aviador (2004) e de melhor atriz por Blue Jasmine (2014) -, já deu vida a personagens tão distintas quanto a Rainha Elizabeth I da Inglaterra; a Senhora de Lórien, a elfa Galadriel; a atriz mais premiada pela Academia, Katharine Hepburn; e a uma das encarnações do músico Bob Dylan. Mas seu novo projeto é possivelmente aquele em que a artista terá mais oportunidades de mostrar sua polivalência. Em Manifesto, instalação artística do realizador alemão Julian Rosefeldt, Cate interpreta mais de dez personagens diferentes.
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O trabalho está em exibição, até o dia 8 de janeiro, no Park Avenue Armory, instituição cultural sem fins lucrativos que fica em Nova York. No espaço, estão instaladas 12 telas de cinema gigantes que exibem simultaneamente vídeos de 10 minutos e meio em que a artista dá vida a 13 diferentes personas – incluindo uma professora, a CEO de uma grande empresa, uma ventríloqua com uma boneca de si mesma (que faz reflexões sobre o surrealismo), uma viúva da Máfia, uma pessoa em situação de rua e uma âncora de notícias que entrevista uma repórter do tempo (também interpretada por Blanchett). Todas elas fazem, nas cenas, algum tipo de manifesto artístico – daí o nome, pegou?
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Ao todo, as cenas reúnem mais de 50 textos-manifestos de artistas, arquitetos, coreógrafos e cineastas em pontos iniciais de sua carreira que destacam movimentos artísticos específicos ou escolas de pensamento. A colagem de declarações artísticas do século passado, reinterpretadas nas telas como monólogos poéticos, busca “provocar questões atemporais sobre os contextos sociais, políticos e de gênero que moldam o papel do artista na sociedade”, segundo o site oficial.
“Queríamos criar um cenário que desse liberdade aos manifestos, mas que também tornasse alguns deles conversacionais. Você está falando textos intensos e densos de investigação intelectual, mas levando-os para os cenários domésticos, de forma que esteja jogando contra algumas dessas ideias”, explicou Blanchett em entrevista à Vulture. “Julian tem um tino tão incrível que você esquece a densidade do manifesto e, de repente, percebe que está ouvindo tratados bastante dogmáticos sobre o que a arte pode ser, o que a cultura deve ser e o que é a humanidade. A gente não vê mais [textos como esses]”, afirma.
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Para dar vida à instalação, o diretor e a atriz – que se conheceram informalmente através de um amigo em comum e prometeram desenvolver juntos um projeto – contaram com pouquíssima verba e tempo nenhum para ensaios, o que deixou Cate livre para dar vida às personas. As únicas orientações de Rosefeldt durante as duas semanas de gravação, realizadas dois anos atrás, diziam respeito a pequenos direcionamentos sobre sotaques e entonações, em uma tentativa de apresentar uma pluralidade de vozes nas telas – treze personalidades diferentes que a atriz não vê como personagens no sentido convencional.
“Pensei nelas como arquétipos ou silhuetas. Não havia psicologia atrás delas. Há um artifício. […] Não é algo que acontece no cinema com frequência, mas acontece no palco bastante. A ressonância provocada por um mesmo corpo que habita diferentes personagens é realmente poderosa”, afirma a atriz.