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Com WandaVision, Marvel dá início ao plano de dominar, de vez, o streaming

Conversamos com a roteirista Jac Schaeffer e o diretor Matt Shakman sobre a nova série, que estreia em 15 de janeiro. Confira.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 22 jan 2021, 16h36 - Publicado em 11 jan 2021, 10h59

No longínquo ano de 2012, quem saísse extasiado da sessão de Vingadores tinha que ser paciente. Afinal, o próximo filme da Marvel, Homem de Ferro 3, só chegaria aos cinemas no ano seguinte, e sequer havia uma data para um futuro reencontro dos heróis.

As coisas mudaram em 2013, quando o estúdio, que pertence à Disney, tornou o seu plano de expansão ainda mais claro. A partir dali, o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, em inglês) começou a ganhar dois filmes por ano – de 2017 a 2019, três.

Foi em 2013 também que surgiram as séries de TV do MCU. A rede americana ABC saiu na frente com Agents of S.H.I.E.L.D. (2013-) e, na sequência, Agente Carter (2015-2016). Já a Netflix anunciou que estava desenvolvendo produções sobre os heróis urbanos da Marvel, como Luke Cage e Jessica Jones. A primeira a estrear foi Demolidor (2015-2018) e, tal qual os Vingadores no cinema, todos esses personagens se encontrariam em uma única minissérie, Os Defensores (2017).

Para os fãs, foi um prato cheio. Além de explorar novos personagens, as séries alimentariam o vício entre um filme e outro. O problema é que, por serem produzidas por várias plataformas diferentes, essas produções não passam pelo mesmo crivo dos longas do cinema – a qualidade delas, então, torna-se inconstante. Em alguns casos, como Punho de Ferro Os Inumanos, a coisa era bem ruim mesmo.

Há exceções, claro. Contudo, todas elas possuíam algo em comum: elas funcionavam à margem do cinema. Salvo referências e participações especiais, como Nick Fury (Samuel L. Jackson) em Agents of S.H.I.E.L.D., as séries não repercutiam nos filmes. O que acontecia na TV, ficava na TV. Mas isso está prestes a mudar.

No próximo dia 15, estreia WandaVision, a primeira aposta da Marvel no Disney+. Em seis episódios, a série, que se passa após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019), vai explorar o casal Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a Feiticeira Escarlate, e o androide Visão (Paul Bettany) tentando levar uma vida normal no subúrbio.

A partir daí, a Marvel dará início a uma nova fase. Nos próximos anos, estão previstas diversas séries para o streaming. Com elenco (e orçamento) de cinema, elas passarão a ter tanta importância quanto os longa-metragens – e vão impactá-los diretamente.

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Em dezembro, a Super bateu um papo com duas das mentes por trás de WandaVision: a roteirista Jac Schaeffer e o diretor Matt Shakman. Eles falaram sobre o início do projeto, a relação da série com o restante do MCU e as dificuldades em filmar durante a pandemia. Abaixo, você confere os principais pontos da conversa.

Como viemos parar aqui?

Quando jovem, Jac era uma grande fã de obras distópicas e de ficção científica – sua personagem favorita é a Ripley, de Alien – O 8º Passageiro (1979). Mas apesar de ser uma nerd fervorosa, ela teve pouco contato com super-heróis e histórias em quadrinhos.

Matt, por outro lado, era fissurado nos gibis dos X-Men, Quarteto Fantástico e, sobretudo, Homem-Aranha. “Eu sempre usava a fantasia dele para ir à escola, às vezes com máscara e tudo”, disse. “Mas aí me proibiram de fazer isso.”

O interesse por personagens femininas fortes fez com que Jac se envolvesse com a produção de Capitã Marvel (2019), o primeiro filme do MCU protagonizado por uma heroína. Mas foi durante o desenvolvimento do roteiro de Viúva Negra, que estava previsto para estrear em 2020, que Jac ouviu rumores sobre WandaVision. “A primeira reunião sobre o projeto rolou no começo de 2018. Foi quando demonstrei interesse em mergulhar de cabeça para tentar contar essa história”, lembra.

Já Matt entrou um pouco mais tarde nessa história, em maio de 2019. “Até então, eu vivia batendo na porta da Marvel, pois sempre quis trabalhar com eles”, conta. Para a série, a Marvel precisava de um diretor com experiência em ação e comédia. Matt, por sorte, atendia a esses requisitos, já que comandara episódios de produções como Mad MenGame of Thrones e a sitcom It’s Always Sunny in Philadelphia. 

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Pegou a referência?

Wanda e Visão em uma cena em preto e branco, vestidos de noivos.
(Marvel Studios/Reprodução)

Se você está com uma pulga atrás da orelha com a participação de Visão (afinal, ele morreu em Vingadores: Guerra Infinita), saiba que WandaVision irá explorar o conceito de multiverso, apresentado em Ultimato, e, provavelmente, explorar a gama de poderes da Feiticeira Escarlate: para além de suas habilidades como telecinese e manipulação mental, ela consegue (ao menos nos quadrinhos) alterar probabilidades e a própria realidade.

“É mais desafiador escrever para personagens superpoderosas que podem, basicamente, fazer tudo o que quiserem”, conta Jac, que chegou a trabalhar ao mesmo tempo nas histórias de Capitã Marvel e Viúva Negra – que, tratando-se de poderes, são completamente opostas. “Mas eu me concentro em mostrar quem elas são, e o que as tornam heroínas para além de seus dons.”

É por isso, então, que WandaVision, explorará um lado intimista do relacionamento do casal – formado uma mutante e um androide que, ironicamente, buscam uma vida mundana. E tanto o multiverso quanto as habilidades de Wanda permitem o uso de uma linguagem ainda inexplorada pela Marvel: as sitcoms.

Logo de início, a série prestará uma homenagem às clássicas comédias de TV dos anos 1950 e 1960. O primeiro episódio, por exemplo, será em preto e branco, e as gravações contaram com plateia ao vivo. Dentre as inspirações estão programas que ficaram populares no Brasil, como A Feiticeira e Jeannie é um Gênio, e outros menos famosos por aqui, como I Love Lucy e The Dick Van Dyke Show. Mas os criadores garantem que não é preciso conhecê-las de antemão.

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“Acho que a paixão pelo mundo da TV antiga é algo universal, mesmo que os programas não sejam os mesmos”, opina Matt. “Os easter eggs de WandaVision serão mais sobre o próprio MCU do que sobre essas séries”, diz Jac.

Avançando no tempo, haverá referências a sitcoms dos anos 1980 e 1990 –  muitos esperam alguma piada com o fato de Elizabeth Olsen ser a irmã mais nova das gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen, estrelas de uma das comédias-símbolo dessa época, Três é Demais. Outra fonte de inspiração são séries mais modernas e que simulam documentários, como The Office Modern Family, onde os personagens falam diretamente para as câmeras. “Um dos maiores desafios de WandaVision foi, justamente, manter a coesão dos episódios com toda essa variedade de estilos”, lembra Matt.

Vilão inesperado

Wanda e Visão com seus trajes clássicos.
(Marvel Studios/Reprodução)

WandaVision foi mais uma produções audiovisuais afetada pela Covid-19. Além de ter sua estreia adiada (de dezembro para janeiro), a confusão no calendário da Marvel fez com que a série se tornasse a primeira dessa nova fase do MCU a ser lançada. Baita responsabilidade.

Mas apesar do novo cronograma, a série não precisou passar por grandes alterações. As cenas com plateia, por exemplo já haviam sido gravadas – com os novos protocolos de segurança, isso seria impossível. “Usamos o tempo extra para afinar algumas partes do roteiro, especialmente a conclusão, mas, por sorte, não tivemos que cortar nada”, disse Jac.

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Sobre gravar durante a pandemia, a criadora contou que os protocolos foram seguidos à risca, e ninguém ficou doente. “Todos os atores e equipe de produção embarcaram no espírito da série e mantiveram o bom humor, mesmo quando estavam pendurados por cabos em um teto repleto de tela verde”, lembra Matt. “Deus, arruinei a minha vida! Eu deveria estar fazendo sitcoms desde o começo”, disse Paul Bettany à revista Entertainment Weekly.

Especulações sobre o futuro

Wanda e Visão atuando juntos.
(Marvel Studios/Reprodução)

O diretor brasileiro Glauber Rocha e seus colegas do movimento Cinema Novo defendiam que, para se fazer cinema, bastava “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Dentro da Marvel, as coisas são um pouco mais complicadas, porque a ideia nova não pode ter problemas de continuidade com as outras dezenas de produções do MCU.

Às vezes, você não pode usar determinado personagem, e é preciso tomar cuidado para que um detalhe na sua história não vá afetar outras em desenvolvimento. “Mesmo assim, é algo desafiador, no bom sentido, fazer parte desse organismo em que as coisas reverberam.” Tanto ela quanto Matt e Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, disseram (sem revelar detalhes) que WandaVision possui um gancho direto para o segundo filme do Doutor Estranho, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, no qual Olsen já tem participação confirmada – o que só reforça a importância que as novas séries terão daqui para a frente.

WandaVision também irá explorar o universo de Capitã Marvel. Uma das personagens da série é Monica Rambeau, que, no filme de 2019, era apenas uma garotinha (filha de Maria Rambeau, a melhor amiga de Carol Danvers). Agora, ela retorna ao MCU, já adulta. Nos quadrinhos, Monica também é uma super-heroína, e assumiu codinomes como Pulsar, Fóton e, inclusive, Capitã Marvel. Matt e Jac, porém, não puderam dizer nada sobre ela.

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Outro mistério da série gira em torno dos filhos de Wanda e Visão, já que a Feiticeira Escarlate aparece grávida em um dos trailers. Nas HQs, Wiccano e Célere são membros dos Novos Vingadores, o grupo de heróis adolescentes que muitos fãs especulam que a Marvel reunirá nas telonas (ou telinhas) nos próximos anos. É esperar para ver.

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