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Como é o passo a passo para se fazer uma animação?

"Rigging", "animatic", "storyboard"... A Super visitou o estúdio da diretora de "Zuzubalândia O Filme" para entender como um longa animado toma forma. Confira.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 18 set 2024, 17h17 - Publicado em 18 set 2024, 14h00

Uma porção de mesas de desenho ocupa boa parte de um simpático sobrado de Pinheiros, localizado numa das poucas ruas sossegadas que restaram no bairro paulistano. Há versões de todos os tipos e tamanhos, tanto para ilustrações digitais quanto para quem deseja rabiscar à mão.

Estamos no estúdio de Mariana Caltabiano, escritora e diretora de animação que, recentemente, lançou Zuzubalândia O Filme, em cartaz nos cinemas da rede Cinemark. Trata-se de uma história em longa-metragem da abelhinha Zuzu, criada por Caltabiano no final dos anos 1990.

Além das mesas de desenho, a casa está repleta de recordações de outros filmes e projetos de Mariana. Vários desses talvez tenham marcado sua infância, como A Turma da Garrafinha, Zuzubalândia (que passou pela primeira vez no SBT) e As Aventuras de Gui & Estopa, uma das primeiras animações brasileiras a passar no Cartoon Network.

Fazer uma animação, claro, é diferente de fazer um filme com pessoas em carne e osso e câmeras filmando. Mas talvez poucos realmente entendam o quão diferente (e trabalhoso) pode ser. Foi para entender esses bastidores que a Super bateu um papo com Mariana e com o ator de voz e desenhista Eduardo Jardim. A seguir, eles dão detalhes sobre o dia a dia desse tipo de trabalho.

Quando tudo era mato

O primeiro desenho animado no qual Mariana e Eduardo trabalharam juntos, Gui & Estopa, de 2008, era produzido de um jeito muito diferente de como eles fazem hoje. Toda a arte acontecia no papel, à mão. 

Still de divulgação do filme
(Mariana Caltabiano Criações/Divulgação)
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“Cada desenho era escaneado, vetorizado [ou seja, transformado em um elemento que pode ser manipulado no computador] e a gente usava o Flash [software que transformava as ilustrações vetorizadas em animações de fato]”, diz Mariana.

Atualmente, eles usam outro programa para dar vida aos desenhos, o Toon Boom. Essas ilustrações também já saíram do papel e são feitas direto em mesas digitalizadoras. Nelas, o desenho já sai vetorizado. Tirando essas diferenças tecnológicas, o processo de um filme animado continua praticamente igual. E tudo começa com uma boa ideia.

Passo a passo

A primeira etapa é transformar sua ideia em um roteiro. A história é narrada, algumas ideias de como desenhar são dadas e as personagens são descritas. Essa é a base para como os ilustradores vão fazer o trabalho deles no design de personagens, que é o segundo passo do processo.

Depois que já se sabe como cada uma das personagens vai ser, com roupas e expressões, é a hora de fazer o model sheet. Alguém desenha os heróis e vilões de todos os ângulos. Os animadores precisam saber como são as personagens de costas e de lado porque é preciso manter uniformidade no filme. “Cada animador precisa desenhar igual ao modelo, saber adaptar o traço”, explica Mariana.

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Enquanto o design de personagens e o model sheet estão sendo feitos, o roteiro já foi enviado para um estúdio de voz, onde será gravado pelos atores. O áudio vem antes da animação, já que os animadores precisam desenhar de acordo com a interpretação na gravação de voz. Os movimentos, as expressões e o ritmo do abre e fecha da boca precisam bater com o que o ator está fazendo.

Isso não é dublagem, e sim atuação de voz. “A atuação é quebrada em dois pedaços”, diz Mariana: quando as vozes estão sendo gravadas e quando os animadores estão decidindo como o desenho vai se comportar. A dublagem pode aparecer lá nos toques finais, quando o diretor achar que uma mudança na interpretação ficaria melhor, já olhando para o produto final da animação.

O próximo passo, um dos mais essenciais, é fazer o storyboard. Como essa história do roteiro vai ser contada visualmente? É preciso desenhar para explicar. A equipe de arte faz uma versão do filme como se fosse uma história em quadrinhos, mostrando como vai ser cada cena, como as personagens vão ser enquadradas e indicando quais vão ser os movimentos necessários.

Vale dizer que o storyboard também é uma etapa da produção em live action. Transformar o roteiro em desenho ajuda a entender a composição da cena e os ângulos de câmera.

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No caso das animações, esse storyboard vira um animatic, que é um primeiro esboço de como os desenhos vão ficar animados, ainda sem cores ou cenário. Aqui, “dá para ver se o filme está fazendo sentido”, de acordo com Mariana. A trilha sonora já entra nesse passo, dando dinamismo para as imagens em movimento.

Aqui, também é a hora de fazer o rigging. É o momento de “desmembrar” os personagens com a ajuda de um software que torna mais prático animar cada parte do corpo deles (olhos, braços, pernas) de forma independente. É como se os desenhos passassem a ter ossos e articulações. 

Still de divulgação do filme
(Mariana Caltabiano Criações/Divulgação)

Esses esqueletos, junto de bibliotecas de ilustrações diferentes de bocas e mãos, são colocados em cima dos cenários e a animação começa a tomar forma. O padrão é que cada segundo do filme possua 24 quadros (os frames). Esse volume de imagens, exibidas em sequência, transmite a ideia de movimento. 

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Nesse ponto do processo, tudo começa a ser colorido. Um profissional específico desenha só os props, objetos que se destacam do cenário e são usados pelas personagens. Todas as cenas estão sendo animadas simultaneamente, sob a supervisão da diretora-geral e do diretor de animação.

Para uma animação como Zuzubalândia O Filme, foi preciso uma equipe de 50 pessoas, mas nem todos estavam diretamente envolvidos no processo de animação. Para o último filme do Studio Ghibli, O Menino e a Garça, 60 animadores desenharam tudo à mão. Eles levavam um mês inteiro para animar um minuto de filme (que, no total, tem 2h4min de duração).

“Os desenhos de uma criança podem um dia inspirar um filme”, disse Mariana, contando que a ideia para Zuzubalândia nasceu de suas brincadeiras quando tinha nove anos e queria morar num mundo feito de doces. Todo o processo complexo pode ser resumido a isso: animar é dar vida e movimento aos desenhos de alguém. Um dia podem ser os seus.

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