Conversamos com James Robinson, o quadrinista que criou o Lanterna Verde gay
O autor responsável pela versão homossexual do Lanterna Verde vem ao Brasil para a Comic Con, mas antes conversou com a SUPER sobre representatividade nos quadrinhos, e a relação dele com nosso país
Em 2012 a DC Comics resolveu começar seu universo do zero. É uma atitude não tão incomum. Depois de anos publicando quadrinhos que contam uma mesma história, começam as chegar as edições número 100, 150, 200. O leitor que assistiu um filme de herói no cinema, e ficou com vontade de conhecer mais sobre o personagem nos quadrinhos, chega na banca, dá de cara com o númerão e desiste. Os autores aproveitam esse tipo de situação para mudar alguns detalhes nos personagens originais. Pode ser um comportamento um pouco mais (ou menos) otimista, uma alteração na origem do herói, ou uma idade um pouco diferente. James Robinson, que tinha sido convocado para escrever o recomeço do Lanterna Verde, e não fez diferente. E deu um passo ousado: resolveu alterar a sexualidade do herói. Alan Scott, um dos Lanternas agora era gay. Mais do que isso, o anel que lhe dá poderes era nada menos que o anel do noivado com seu então namorado, um chinês chamado Sam.
Causou um reboliço. Vários comentários homofóbicos atacaram o perfil de Robinson no Twitter – a maioria deles vinha do Brasil. Mas a história se manteve. Não foi a primeira vez que ele falou sobre minorias nos quadrinhos. Sua obra é repleta de personagens que combatem a misoginia e a homofobia. Trabalhando nas principais editoras do mundo, como a Marvel, a DC e a Image (só não peça para ele comparar os empregos, o autor não comenta as diferenças entre as empresas).
Agora, em dezembro deste ano, o inglês vem para São Paulo participar da Comic Con Experience, mas antes de aterrissar por aqui, bateu um papo com a SUPER sobre representatividade nos quadrinhos e sua relação com o Brasil.
SUPER: Você é o responsável pela versão homossexual do Lanterna Verde Alan Scott. Você também roteirizou um beijo homoafetivo na HQ do Starman, lá em 1998. Na sua opinião, quão importante é a representatividade LGBT nos quadrinhos?
James Robinson: Eu acho que é importante representar a vida em todas as suas incríveis formas. A comunidade LGBT faz parte do nosso mundo – uma parte fantástica, eu devo dizer – então é desonesto escrever e não se esforçar para incorporar personagens LGBT nas histórias de hoje. Importante dizer que eu cresci em Londres, em uma região artística, então eu fui apresentado à comunidade gay e fiz amizades nela quando era relativamente jovem. Isso talvez interfira na maneira como eu penso.
A ideia de fazer o Alan gay veio do seguinte fato: nos Novos 52 [grupo de histórias da DC em que se passa a trama desse Lanterna Verde em questão] o Manto Negro [personagem homossexual, filho de Alan Scott] não existia mais. Não havia gays o suficiente nos quadrinhos, então perder um importante como o filho do Alan parecia errado pra mim. Por isso que eu resolvi fazer Alan ser gay e assumir que em todos os outros aspectos ele continuava sendo aquele cara que pega as responsabilidades para si, com a personalidade nota 10 que ele tinha na sua versão original. Ser gay não era sua característica principal. Era só uma parte de um homem como todo.
SUPER: O Brasil é um país altamente homofóbico. Quando anunciaram a sua versão do Alan, você até chegou a dizer que as reações daqui foram tão absurdas que você faria um namorado brasileiro para o Lanterna, só de birra. Essa situação toda mudou sua visão sobre o país?
JR: Foi um pouco surpreendente a quantidade de brasileiros no Twitter que expressaram sua raiva e desprezo por eu ter tornado Alan Scott gay, mas não eram tantas assim, e eu com certeza não achei que isso era um reflexo do Brasil. Quando tuitei falando que iria dar ao Alan um namorado brasileiro, foi meio que uma brincadeira minha. De qualquer forma, eu recebi uma enxurrada de pessoas do Brasil pedindo para que, de fato, isso acontecesse, então eu pensei “por que não?”. Não foi exatamente uma vingança. Não sou tão birrento assim.
Eu até comecei a uma história que mostra o Comandante Gládio no Brasil. Os eventos que acontecem ali [o herói quase morre em uma emboscada no Rio] teriam levado Alan para lá e, finalmente, o colocado nos braços de sua próxima paixão, depois da morte de seu amor.
SUPER: Em Leave it to Chance você fala sobre misoginia. Você acha que mulheres estão tendo mais espaço nos quadrinhos?
JR: Eu definitivamente acho que as coisas estão mudando. Para mim parece que mais e mais mulheres estão ganhando espaço no meio. Mais e mais mulheres estão escrevendo sobre super-heróis e fazendo um ótimo trabalho com isso.
Se você pensa em personagens, sim, ali também. Estamos vendo ótimas personagens vindas de todas as editoras.
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SUPER: Que barreiras as HQs ainda tem que quebrar?
JR: Honestamente, eu acho que diversos assuntos estão sendo tocados. Raça e sexualidade com certeza estão sendo mais vistos do que em qualquer outro período. Poderíamos estar fazendo mais? Claro. Mas eu acho que os passos sendo tomados agora são alguns dos bons.
SUPER: Se você para escrever uma história que se passa no Brasil, como ela seria?
JR: Eu não quero falar muito sobre isso, porque estou desenvolvendo uma coisa como um artista brasileiro, e isso se passaria no Brasil. Fiquem ligados no Instituto HQ.