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Inimigo secreto: espionagem

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 31 jul 1996, 22h00

Wanda Nestlehner, com Chris Delboni, de Washington, e Adriana Teixeira

A espionagem vai bem, obrigada, e tem muito espião por aí. Claro que ela já não é tão glamourosa como nos tempos de James Bond, mas sobreviveu ao fim da guerra fria. A diferença é que hoje os espiões ganham seu dinheiro investigando crimes comuns ou bisbilhotando a briga entre empresas concorrentes.

No final do ano passado, um grupo de agentes secretos de primeira linha do governo americano se reuniu num hotel de Washington para discutir o futuro da categoria. Preocupados com uma ameaça de cortes de verba pela Central Intelligence Agency (CIA), eles chegaram à conclusão de que pelo menos 20% dos profissionais da área correm risco de demissão. A saída para eles é se transferirem para a iniciativa privada. O que não é um mau negócio. As agências de detetives dos Estados Unidos recebem, em média, cerca de 900 pedidos de informações comerciais por mês. E o mercado está em franco crescimento.

Longe dos governos, o espião não é mais aquele. Seu inimigo prioritário não é o comunismo, é a empresa concorrente. Mesmo assim, ele ainda ainda tem um quê de 007. É superequipado e enfrenta uma contra-espionagem eficiente. E a sua rotina de trabalho continua bem arriscada.

A bisbilhotagem oficial também não acabou. Nem vai acabar. Apesar das ameaças, os Estados Unidos continuam gastando com espionagem cerca de 16 bilhões de dólares por ano, segundo um estudo de Steven Aftergood, da Federação de Cientistas Americanos, uma organização independente. Mas, com o encerramento da guerra fria, o fim da União Soviética e o desmoronamento dos regimes comunistas do Leste Europeu, a aplicação do dinheiro tomou outros rumos. Hoje, apenas 40% dele é destinado a xeretar a atividade dos russos, que já chegou a atrair quase 70% do total.

O atual diretor da CIA, John Deutch, justifica a gastança. Ele disse à SUPER que a agência ainda tem muito trabalho, só que está mais próxima da polícia, investindo no combate ao tráfico de drogas, aos criminosos e ao terrorismo internacional, principalmente em Israel, além de vigiar a produção de armas nucleares. Do outro lado do mundo, o Serviço Russo de Informações Exteriores, antiga KGB, desmantelou recentemente trinta postos de escuta que monitoravam atividades americanas ligadas a armamentos e estratégias. Segundo os americanos, no entanto, os russos continuam de olho no Vale do Sílicio, na Califórnia, berço de muita tecnologia de ponta, especialmente na área de informática.

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Todos espionam todos

No dia 24 de fevereiro passado, a aviação militar cubana derrubou dois aviões do grupo Irmãos para o Resgate (IR), que ajuda exilados cubanos em Miami. A queda dos aparelhos, que teriam invadido o espaço aéreo de Cuba, trouxe à tona mais um caso de espionagem internacional, envolvendo o suposto agente duplo Juan Pablo Roque. Ex-piloto militar cubano, Roque vivia nos Estados Unidos desde 1992 e trabalhava para o IR. No dia seguinte à queda dos aviões, ele deu entrevista à rede de TV americana CNN. Só que estava em Cuba, e dizendo que havia prevenido o FBI sobre o ataque. O FBI desmentiu, mas admitiu ter-lhe pago 6 700 dólares por informações sobre o IR. Depois disso, Roque desapareceu. Vá entender para quem ele trabalhava.

Embora ainda não tenha tido um desfecho, o caso mostra que o mundo continua cheio de gente que espiona por motivos políticos. Mas o que mais cresce é o mercado das outras modalidades de espionagem. “Nossa sociedade está cada vez mais centrada na informação. Todos espionam todos”, diz Harold Keith Melton, historiador militar americano especializado em espionagem. Escolas de detetives formam bisbilhoteiros de quinta categoria no mundo inteiro. Em geral, eles oferecem seus préstimos a gente desconfiada da fidelidade da cara-metade.

Para os grandes especialistas do ramo que atuam nos governos, a coisa não é tão simples. “Mais e mais informações são divulgadas hoje e cada vez menos temos o que procurar debaixo da mesa”, disse à SUPER o ex-diretor da CIA William Colby, pouco antes de sua morte, em maio deste ano. “Nossos desafios são intelectuais: precisamos saber como usar as informações obtidas e relacionar uma coisa com a outra.”

A onda agora é bisbilhotar celulares

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Eles ficaram com as maiores emoções (e a melhor tecnologia) da profissão. Os chamados espiões industriais vivem nas spy shops dos Estados Unidos. Nessas lojas eles encontram desde microfones disfarçados em canetas até detectores de bombas, passando por manuais antiguerrilha e carros blindados. No Brasil, coisas assim são menos comuns. Mas não é difícil achar, nas casas especializadas em produtos elétricos e eletrônicos, o famoso grampo, aparelho usado para interceptar ligações telefônicas. Basta chegar e pedir um gravador de entrevistas por telefone. Custa algo em torno de 100 reais.

Algumas empresas também providenciam produtos americanos para seus clientes. É o caso da M. Telecom Security, com sede em São Bernardo do Campo, São Paulo. “Importo tudo legalmente”, afirma Luiz Brenneken, o proprietário. Segundo ele, a coqueluche do momento é uma maleta 007 equipada para bisbilhotar e gravar conversas em telefones celulares. Basta digitar a linha mais a identificação gravada no aparelho que se quer interceptar e a mala capta a freqüência da conversa. O brinquedo pode custar 20 000 dólares, segundo Brenneken. “Mas esse tipo de coisa eu não compro, nem que me peçam”, afirma. Ele se diz preocupado com a difusão de engenhos do gênero no Brasil. “Veja este aqui”, diz, mostrando um aparelhinho parecido com um telefone portátil. “É um scanner de freqüências. Também serve para ouvir conversas em celulares, mas não indica o número ouvido. Só funciona para espionagem se for usado perto do telefone visado.” Brenneken diz já ter ouvido falar do uso do scanner por ladrões de banco. “Eles ficam ligados na freqüência da polícia e sabem quando as viaturas estão a caminho.”

Contra-espionar também é bom negócio

A Associação Brasileira de Empresas de Vigilância e Segurança estima que as 500 maiores companhias instaladas no Brasil perdem até 17 bilhões de reais por ano em conseqüência de espionagem. Por isso, elas gastam cada vez mais em contra-espionagem. Até o começo desta década, o investimento em assessoria e equipamentos para tapar o buraco da fechadura não chegava a 20 milhões de reais ao ano. Hoje está perto dos 50 milhões. Nos Estados Unidos gasta-se quarenta vezes mais. Segundo conta Lucas Blanco, diretor de Desenvolvimento e Operações da Ensec, a maior empresa privada de sistemas de segurança do país, que tem entre seus clientes ninguém menos que a Casa da Moeda, isso ocorre porque lá quem tem um sistema de segurança eficiente pode ganhar, entre outras coisas, descontos no seguro.

Apesar de todo o cuidado, no entanto, os americanos se sentem ameaçados.“Empresas e governos estrangeiros economizam fortunas roubando projetos em fase final de desenvolvimento nos EUA”, diz o escritor Keith Melton. ��A China envia estudantes para nossas universidades e algumas vezes eles voltam com produtos e idéias. Para a França, os próprios agentes de inteligência oficiais fazem o serviço.”

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Como as empresas de lá, as daqui também têm que se proteger. Até porquê a lei não é tão rigorosa nem a Justiça tão ágil como nos EUA. No Brasil, a espionagem industrial pode ser punida com prisão de três meses a até quatro anos por crimes de furto, violação de correspondência ou violação de direito autoral. Mas até hoje não se tem notícia de qualquer condenação. Quem for apanhado fuçando o computador alheio tem ainda mais chances de sair ileso. Não há lei sobre esse tipo de contravenção.

Um prato cheio para livros e filmes

A maioria pode até não fazer, por escrúpulos morais ou medo de ser descoberta, mas espionar é sem dúvida uma atividade que fascina. Não é à toa que o tema inspirou tantos personagens de livros, filmes e até jogos de computador. O mais famoso é ele, Bond, James Bond, o 007, invenção do escritor inglês Ian Fleming (1908-1964), que também foi agente do Serviço Secreto da Marinha Britânica. Todos pensavam que o espião era autobiográfico Até 1985, quando um amigo de Fleming, Ivar Bryce, ex-agente do MI-5, a versão inglesa do FBI americano, que investiga dentro do país, garantiu ser o agente-galã. Como prova, mostrou dedicatórias de Fleming. “Para Ivar, que, como sempre, forneceu o roteiro”, dizia uma delas. Bryce era bonitão e namorador, como Bond, mas garante nunca ter matado uma mosca.

O 007 trabalhava para o governo britânico e seus inimigos eram os comunistas ou grandes conspiradores do Mal. Mas quando ele surgiu, em 1953, outro agente, mais ao estilo dos detetives particulares, já era veterano. Dick Tracy, criado pelo americano Chester Gould (1900-1985), estreou nos quadrinhos em 1931. Ele começou a carreira como detetive, mas logo arrumou emprego no FBI. Consta que seu rosto quadrado com nariz de falcão é inspirado em Sherlock Holmes, nascido no século passado, pela pena do inglês Conan Doyle (1859-1930). Holmes era um ás da dedução e quase todos os detetives e espiões que se seguiram são como que seus filhos. Entre eles está Sam Spade, do americano Dashiell Hammett (1894-1961). Spade é um malandro que desrespeita a lei, mas sempre com objetivos nobres. E ainda há muitos outros descendentes de Holmes. Alguns estão aí ao lado.

PARA SASBER MAIS

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Ultimate Spy Book, Harold Keith Melton, D & K Publishing, Londres, 1996.

CIA Special Weapons and Equipment, Harold Keith Melton, Sterling Publishing Co., Nova York, 1994.

As Marcas da Decepção – Memórias de um Agente do Serviço Secreto Israelense, Victor Ostrovsky, Scritta Editora, São Paulo, 1992.

Invasores de privacidade

Eles ganham o pão desencavando os segredos alheios.

Agente secreto

Trabalha para os governos ou para a polícia. Em seu país investiga a oposição e políticos no poder. No exterior, descobre sigilos econômicos, militares e políticos, como números sobre colheitas e produção industrial, saúde de líderes e fabricação de armas nucleares. Pode já ter sido militar e tem um estoque de passaportes falsos. Bem preparado, fala mais de uma língua e cultiva hábitos de grã-fino. Usa recursos como imagens de satélites, além de ser craque em invasão de computadores. Recebe salários variáveis. O agente duplo americano Aldrich H. Ames (veja quadro à direita) ganhava 62 000 dólares ao ano na CIA.

Espião industrial

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Trabalha para consultorias financeiras ou tem um escritório particular. Sua clientela são empresas grandes. Alguns se intitulam consultores de segurança. Em geral é jovem, tem pinta de executivo e ganha até 10 000 reais por mês no Brasil. Nos EUA, pode faturar mais. Seus métodos de trabalho incluem revirar latas de lixo e arrombar laboratórios. Usa disfarces, fazendo-se passar por faxineiro ou outro funcionário, e às vezes se emprega na empresa que pretende espionar. Costuma se equipar com uma parafernália parecida com aquela usada por James Bond (veja páginas 68 e 69). Usa a Internet a toda hora.

Olheiro patronal

Trabalha para patrões interessados em investigar o desempenho e possíveis rebeldias de funcionários. Também é acionado para descobrir eventuais propostas de emprego que os quadros da companhia tenham recebido. Se veste como o cliente mais comum das empresas que espiona ou pode ser um funcionário cooptado para a tarefa. Neste caso, o pagamento vem camuflado em promoções e benefícios. Não usa equipamentos especiais. Seu método é falar mal do patrão e ouvir com atenção o que os demais dizem. Pode ganhar prêmios de mais de 10 000 reais por uma boa informação. É daquele tipo que ninguém consegue explicar direito o que faz na empresa. Mas joga futebol com os colegas de trabalho.

Detetive particular

É aquele que se anuncia em jornal. Também é conhecido como araponga e tem baixo nível de instrução. Costuma usar camisa social com pelo menos dois botões abertos. Seus principais clientes são maridos e esposas com a pulga da infidelidade atrás da orelha, mas também ajuda pequenos empresários a roubar informações de concorrentes ou mesmo sabotá-los. O método é rudimentar. A partir de uma longa entrevista com o cliente, vai seguir

os passos do “suspeito”. Usa gravador e máquina fotográfica comuns. Como cobra por semana – entre 1 000 e 3 000 reais –, é usual levar a investigação em banho-maria. Até porque nem sempre tem clientes. Adora os filmes do James Bond.

Paparazzi

Sim, o paparazzi é um tipo de espião. Fotógrafo profissional, tem credencial de jornalista para entrar em festas e outros eventos. Está sempre em busca de cenas comprometedoras para vendê-las a jornais e revistas. Às vezes tem encrencas com a polícia ou com seguranças, que tentam arrancar o filme da máquina quando algum ilustre fotografado faz escândalo. Mas é prevenido. Tem sempre um filme virgem para tapear o inimigo. Treina arte marcial para se defender. Infiltra-se entre empregados das vítimas. Pode até namorá-los para obter informações sobre os patrões. Uma boa foto rende cerca de 1 500 dólares, mas dependendo da personalidade em questão e do nível de comprometimento da cena, o preço sobe vertiginosamente.

O passado condena

Muy amigo

Richard Sorge, jornalista alemão e amigo do embaixador da Alemanha em Tóquio, onde trabalhava, prestou grandes serviços à KGB. Consta que contou a Stalin a data e a hora em que a União Soviética seria invadida por Adolf Hitler em 1941, mas não foi levado a sério. Considerado o maior espião de todos os tempos, diz-se que foi fuzilado na Alemanha embora não haja testemunhas. Pouco depois de sua suposta morte, na década de 50, foi assassinada a mulherque o denunciou.

Operação Cambridge

Na década de 30 a KGB recrutou como agentes cinco estudantes da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Um deles era o diplomata Donald Maclean, que usava o codinome “Homero”. Ele se tornou integrante da Comissão de Energia Atômica, em Nova York, e acredita-se que forneceu aos russos muita informação sobre o desenvolvimento da bomba atômica. Em 1951 se asilou na União Soviética. Outro da turma que ficou famoso foi Kim Philby, que, como agente do MI6 (o correspondente inglês da CIA americana e responsável pelas investigações no exterior) atrapalhou bastante a caça a espiões soviéticos. Em 1963 também foi para a União Soviética.

Cadeira elétrica

Condenados nos Estados Unidos por espionagem, os judeus Julius e Ethel Rosenberg morreram na cadeira elétrica em 1953. O casal foi acusado de passar aos russos segredos sobre a bomba atômica. O diretor da CIA na época, Allen Dulles, propôs clemência em troca de nomes de intelectuais judeus russos estabelecidos clandestinamente nos EUA, mas os Rosenberg se negaram a delatá-los. A única prova contra eles era um desenho grosseiro de um artefato militar feito pelo irmão de Ethel, que trabalhava numa base americana.

Arrependimento

Os quatorze meses nos quais Victor Ostrovsky trabalhou para o Mossad, o serviço secreto israelense, renderam um livro (veja Para Saber Mais no final desta reportagem). Nele, o espião acusa o Mossad, entre outras coisas, de saber com antecedência sobre o caminhão-bomba que mataria, em 23 de outubro de 1983, em Beirute, 241 soldados americanos. Uma tragédia que poderia, portanto, ter sido evitada.

Traição na CIA

Preso em março de 1994, Aldrich Hazen Ames talvez seja o maior caso de traição do serviço secreto americano. Ele era funcionário da CIA desde 1962 e por doze anos forneceu informações aos soviéticos. Conhecia os nomes de praticamente todos os agentes recrutados pelos EUA na União Soviética e depois na Rússia. Pelo menos dez deles foram executados.

Ferramentas para xeretar

Em lojas dos EUA (foto à esquerda) ou com empresários nacionais do ramo de segurança, espiões podem encontrar uma variedade incrível de equipamentos. Já as agências governamentais trabalham com armas poderosas. Conheça alguns desses instrumentos.

Kit indiscreto

O pequeno gravador, do tamanho de um cartão de crédito, grava até 3 horas de conversa. Acompanham acessórios como microfone disfarçado em caneta, fone de ouvido e amplificador de voz. O kit completo custa cerca de 2 000 dólares.

Ouvido acurado

Este scanner de freqüências capta conversas em celulares. Só não indica o número do telefone que se ouve. O espião precisa conhecer a voz que deseja ouvir ou estar vendo o suspeito, para saber quando o aparelho é acionado. Em média, custa 400 reais

Eternas

As primeiras minicâmeras fotográficas, disfarçadas em isqueiros, relógios, maços de cigarro e outros objetos banais surgiram já na década de 50. Agora esses formatos são usados para camuflar câmeras de vídeo que custam a partir de 1 500 reais.

Peças de museu

Este avião inflável (isso mesmo!) foi desenvolvido pela CIA nos anos 50 para infiltrar e desinfiltrar espiões. É tão estranho quanto a canoa submergível motorizada, esta espécie de submarino individual que você vê ao lado. Era usada para levar espiões até a praia a partir de uma nave-mãe.

Olhos com asas

Parece um avião comum, mas o E8-C é um espião. Voando a mais de 10 000 metros, ele pode fotografar com perfeição veículos que trafegam numa estrada. Sistemas de monitoramento de calor lhe permitem detectar a atividade numa base militar. Embora não conte com dispositivos de camuflagem, ele voa tão alto que não está ao alcance de mísseis. Se precisar, sobe mais, para fugir de caças, e mantém contato permentente com bases terrestres. Ultimamente tem trabalhado na Bósnia e na Croácia, observando a circulação e produção de armas.

Pequenos intrusos

Tão antigos e comuns como as maquininhas fotográficas, os microfones miniaturizados adquirem as formas mais diversas. De soquetes e benjamins a sapatos. O objetivo é um só: ouvir conversas sigilosas. Receptores captam o som a até 15 quilômetros de distância, que pode ser gravado ou ouvido ao vivo. O kit scompleto pode custar de menos de 1 000 a até 10 000 reais.

Foco na Terra

Os satélites começaram a ser usados para espionagem em 1958. O primeiro foi o Corona, americano, que mandou mais de 800 000 imagens, entre elas esta abaixo, do estaleiro de Sevenrodvinsk, onde a União Soviética construía submarinos. Hoje, eles captam imagens muito melhores em qualquer condição de luz.

O famoso grampo

Arma corriqueira, o grampo telefônico nada mais é do que um gravador com saídas para fios que se ligam aos cabos telefônicos. É equipado com um controlador de tensão (relé) que o liga toda vez que o usuário tira o telefone do gancho. Costuma ser colocado nas caixas de distribuição da companhia telefônica que se vê nos fios nas ruas. Custa cerca de 100 reais.

De olho nas coisas do Brasil

Há quem diga que o mais antigo caso de espionagem no Brasil data de 1547 quando chegou aqui, com os portugueses, o aventureiro alemão Hans Staden, autor de História de uma Terra Chamada América. Supõe-se que Staden fosse informante da Espanha. Depois, outras histórias surgiram, mas talvez a mais sensacional seja a que envolveu o projeto do Sistema de Vigilância Aérea da Amazônia (Sivam). No início de 1995, a CIA denunciou que a empresa francesa Thompson, concorrente da americana Raytheon na licitação para a compra dos radares do Sivam, teria subornado brasileiros “com poder de decisão”. Em 1987, num caso semelhante, o detetive Jorge Sellinas, que trabalhava para a Polícia Federal, informou que delegados paulistas haviam recebido propinas para não denunciar Otávio Cecatto, ex-presidente do Banespa, supostamente envolvido numa compra ilegal de ações. Condenado por escuta clandestina, Sellinas fugiu para a Grécia. É que fugir não é problema para espiões. Samuel Giliad, suposto agente do Mossad, o serviço secreto israelense, que andou xeretando projetos nucleares brasileiros entre 1979 e 1981, também escafedeu-se. Assim como Vladimir e Ludmila Novikov. Ele, chefe da KGB no Brasil entre 1983 e 1990. Ela, sua agente, que, como tradutora, se aproximou até do ex-presidente José Sarney. A espionagem do governo brasileiro nunca teve o poder e a excelência de uma CIA ou uma KGB. O Serviço Nacional de Informações (SNI) perseguiu oposicionistas indefesos e teria acobertado torturas. Foi substituído pela Subsecretaria de Inteligência, que emprega 1 500 funcionários entre agentes e pessoal administrativo e tem orçamento anual de 19 milhões de reais. Agora o governo quer criar um novo órgão do gênero.

Despistando abelhudos

Para defender a privacidade e a segurança, empresas executivos têm a disposição equipamentos caros que parecem saídos dos filmes.

Caça-microfones

Este aparelhinho é um identificador de transmissões de som. Ele marca freqüências, que oscilam quando há microfones num ambiente. Basta ir passeando pela sala com ele na mão para achar um transmissor escondido. Os mais baratos custam entre 50 e 300 reais.

Olho vivo

Discreta, esta minicâmera de vídeo sem fio costuma ser escondida atrás de quadros. O aparelho ao lado serve para transmitir as imagens captadas por ela ao vivo. Pode ser usada para controlar a entrada de gente numa sala ou para gravar reuniões. Já vem com o quadro e custa aproximadamente 4 000 reais.

Batom perigoso

Às vezes, a defesa exige uma arma para valer. Essas navalhas e canivetes vêm disfarçados em objetos femininos. Têm preços variáveis

Voz codificada

O scrambler já é comum entre executivos. Consiste de um codificador e um decodificador de voz. Com ele, as conversas telefônicas são muito mais seguras. Hoje já existem modelos que codificam até mensagens de fax. Os mais baratos custam 1 200 reais. Os melhores custam 5 000 reais (o par, pois precisa ser usado nas duas pontas da conversa).

Telefone seguro

Ligado à linha telefônica, esse analisador de voltagem diz se a ligação está grampeada. Se estiver, corta o som. Pode custar de 300 a 5 000 reais.

Quem ligou?

O Ident Call mostra os números de origem da ligação antes mesmo que se atenda o telefone. Além disso, mantém gravados os números das últimas 100 chamadas recebidas. É produzido no Brasil e custa 230 reais.

Escudo

Na linha James Bond, o guarda-chuva, a mala e o boné são à prova de bala. Os preços variam muito.

Rouba-se tudo, de chuveiros a aviões

A pirataria de informações comerciais está ficando comum no Brasil. “Na área de moda é um carnaval”, ironiza Pedro Lourenço Thomaz, diretor aposentado do Serviço de Perícias Especializadas do Instituto de Criminalística de São Paulo, que atualmente dá consultoria de contra-espionagem industrial. Ele só não conta quem são seus clientes. “Trabalho para grandes empresas, isso posso garantir.” Segundo Thomaz, quem não se cuida corre riscos. No ano passado desapareceu dos laboratórios da Corona, fábrica de chuveiros paulista, o protótipo de uma nova ducha que havia acabado de obter aprovação dos técnicos da empresa. Até hoje a polícia não encontrou o ladrão. Algumas vezes, o roubo não é tão evidente e só acaba sendo percebido quando um outro produto, muito semelhante, é lançado no mercado. Foi o caso do avião soviético Ilyushin-X, que ficou exageradamente parecido com o CBA-123, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) na década de 80. Nada ficou provado, mas alguns técnicos brasileiros não duvidam de que tenha havido espionagem. Sabe-se que remédios, computadores, carpetes e outras mercadorias já foram copiadas, mas quase nunca é possível provar o crime. O vice-presidente mundial da Volkswagen, José Ignácio Lopez Arriortúa, responde a processos desde 1994 na Justiça da Alemanha e na dos Estados Unidos. É que antes de a Volks comprar seu passe, naquele ano, Arriortúa era vice-presidente de compras da General Motors e a empresa o acusou de ter levado para a concorrente documentos sigilosos sobre um novo carro e um novo motor a diesel. Na tentativa de provar uma falcatrua semelhante, a Phillip Morris, um aglomerado de empresas, acabou sendo acusada pelo Ministério Público brasileiro por violação de comunicação. A empresa contratou um araponga, Valdir Matias dos Santos, para colocar escutas telefônicas nas casas de três ex-executivos de uma de suas unidades, a Q-Refres-ko. Desconfiava-se que eles teriam roubado documentos importantes.Só que,em lugar de entregar à empresa as fitas gravadas, o detetive as usou para chantagear suas vítimas.

Inimigos e parceiros

Leonid Shebarshin, o homem que cuidou da KGB por 26 horas depois do golpe frustrado de agosto de 1991 contra o então presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchóv, mudou de ramo. Depois de trinta anos na polícia secreta soviética, muitos deles no comando da espionagem no exterior, ele se aposentou para montar, em Moscou, uma empresa de “segurança econômica”. O que, em bom russo, quer dizer espionagem comercial. Seus principais clientes são os bancos. “Eu não agüentava mais aquela ociosidade”, disse em 1994 à revista americana Forbes. Alguns de seus comandados foram mais longe e abriram negócio no antigo território inimigo. Gennady Vasilenko, que espionou nos Estados Unidos, tornou-se sócio do ex-agente da CIA, John Platt. Em 1978, Platt convidara o russo para ser agente duplo, mas ele não aceitou. Agora os dois têm um escritório especializado em investigar a idoneidade de clientes russos para empresas dos EUA.

As versões da ficção

Espiões e detetives já brilharam na literatura, no cinema, na TV e nos quadrinhos. Agora é a vez dos games.

Licença para matar

00 é um código. Significa que o agente tem autorização para matar no exercício do dever. James Bond, o 007 de Ian Fleming, usava essa prerrogativa umas três vezes a cada aventura. Mas a maior parte do tempo gastava mesmo era na cama com as mais belas atrizes do mundo. O espião chegou ao cinema em 1962, com O Satânico Dr. No, nove anos depois de ter surgido na literatura. Curioso é que ninguém queria produzir o filme até o presidente americano John F. Kennedy declarar que adorava as aventuras do inglês.

Elementar

Sherlock Holmes, inventado ainda no século passado por Conan Doyle, não era espião, mas sabia como ninguém bisbilhotar um ambiente para descobrir coisas comprometedoras. Para criá-lo, Doyle inspirou-se num médico muito perspicaz, Joseph Bell, que fora seu professor na Universidade de Edimburgo, Escócia. Holmes tinha um assistente a quem costumava dizer uma frase que ficou famosa: “Elementar, meu caro Watson”.

Pastelão

Já nos anos 60 surgia na televisão uma série parodiando 007. Os espiões trapalhões Maxwell Smart, o agente 86, e sua namorada, a 99, foram criados por Mel Brooks, diretor e ator famoso por suas comédias no cinema. No total foram 138 episódios exibidos e reexibidos até a exaustão em vários países, inclusive o Brasil.

Visionário

Personagem nascido nos quadrinhos, nos anos 30, Dick Tracy usava equipamentos considerados de ficção na época. Hoje eles se tornaram usuais, como rádios de comunicação e circuitos fechados de TV. Enfrentava terríveis bandidos, sempre com sua capa de gabardine impecável.

Brasileiro e duro

Um bom respresentante dos detetives brasileiros é Ed Mort. Desastrado e sem dinheiro ele apareceu em tiras de quadrinhos, livros, televisão e logo deve estrear no cinema. É uma criação de Luís Fernando Veríssimo.

Verdade e ficção

Na segunda metade dos anos 60, o escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York recebeu muitas cartas endereçadas a Napoleão Solo e Illya Kuryakin. Só que os dois não existiam. Eram os agentes da Uncle em uma série de televisão. Muita gente achou que Uncle era a sigla completa da ONU, que em inglês é UN. Kuryakin e Solo foram criados depois que uma pesquisa revelou o modelo de herói para os americanos: James Bond.

Você é o espião

Ricardo B. Setti

Nos últimos anos virou uma febre. Há cada vez mais jogos de espionagem para computador. Nenhum deles, no entanto, se compara ao CD-ROM Spycraft, recém-lançado nos Estados Unidos. Para dar forma a sua obra, a empresa americana Activision juntou o ex-diretor da CIA William Colby com Oleg Kalugin, que trabalhou para a KGB nos EUA por doze anos. “Criamos um enredo mais realista do que o comum mata-um-mata-outro”, disse Colby. “E aproveitamos para dar uma visão moderna da espionagem, em que russos e americanos podem trabalhar juntos.” O jogo refaz a história de um grupo terrorista que mata o candidato à presidência da Rússia e pretende matar também o presidente dos Estados Unidos. O jogador é o agente que deve desbaratar a quadrilha. Para isso usa analisadores de fotografias e de som, grampos telefônicos, simuladores de trajetórias de balas e muito mais. Uma conexão com a Internet (https://www.activision.com) abre caminho para trocar informações com outros jogadores. A aventura exige muito raciocínio, mas também tem ação. Em algumas cenas os agentes saem a campo e dão tiros a valer. A produção construiu até uma maquete da Praça Vermelha, que foi fundida em computação gráfica com imagens de comícios. No total, o jogo traz mais de 400 fotos e oitenta seqüências de vídeo, mas é exigente. Só pode ser rodado em computadores PC 486/66 Mhz, com 8 Megabytes de memória RAM e monitor capaz de mostrar 32 mil cores. Nos EUA, custa 50 dólares. O telefone da Activision é 001 310 4739200.

Eles existiram sim

Por terem ficado famosos no cinema e nos livros, muita gente pensa que alguns espiões reais são obras de ficção. Veja dois bons exemplos disso.

Mata Hari

Este era o pseudônimo de Margaretha MacLeod, dançarina provocante, famosa por conquistar soldados em Paris no início do século. Foi fuzilada pelos franceses em 1917, acusada de espionar para a Alemanha. Nascida na cidade holandesa de Leeuwarden, em 1876, se casou com o capitão alemão Rudolf MacLeod, que conheceu por correio sentimental de jornal, e se mudou para a Indonésia. Separada, voltou a Paris. Apesar de ter conquistado protetores poderosos, franceses e alemães, não escapou da morte. A imagem que se tem dela é a de Greta Garbo no filme Mata Hari, de 1931.

Direto do frio

O personagem da novela de John Le Carré O Espião que Veio do Frio não só existiu como ainda existe. Markus Wolf foi o mais famoso agente secreto da polícia comunista da antiga Alemanha Oriental, a Stasi. Durante trinta anos os serviços secretos ocidentais tentaram identificá-lo, mas não tinham sequer uma foto sua. Filho de um judeu alemão que fugiu da Alemanha, Wolf viveu dos 11 aos 22 anos na União Soviética. Aos 25 começou a trabalhar no grupo de segurança do governo, o Ulbricht, e logo tornou-se chefe da espionagem. Comandou 4 000 agentes. Em 1993 foi condenado a seis anos de prisão, mas acabou anistiado, dois anos depois, junto com outros 5 000 espiões.

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