Lia Wyler, a tradutora de Harry Potter, morre aos 84 anos
Ela traduziu autores como Arthur Conan Doyle e Stephen King. Seu trabalho na adaptação do universo bruxo ressaltou a importância do papel do tradutor
De Grifinória a Lufa-Lufa. De Bicuço ao pomo de ouro. Se você é fã de Harry Potter desde a infância, a responsável por isso, provavelmente, é Lia Wyler, a tradutora responsável pela versão em português dos livros de J.K. Rowling e que morreu nesta terça (11), aos 84 anos.
Em sua extensa carreira, Lia traduziu uma série de autores notáveis, como Arthur Conan Doyle, Tom Wolfe, Stephen King, Carl Sagan e Margareth Atwood. Mas foi o seu trabalho adaptando o universo bruxo que a tornou conhecida.
Professora e pesquisadora da área da tradução, ela foi responsável por dar mais visibilidade à importância do papel do tradutor. Em uma entrevista de 2007, ela definiu o trabalho como “uma ponte entre duas culturas”.
A escritora começou a sua carreira bem longe da ficção – tal qual Harry, que tinha uma vida monótona antes de entrar no mundo bruxo. “Comecei na profissão com textos técnicos. Depois, vieram os verbetes para enciclopédias, artigos de revistas e livros de literatura popular, culta e infantis e juvenis”, disse Lia em um artigo para a Folha, em 2006.
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A morte de Lia repercutiu nas redes sociais. Fãs da série prestaram homenagens à tradutora
Além de adaptar a escrita de J.K. Rowling, Lia deu um toque de brasilidade durante o trabalho de tradução. De acordo com uma entrevista em 2005, ano de lançamento do sexto livro da saga, O Enigma do Príncipe, Lia afirmou que buscou “traduzir de alguma forma o humor contido nos nomes próprios”. Para os leitores dos primeiros livros de 9 a 12 anos e que não liam em inglês, esse cuidado foi importante.
É por isso que nomes como o da criatura Blast Ended Screwt virou, no Brasil, “Explosivim”. Em outros relatos, Lia revelou que, se soubesse que a história viraria uma saga, não teria traduzido alguns termos, como o nome das casas de Hogwarts. Mas é difícil encontrar alguém que não goste das suas criações. Quando A Ordem da Fênix estava pra sair, a revista Época comparou alguns termos com os originais e destrinchou a origem deles.
O esforço da tradutora, que passava de dez a doze horas diárias traduzindo os livros de Harry Potter e chegou até a se isolar para terminar a tradução do último, valeu a pena. Ainda em 2001, Lia ganhou prêmios e o selo de “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Nascida em Ourinhos, interior de São Paulo, Lia morreu no Rio de Janeiro, onde vivia. A causa da morte ainda não foi divulgada, mas ela já havia sofrido dois AVCs nos últimos anos. Talvez Rowling estivesse pensando em pessoas como ela quando fez Dumbledore dizer que “as palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia”.