Livro da Semana: “Alex no País dos Números”, de Alex Bellos
A melhor história da matemática já escrita para leigos não é só uma aula de didatismo: é o relato da viagem de um jornalista por uma disciplina que salpica suas páginas de personagens excêntricos e fasicnantes.
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Alex Bellos é um bom escritor, ninguém pode negar: o cara publicou um livro de 500 páginas sobre matemática e passou quatro semanas na lista de mais vendidos do jornal inglês Sunday Times. Ele também é um escritor versátil: seu outro grande feito literário foi ser o coautor da autobiografia oficial do Pelé – honra que ele conseguiu após trabalhar por anos como correpondente do jornal The Guardian no Rio de Janeiro, quando se apaixonou pelo Brasil e seu futebol.
O livro – o da matemática, não o do Pelé – não se limita a uma área, uma prova ou um teorema. Alex no País dos Números é abrangente: começa nas primeiras noções de contagem e geometria dos humanos pré-históricos, e termina introduzindo conceitos complicados de geometria não euclidiana, que surgiram recentemente, no século 19. Assim, o livro funciona como uma história da matemática para leigos. A melhor já escrita com esse fim.
Mas Alex fez muito mais do que uma simples obra didática. Alex no País dos Números é, acima de tudo, uma reportagem. Embora tenha um diploma em Matématica, Bellos trabalhou como jornalista a vida toda – e encarou seu mergulho na disciplina que ele próprio estudou como uma jornada de descoberta e redescoberta da disciplina que o fascinou em seus anos de universitário.
O livro é estruturado de maneira pouco usual, como uma paródia dos relatos de viagem dos séculos 18 e 19. No início de cada capítulo, há um breve resumo da jornada que o autor realizou para escrevê-lo – resumo que enfatiza os pontos mais bizarros ou maravilhosos da apuração. Veja alguns exemplos:
Capítulo 0: Em que o autor tenta descobrir de onde vieram os números, já que não faz tanto tempo que eles estão por aqui. Conhece um homem que morou na selva e um chimpanzé que sempre morou na cidade.
Capítulo 1: Em que o autor aprende sobre a tirania do dez e sobre os revolucionários que tentaram derrubá-la. (…)
Capítulo 2: Em que o autor quase muda de nome porque um discípulo do fundador de um culto grego diz que é o que deve ser feito. (…)
Alex alterna explicações cristalinas – que vão fazer você ver a beleza por trás de tudo de monótono que estudou no ensino médio – com visitas a um elenco de personagens excêntricos, que incluem uma acadêmica que representa superfícies de curvatura negativa com crochê, um numerólogo milionário que dá consultas a rappers famosos e um guru indiano que resgata os métodos de multiplicação de seus ancestrais.
Além de apresentar ilustres anônimos, Alex joga uma nova luz sobre figurões cobertos de pó. Descobrimos que Pitágoras era uma espécie de profeta autodeclarado, líder de um culto em que comer feijões era proibido e qualquer menção a números irracionais, como a raiz de dois, era punida com a morte. Georg Cantor enlouqueceu pensando no infinito. Roger Penrose, amigo de Stephen Hawking e mestre dos buracos negros, também se revela um geômatra talentoso, capaz de criar formas com propriedades inéditas.
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