Marlon Brando foi o primeiro ator a ganhar um salário milionário
O cachê polpudo do ator, que faria 100 anos em 2024, ajuda a entender um momento crucial da história de Hollywood. Confira.
Há 100 anos (mais precisamente, em 3 de abril de 1924), nascia Marlon Brando Jr., um garoto que, nos anos seguintes, seria expulso de duas escolas, trabalharia como ascensorista, garçom, segurança – e se tornaria um dos atores mais importantes de todos os tempos.
A carreira artística de Brando começou no teatro. Sua mentora foi a atriz Stella Adler, uma importante professora de interpretação dos EUA. Com ela, Marlon aprendeu a extrapolar os roteiros e usar a imaginação para buscar as motivações de seus personagens. Brando ficou conhecido pelo realismo singular que imprimia em seus papéis, algo que inspirou (e ainda inspira) gerações de artistas.
No cinema, seu primeiro papel de destaque foi como Stanley Kowalski no filme Uma Rua Chamada Pecado (1951), de Elia Kazan. Brando já interpretava esse papel no teatro, mas o autor da peça, Tennessee Williams, não estava certo de que ele era a melhor escolha para as telonas.
Kazan, convencido do contrário, emprestou US$ 20 para que Brando pegasse um ônibus para conversar pessoalmente com Williams (ele estava passando o verão numa casa de praia na costa leste dos EUA). Só que o ator usou a grana para fazer uma festa. Uma semana depois, para nossa sorte, Brando decidiu fazer a viagem. Ele convenceu Williams e conseguiu o papel, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar.
Nos anos 1950, Marlon consolidou seu status de estrela. Em 1954, ganhou o Oscar de Melhor Ator pelo filme Sindicato de Ladrões. Na década seguinte, estreou na direção com o filme A Face Oculta (1961), no qual também estrelou. E, em 1962, pediu um salário de US$ 1,25 milhão para atuar em O Grande Motim, um remake de um longa de 1935 sobre a revolta da tripulação do navio inglês HMS Bounty.
A grana, equivalente a US$ 13 milhões de hoje, foi o primeiro cachê a ultrapassar a barreira do milhão em Hollywood. E essa bolada ajuda a entender um pouco a transição pela qual o cinema americano passava naquele momento.
Na primeira metade do século 20, Hollywood era dominada por alguns poucos estúdios, que cuidavam de todas as etapas de um filme, da produção à exibição. As cinco maiores empresas ficaram conhecidas como Big Five (MGM, Paramount, Warner, Fox e RKO). Elas costumavam trabalhar sob contratos exclusivos: atores, roteiristas e diretores trabalhavam para determinado estúdio e só.
Nos anos 1950, esse arranjo começou a mudar. Leis antitruste nos EUA acabaram com o oligopólio dessas corporações, que não puderam mais manter a distribuição e a exibição dos filmes. A popularização da TV e de outras formas de lazer (como a retomada dos parques de diversão) dividiram a atenção do público. A quantidade de produções de Hollywood encolheu (de 700 para 300 filmes por ano) e ficou mais criteriosa: um fracasso de bilheteria poderia decretar a falência do estúdio.
O cinema americano passou a depender mais do mercado internacional. E, nesse cenário, ter um artista conhecido no pôster do filme era essencial para garantir público. Foi nesse momento que os atores e atrizes começaram a ter mais poder de barganha frente aos estúdios. Muitos deles passaram a trabalhar como freelancers – e a ganhar maiores salários. Em 1963, por exemplo, Elizabeth Taylor recebeu US$ 1 milhão para estrelar Cleópatra.
E quanto a Brando? O Grande Motim recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Mas foi um fracasso de bilheteria: preju de US$ 60 milhões, em valores atuais. O fiasco manchou a carreira de Marlon, que foi criticado por mau comportamento no set. Ele passou a década seguinte sem grandes trabalhos e meio descrente com a sétima arte. Até que, no começo dos anos 1970, um tal de Francis Ford Coppola bateu o pé para que Brando estrelasse seu próximo filme: O Poderoso Chefão.
O resto da história você já sabe.