Leandro Fortino
A solução é O jeitinho brasileiro, diz o músico e produtor brasiliense, seja na mistura de ritmos nacionais com batidas quebradas do funk eletrônico ou na busca de soluções criativas para a falta de recursos. Esse Nego ainda vai dar o que falar
A música eletrônica com identidade brasileira pode ir muito além da simples mistura de batidas repetitivas e ritmos nacionais. Um bom exemplo de que essa química não precisa ser óbvia está nas produções do brasiliense Marcelo Martins, ou Nego Moçambique para a cena eletrônica.
Ao investir em alternativas ao alto custo de equipamentos e de vinis importados, Nego faz um som com a cara do Brasil. “Os DJs e produtores brasileiros têm que arranjar soluções criativas. O DJ de Brasília LS2, por exemplo, investiu uma grana na compra de um Final Scratch [equipamento que permite tocar arquivos de computador usando dois toca-discos de vinil]. Hoje, ele não precisa mais comprar LPs”, exemplifica. “Temos que buscar soluções para o Terceiro Mundo. A indústria de vinil foi tirada da gente, por interesse das gravadoras. O que faz um cara que está a fim de tocar? Não compro discos. Quando quero ouvir música, pesquiso na internet”, diz.
O músico e produtor se prepara para estrear em álbum, sob a bênção do produtor Dudu Marote. No disco estará o resultado de seu live PA, apresentação que ele conduz ao vivo em clubes e festas Brasil afora.
Nego já tem uma faixa conhecida do público mais antenado. É a música “Gil para B-Boys”, lançada no segundo volume da compilação do programa Amp, da MTV. Na música, ele usou um sample do refrão de “Palco”, hit dos anos 80 de Gilberto Gil. Mais brasileiro impossível.
Mas é o jeitinho de fazer seu projeto caminhar que dá a Nego Moçambique chances de um futuro promissor. No seu som, percebe-se uma tentativa de unir todas as vertentes da música negra mundial, da africana à americana, passando, é claro, pela brasileira. Cheia de batidas quebradas, irregulares, sua música se encaixa na gaveta do breakbeat.
O remix de “Palco” surgiu por causa de seu interesse pelo break, cuja trilha sonora sempre o atraiu. “Os b-boys curtem rap, mas existem outros tipos de batida para dançar. Gil para B-Boys foi a minha primeira tentativa de fazer uma coisa próxima disso”, explica Nego. Ele reclama da dificuldade em ter acesso a equipamentos de música eletrônica no Brasil. Ele começou a produzir música usando apenas uma bateria eletrônica e um módulo bem simples de timbres. “Quando comecei nem todo mundo tinha computador, então sempre fui na onda do seqüenciador manual. Não trabalho com computador, faço tudo com hardware”, conta.
O coração dos shows de Nego é um MPC 2000, o sampler usado por nove entre dez produtores de hip hop.
“O próprio CD terá um quê de apresentação ao vivo”, diz o produtor Dudu Marote. Marcelo explica melhor: “Na hora da gravação, fiz todas as coisas que eu faço no live PA. Depois fizemos somente umas pequenas correções técnicas”. Marcelo ainda pode ser ouvido em CD, na produção feita para o disco de remixes do cantor Otto. Sob a alcunha de Superchocoboy, projeto que manteve com Daniel Mazuca, Nego remixou a faixa “Changez Tout”. “O prazo era curto, mas iam pagar bem, então topei na hora”, diz o produtor.