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O musical do Homem-Aranha que se tornou um enorme fiasco

Há dez anos, o herói fazia sua primeira aparição na Broadway. Entenda como a peça, da mesma diretora de “O Rei Leão” e com canções escritas por membros do U2, deixou um prejuízo de US$ 60 milhões.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 27 nov 2020, 16h45 - Publicado em 27 nov 2020, 15h54

Era 28 de novembro de 2010. Os palcos do Teatro Foxwoods, em Nova York, estavam prestes a receber um musical memorável, inspirado nas histórias de um dos heróis de maior sucesso da Marvel, o Homem-Aranha. Durante a pré-estreia, contudo, o personagem principal sobrevoou a plateia e ficou preso em meio aos cabos. Outros quatro incidentes ocorreram na mesma noite – e esse era só o primeiro ato de um enredo de desastres.

A obra da Broadway Spider-Man: Turn Off the Dark tinha tudo para dar certo. No cinema, o herói havia estrelado recentemente uma trilogia de sucesso, o que poderia atrair um grande público para o teatro. O musical seria roteirizado pelo dramaturgo Glen Berger e dirigida por Julie Taymor, a responsável pela adaptação de O Rei Leão, que segue em cartaz até hoje. Além disso, as músicas seriam escritas por ninguém menos que Bono e The Edge, membros da banda irlandesa U2. 

Na teoria, tudo parecia perfeito – mas os bastidores foram caóticos. A ideia do musical nasceu em 2002, logo que o primeiro filme do Homem-Aranha foi lançado. Julie Taymor aceitou participar da adaptação sob uma condição: adicionar a personagem Aracne, da mitologia grega, como uma das protagonistas. Aracne era uma mulher com habilidades de bordar que, após vencer a deusa Atena em um concurso de tecelagem, foi transformada em aranha pela rival. Sim, a única coisa que conectava a personagem ao herói era o animal. 

No final das contas, a peça segue o enredo clássico do herói, mostrando como Peter Parker ganhou superpoderes após ser mordido por uma aranha. O vilão da história é o cientista Norman Osborn, o Duende Verde. A deusa Aracne, por sua vez, surge como inspiração para Peter.

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Bono e The Edge, apesar do sucesso musical, não tinham nenhuma familiaridade com peças da Broadway. “Se você está encenando um musical do Homem-Aranha, provavelmente não é o ideal ter uma diretora que não está interessada em Homem-Aranha e dois compositores que não estão interessados em musicais”, disse Berger à BBC. O dramaturgo não esconde o fiasco e, inclusive, relatou toda a sua experiência no livro Song of Spider-Man: The Inside Story of the Most Controversial Musical in Broadway History, lançado em 2013.

Os atores também levaram a fundo a expressão “quebre a perna” – o equivalente à “boa sorte” para os artistas teatrais. Por conta das acrobacias aéreas perigosas, nas quais eles ficavam suspensos por cabos, muitos acidentes ocorreram. Constantemente, o show tinha que parar para que problemas técnicos fossem resolvidos. A tradicional revista The New Yorker chegou a trazer em uma de suas capas uma enfermaria repleta de Homens-Aranhas machucados.

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O musical do Homem-Aranha que se tornou um enorme fiasco
(The New Yorker/Reprodução)

O jornal The New York Times também fez sua crítica: “permitir ativamente que os espectadores do teatro conheçam a piada nacional em que esse show infestado de problemas se tornou ajuda a fazê-los acreditar que têm um motivo para estar ali”. Enquanto isso, o britânico The Guardian chegou a dizer que o cenário era monótono e que as tão alardeadas sequências de voo não eram mais espetaculares do que as de qualquer circo barato.

A culpa para o desastre poderia estar em um baixo orçamento, mas não foi o caso. O musical foi o mais caro da Broadway já produzido, custando US$ 75 milhões (US$ 89,5 milhões hoje em dia). Os inúmeros problemas também renderam à peça o título de pré-estreia mais longa, com 182 apresentações. O primeiro show oficial só rolou em junho de 2011. 

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Pouco antes disso, em março, a diretora Julie Taymor foi substituída por Philip William McKinley. Roberto Aguirre-Sacasa também entrou na peça para trabalhar ao lado de Glen Berger. O show mudou, as críticas melhoraram e o musical seguiu em cartaz até janeiro de 2014, mas o estrago já estava feito. A peça deixou um prejuízo de US$ 60 milhões – e uma bela história de desastre para contar. 

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