Pesquisadores encontram desenho oculto sob obra de Da Vinci
Descoberta reforça ideia de que a segunda versão de "Virgem das Rochas" poderia ter sido uma composição totalmente inédita. Só que Da Vinci não quis.
Em 2005, pesquisadores aplicaram uma técnica chamada infrared reflectography (IRR) – que usa luz infravermelha para ver pinceladas cobertas por camadas de tinta e aparentemente invisíveis – na obra Virgem das Rochas, de Leonardo Da Vinci. Essa análise revelou um mistério: embaixo da pintura havia um outro desenho.
Como não poderia deixar de ser, a descoberta intrigou os estudiosos. Na verdade, Da Vinci pintou dois quadros quase iguais com o mesmo nome: o primeiro, com cores mais “chapadas”, está exposto no Louvre; e o segundo, concluído quase dez anos depois, com um contraste de claro e escuro bem maior, está na National Gallery de Londres desde 1880.
O esboço encontrado em 2005 está nessa segunda obra – que os pesquisadores, inclusive, consideram inacabada. Algumas áreas, como as faces, estão completas, mas outras, como a mão do anjo, aparentam mal esboçadas para eles. Veja, abaixo, o desenho completo.
Apesar de obras inacabadas não serem incomuns dentro do legado de Da Vinci (a SUPER já reportou que o artista tinha fama de procrastinador, e que alguns estudiosos afirmam que a Mona Lisa é uma obra não finalizada), pesquisadores britânicos ficaram com uma pulga atrás da orelha, e resolveram investigar Virgem das Rochas mais a fundo.
Quinze anos após os achados de 2005, novas análises provaram que as suspeitas estavam corretas: não havia apenas um esboço, mas um desenho quase completo por baixo da pintura que vemos. Da Vinci, pelo visto, além de procrastinador, era bem indeciso. Para entender isso, é só observar o esboço sob a original.
O desenho confirma que, originalmente, o artista havia pensado em uma composição totalmente nova para a obra. Maria estava à esquerda, olhando para o menino Jesus próximo ao anjo. A segunda criança da pintura, que acredita-se ser João Batista bebê, não aparecia nessa versão do quadro.
Para descobrir mais sobre o rascunho sem danificar a obra de Leonardo, os pesquisadores usaram 3 tecnologias: a IRR, já aplicada antes, a de “escaneamento por fluorescência de raios X” (XRF) – que identifica elementos individuais que brilham quando são bombardeados com luz de raios-X – e a de “imagem hiperespectral” (HSI – que detecta a energia eletromagnética dos componentes do material usado por Da Vinci para fazer o desenho). Juntando as três, foi possível reconstruir essa imagem sem tocar na pintura.
As análises ainda não conseguiram cravar por que o pintor resolveu mudar totalmente a composição que estava montando. Hipóteses dizem que a intenção inicial do renascentista era fazer uma pintura inédita – mas que, depois, ele mudou de ideia e reproduziu uma composição que já havia feito. Assim, poderia se concentrar em explorar melhor novos efeitos de iluminação e contraste –tudo baseado nas suas próprias pesquisas em óptica. Se identificou com o hábito de Da Vinci de deixar as coisas “pela metade”? Vai ver você também tem um pouco de gênio, rs.