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Por que meu filme deve ser liberado

Vários países, incluindo o Brasil, barraram meu filme, alegando que cenas chocantes não devem ser exibidas. O que eles não entendem é que essa é a forma que encontrei de mostrar a realidade ao público

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 23 out 2011, 22h00

Srdjan Spasojevic*

A Serbian Film – Terror sem Limites, filme que escrevi e dirigi, conta a história de um ator pornô em decadência econômica. Para narrar a trajetória dele, usei cenas de estupro, pedofilia, violência. No entanto, nem todo mundo que assistiu ao filme viu essas cenas. Em vários países a obra teve trechos censurados – só na Inglaterra foram 49 cortes, pedidos pelo conselho responsável pela classificação indicativa de cinema no país. Na Noruega e na Espanha, o filme inteiro foi proibido, por decisões judiciais. No Brasil, ele também está atualmente vetado. [Até o fechamento desta edição, a exibição do filme estava suspensa em todo o país por decisão da Justiça Federal de Belo Horizonte. O Ministério Público Federal havia pedido a proibição, alegando que a obra possui muitas cenas de crueldade, violência e sexo envolvendo crianças.]

As autoridades que impuseram os cortes dizem que as cenas são chocantes. Mas elas estão lá por um motivo: mostrar abertamente os problemas ao nosso redor. A proposta do filme é retratar o que sinto sobre o meu país, a Sérvia, e o que passamos nos últimos 20 anos: guerra, agitação política, um pesadelo econômico. Na verdade, o mundo inteiro tem passado por questões como essas. Por isso, a história busca representar mazelas também presentes em outros países para que qualquer espectador se identifique com o que está na tela.

As cenas consideradas controversas têm papel importante nessa missão. Meu objetivo com elas era fazer o público encarar diretamente os problemas do mundo, sem chance de ignorá-los. E fazê-lo perceber que, em um mundo politicamente correto, humilhações e violações de direitos acontecem constantemente – e isso não é problema só dos outros.

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A pornografia, a crueldade e a violência que incluí no filme não devem ser encaradas como entretenimento. Nem apreciadas por si só. Mas elas têm, sim, uma finalidade dramatúrgica essencial para que eu possa expressar o que quero com o filme. Ainda assim, foram cortadas – em nome do tal politicamente correto, que esconde as sujeiras do mundo. Mas o que há de correto em cortar e proibir nossas manifestações? Ao longo da história, diversos filmes inicialmente rotulados como “impróprios” acabaram se tornando clássicos. Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e O Exorcista, de William Friedkin, são ótimos exemplos disso.

Claro que existe um limite para a exibição. Fui o primeiro a dizer que meu filme não deveria ser visto por menores de 18 anos. Mas quem tem o direito de escolher o que deve ou não ser exibido a maiores? Haverá no mundo alguma comissão de pessoas brilhantes capazes de tomar essa decisão por todos os outros? Isso não passa de utopia. Se continuarmos proibindo filmes, estimularemos a autocensura praticada por autores, diretores e produtores. E ainda correremos o risco de ficar apenas com filmes politicamente corretos.

* Srdjan Spasojevic é cineasta e diretor de A Serbian Film – Terror sem Limites.

Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.

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