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Prazer, Big Brother

Um futuro em que os governos são capazes de monitorar tudo o que você diz e faz. Ou será o presente?

Por Alexandre de Santi (edição: Bruno Garattoni)
Atualizado em 8 mar 2024, 11h33 - Publicado em 19 nov 2015, 16h15

Livro: 1984
Autor: George Orwell
Ano: 1948
Por que ler? Previu que os governos iam monitorar tudo o que você escreve e fala.

Mesmo 60 anos após a primeira edição, 1984 continua abalando. Em 2013, no site da Amazon, a obra chegou à 68ª posição da lista dos mais vendidos. Não por acaso, essa disparada aconteceu logo depois da denúncia de um esquema ilegal de espionagem realizado pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que monitora dados de telefone e internet de milhões de pessoas em todo o mundo.

Escrita em 1948, a história se passa numa Londres do futuro. Depois de uma guerra nuclear, o mundo é dividido em três grandes nações, que só interagem entre si por meio de guerras. A Oceania, antiga Europa, é dominada pelo Socialismo Inglês, o Ingsoc, e fala o idioma novilíngua, criado pelo governo para eliminar as palavras que não interessam, como “liberdade”. No livro, o partido tinha um líder idolatrado, o Grande Irmão, que vigiava e controlava todo mundo – qualquer semelhança com o Big Brother, aquele programa de TV que você ama odiar, não é mera coincidência. O governo do Ingsoc se divide em quatro ministérios: o da Paz (que se ocupa das guerras), do Amor (que mantém a lei e a ordem), da Fartura (que cuida da economia falida) e da Verdade (que produz e edita notícias e entretenimento).

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Há três tipos de pessoas: os membros do partido interno (a nobreza), os membros do partido externo (massa de manobra, equivalente a 13% da sociedade) e os proles (os 85% invisíveis da população). Entre os membros do partido externo, todos usam macacões azuis, comem comida sem gosto, bebem café ruim, fazem sexo só para procriação e de tempos em tempos se animam assistindo a um extermínio dos inimigos do partido. O plano é deixar as pessoas cada vez mais burras, e quem fizer algo errado (o que inclui falar dormindo) pode ser denunciado por outros fiéis ao Grande Irmão. Ou seja, não dá para relaxar nem perto da esposa ou dos filhos. O povo denuncia mesmo.

Quem narra a história é Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade que reescreve notícias já publicadas. Ele não pensa muito, mas pensa mais do que deveria. Sua revolta contra o partido ganha força quando ele conhece Júlia (que nem sobrenome tem), uma jovem subversiva que segue à risca regras mais simples do partido, como militar na liga antissexo, e com isso consegue subverter regras mais complexas, como fazer sexo. Os dois vivem uma história de amor às escuras e entram num movimento clandestino. Apesar de Winston estar longe de ser um herói bom e belo, ele comove os leitores por ser um resistente solitário.

Tão solitário que a outra opção de título para o livro era O Último Homem da Europa. O romance foi badalado desde o seu lançamento, na carona do sucesso de A Revolução dos Bichos (1945), outra obra-prima de Eric Arthur Blair, nome verdadeiro de George Orwell. Afinal, espionar as outras pessoas não é exclusividade de hoje. Já na década de 1940, em um cenário pós 2ª Guerra, o regime de Stálin na antiga União Soviética utilizava métodos como tortura e controle das fronteiras.

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Depois do nazismo e do fascismo, a nuvem negra do totalitarismo se erguia de novo sobre a Europa. Quarenta anos depois do lançamento, 1984 havia sido traduzido para mais de 65 idiomas. Além de ter previsto todo o esquema de espionagem e a falta de privacidade que vivemos hoje, Orwell chamou atenção também para a perversa natureza humana, sempre sedenta pelo poder. A ideia que inspirou Orwell a escrever 1984 estava sendo incubada anos antes.

O bom senso era a heresia das heresias. E o que mais aterrorizava não era que matassem o cidadão por pensar diferente, mas a possibilidade de ele ter razão.

Na Espanha, entre 1936 e 1937, ele pegou em armas contra o fascismo de Franco, que era apoiado pelos nazistas. “Tudo de sério que escrevi desde 1936 foi escrito com a intenção direta ou indireta de atacar o totalitarismo e defender o socialismo democrático tal como eu o conheço”, disse em carta. Foi um dos primeiros militantes da esquerda a perceber o perigo dos regimes mais severos. Era membro da “esquerda da esquerda”, dissidente, já que era contra a “esquerda oficial”, o Partido Trabalhista britânico, que ele considerava estar interessado apenas em firmar seu poder.

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Sua obra-prima foi tão influente que rendeu até um adjetivo: orwelliano, usado para qualquer referência a um regime tão totalitário quanto o do livro. George passou o recado, mas pagou um preço caro por isso: a própria vida. Basta ver os rascunhos cheios de rabiscos e anotações para perceber que escrever era extremamente penoso para ele. Na época em que redigiu 1984, estava fraco, doente, cansado da fama que A Revolução dos Bichos tinha gerado. Além disso, Orwell era viúvo e tinha um filho para criar. Para se dedicar à obra, na primavera de 1946, foi à Ilha de Jura, na Escócia. O período, que era para ser curto, acabou se estendendo por dois anos e meio, devido ao estado de saúde delicado. A pressão do editor para publicar logo o livro deixou George exaurido. Ele morreu em 1950, pouco depois da publicação, deixando um alerta sempre atual sobre os perigos da sanha de controle do homem sobre o homem.

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