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Quais os acertos – e quais os erros – de “X-Men: Apocalipse”

Apocalipse é o novo filme da saga - que já conta com 9 longas

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2016, 19h14 - Publicado em 19 Maio 2016, 18h15

Apocalipse

“Filme dos X-Men vai estrear nessa semana” não é exatamente uma frase inédita. Os mutantes acumulam 9 produções baseadas nos quadrinhos (6 sobre a equipe, 2 focados no herói Wolverine e um no mercenário Deadpool), todos lançados ao longo de um período de 16 anos. Sem contar o último deles, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (19), a soma dos longas já arrecadou 3,8 bilhões de dólares – é a sétima franquia mais lucrativa da história de Hollywood.

O novo da vez é X-Men: Apocalipse. Quando o título foi anunciado, em 2013, a notícia movimentou fóruns de discussão espalhados pela internet. Os fãs não precisavam mais do que uma palavra. “Apocalipse” é o nome de um dos maiores vilões da Marvel, responsável por alguns dos mais importantes arcos envolvendo mutantes nas HQs. Junto com o título foi confirmado o diretor, Bryan Singer – o mesmo cara que já havia cuidado de outros três longas da série, que revelou: o filme se passaria nos anos 1980 e mostraria a adolescência de alguns dos mais populares personagens da série. Mesmo com o potencial, parte dos insatisfeitos com o resultado de Dias de Um Futuro Esquecido (o último filme do grupo) ficou com o pé atrás. Agora, com o longa nos cinemas, dá para afirmar: o filme é recheado de erros, mas quando acerta, acerta bem.

Tempestade

Acertos

1. O elenco

A segunda triologia do grupo de mutantes, iniciada em 2011 com Primeira Classe, sempre teve seu elenco como trunfo. Entre os protagonistas, o vencedor do BAFTA James McAvoy como Professor Xavier, a então indicada – e depois vencedora – do Oscar Jennifer Lawrence vivendo Mística, e a promessa alemã Michael Fassbender na pele do vilão Magneto. Em Apocalipse, esse leque só aumenta: o inimigo que dá nome ao título é interpretado por Oscar Isaac, que se consagrou como uma das melhores atuações de Star Wars: O Depertar da Força, mesmo com uma participação relativamente curta. Também entra no time Sophie Turner, a Sansa Stark de Game of Thrones, interpretando a versão adolescente de Jean Grey.

O grupo de atores consegue ser a principal qualidade do filme. Mais do que um bom roteiro ou uma boa direção, Apocalipse tem ótimas atuações. Isaac, aliás, consegue segurar a onda de interpretar um dos personagens mais marombas da Marvel, sem ter o corpo de um halterofilista. O Apocalipse dos cinemas em momento nenhum entra no combate corpo a corpo. Isaac consegue deixar claro, no olhar, que o próprio vilão sabe que ele não precisaria disso.

2. A evolução dos personagens

O novo filme acompanha o crescimento dos personagens que já haviam sido mostrados previamente. Um Xavier mais maduro e paciente, uma Mística mais segura de suas posições e habilidades e um Magneto tentando seguir sua vida depois dos acontecimentos retratados nos longas anteriores. Apesar do personagem de Fassbender ter tomado um rumo um pouco mais brusco do que os outros protagonistas, é fácil se localizar na trama e entender as motivações de cada um deles. Isso é importante dentro de uma série: o sentimento de que as coisas não pararam no tempo, e que, durante o intervalo que ficamos sem vê-los, as coisas continuaram acontecendo. É uma ideia que traz vida e ritmo ao longa.

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3. A introdução dos novos mutantes

Jean Grey, Ciclope, Noturno e Tempestade são alguns dos mais populares personagens dos X-Men, e a entrada deles na equipe é mostrada de forma fluida e interessante. Singer consegue aproveitar uma das qualidades nos quadrinhos: o descontrole. O fato dos personagens não conseguirem lidar com suas novas habilidades cria algumas das melhores cenas do longa, e deixa tudo muito mais empolgante. Assim, como todos os outros filmes do X-Men, Apocalipse trata, de alguma forma, sobre juventude; e o novo capítulo da série é um dos longas que consegue abordar isso maneira mais direta.

4. As consequências aos civis

Super-heróis acabam resultando em mortes. Tanto Batman vs Superman quanto Capitão América: Guerra Civil têm esse fator como ponto crucial na trama. Apocalipse não aborda isso diretamente, mas prepara o terreno para o assunto de forma muito mais orgânica que os filmes da Marvel e da DC.

É raro em um filme de heróis ver os civis sendo mortos ou sofrendo grandes destruições. Em Vingadores: Era de Ultron, por exemplo, há um esforço gigantesco de roteiro para mostrar que as pessoas estão sendo salvas antes de Sokovia ser destruída. Apocalipse, por outro lado, mostra civis sofrendo a todo momento. Eles muitas vezes não tinham nada a ver com o que estava acontecendo – só tiveram azar de estar no lugar errado na hora errada. A escolha, apesar de cruel, dá um quê de verdade para o longa.

Os erros

1. É só mais um filme de super-heróis

Quando o primeiro longa dos X-Men saiu, em 2000, ser um filme de super-heróis não só bastava, como era a coisa mais incrível que poderia acontecer. Hollywood ainda não conhecia o potencial das HQs da Marvel – na época, o herói que dominava os cinemas era Batman, um cara sem superpoderes. Não é difícil entender a novidade que foi ver dezenas de pessoas com habilidades fantásticas se degladiando em uma tela de cinema; mas o ponto é que as coisas mudaram.

Depois de X-Men, a gente teve dezenas de filmes envolvendo heróis. A coisa toda foi se tornando monótona. A saída encontrada pela Marvel, por exemplo, foi fazer filmes temáticos que envolviam heróis. Capitão América é um longa sobre a Segunda Guerra que foca em um personagem que, por acaso, ganha habilidades. Homem-Formiga é uma produção sobre roubos a banco, mas com um protagonista que consegue encolher de tamanho. Apocalipse não. É só mais um filme de heróis. Não tem uma linha temática, um cinema de gênero por trás. Isso 16 anos atrás bastava – hoje não.

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2. A linha temporal

Dias de Um Futuro Esquecido tentou mandar um recado para os fãs: “lembra tudo aquilo que vocês viram nos três primeiros filmes? Então, outra realidade. A partir de agora, a gente pode fazer o que quiser”. Até que faz sentido. É a ideia da outra linha temporal, que já foi abordada em quase todos os filmes de ficção científica que se tem notícia.

Isso possibilita eles colocarem o Noturno em 1983, conhecendo personagens que, em teoria, ele só veria pela primeira vez 20 anos depois. A gente aceita. Mas, francamente? Enfraquece. Fica o sentimento de que as coisas não foram planejadas com o cuidado suficiente. Até Deadpool brinca com isso no seu longa solo. Faz pensar se, na verdade, ao invés de criar prelúdios, não seria melhor começar as coisas do zero.

3. Relações mal exploradas

Magneto e Mercúrio são, respectivamente, pai e filho. Uma das relações mais interessantes dentro dos quadrinhos não havia sido explorada até então. Apocalipse começa a falar sobre o assunto, ameaça entrar de cabeça, mas no fim das contas, coloca só o pezinho na água. É um banho de água fria.

Outras relações importantes também são mostradas muito superficialmente. Apocalipse e seus cavaleiros, por exemplo: fica muito claro que o vilão está em busca de mutantes poderosos, e dá até para entender quais motivações os leva a aceitar a aliança, mas tudo é muito rápido e pouco testado. O que aconteceria, por exemplo, se Tempestade não aceitasse fazer parte do grupo formado pelo vilão? Nem mesmo é explicitado qual dos cavaleiros cada um dos mutantes representa.  

4. Jennifer Lawrence goela abaixo

Wolverine sempre foi o símbolo dos X-Men nos cinemas. Acontece que, diferentemente do personagem nos quadrinhos, o ator que interpreta o herói, Hugh Jackman, envelhece. Isso acaba limitando o personagem. Então a solução foi afastá-lo o máximo possível da trama. No lugar dessa figura central colocaram a Mística de Jennifer Lawrence. O ponto é que Mística é conhecida como vilã. Até conseguimos entender ela em uma situação liderando os X-Men, mas soa estranho, como se fosse uma substituta de Wolverine, e ela merece mais.

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Mesmo assim, insistem em colocar o herói das garras em uma cena. Mais uma vez, uma cena de origem. Praticamente todo filme dos X-Men tem uma cena mostrando como Wolverine surgiu. A gente já sacou. A referência à Arma X  é ótima, mas, Fox, pode parar.

Xavier

E no fim das contas…

Apocalipse não é o pior filme da franquia (essa é para você, X-Men Origens: Wolverine), mas também não é o melhor. O problema é que suas falhas deixam pontas soltas para o futuro da série. O final do filme deixa personagens centrais, como Magneto e Mística, em situações muito diferentes das que encontramos nos quadrinhos. Claro que haverá outros filmes da série, mesmo que não saibamos ainda que personagens estarão presentes, mas se ignorássemos isso e víssemos o fim de Apocalipse como um ponto final da trama, o resultado estaria longe do ideal.

Por outro lado, ele cumpre seu papel. O filme é divertido, e ver alguns dos super-heróis mais legais das HQs nas telonas é sempre uma experiência que vale o ingresso. 

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