Quando aprendemos a ser modernos
O livro inclui algumas das peças mais antologizadas do modernismo nacional.
Jerônimo Teixeira
O cronista Otto Lara Resende certa vez disse que o Brasil entrou no século XX com 30 anos de atraso. Não estava falando só da revolução que conduziu Getúlio Vargas ao poder. Antes disso, em Belo Horizonte, a fictícia Editora Pindorama publicava, em tiragem de 500 exemplares, um livro cujo título modesto mal deixava prever a importância capital que teria para a literatura brasileira: Alguma poesia.
Passados mais de 70 anos, o livro de estréia de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) ainda cala fundo na ambígua e indecisa modernidade brasileira. “No elevador penso na roça, / na roça penso no elevador”, diz o poeta. O barulho vanguardista da Semana de Arte Moderna de 1922 ecoa no verso livre, na ironia com que são tratadas as convenções poéticas, na recusa da rima que não é solução, no humor ligeiro de poemas como “Política literária”. Mas Drummond reinaugurou a poesia brasileira moderna. Sem Alguma poesia, o Brasil teria menos a dizer sobre o século que passou.
O livro inclui algumas das peças mais antologizadas do modernismo nacional: “Poema de Sete Faces”, “Infância”, “Quadrilha”, “Cidadezinha Qualquer”. E, claro, o escandaloso “No Meio do Caminho”. A Editora Record, antecipando-se às comemorações do centenário de Drummond, em 2002, está relançando toda a obra do poeta. Alguma poesia já está nas livrarias, com uma nova capa. Aliás, esse livro septuagenário continua sendo, ainda e sempre, novo.