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Tudo o que você pode comprar em um leilão

Um viaduto? Dou-lhe uma. Vestidos da Xuxa? Dou-lhe duas. E que tal o cartão de visita de um oficial nazista? Dou-lhe três! Veja as maravilhas que foram à venda em leilões Brasil afora

Por Cristina Luckner
Atualizado em 6 nov 2017, 19h09 - Publicado em 21 set 2010, 22h00

Os leilões oficiais não são tão glamorosos nem tão disputados quanto se vê nos filmes – na maioria das vezes, vendem produtos com problemas na Justiça, para poucos gatos-pingados. Ainda assim, movimentam R$ 6 bilhões ao ano, quase sempre na venda de apartamentos e carros. Um bem vai a leilão quando existe uma dívida que não foi quitada: por exemplo, quando alguém deixa de pagar o condomínio ou as prestações de um carro. O processo, então, funciona assim: o comprador está há meses sem pagar as prestações do carro. O caso vai parar na Justiça e o juiz decide que a dívida deve ser paga. Assim, muitas vezes o devedor perde o carro recém-comprado. Em outros casos, o credor indicará bens que serão entregues em troca da dívida. Aí vale qualquer objeto de valor que possa ser penhorado – como computadores ou joias. É por isso que às vezes surgem coisas bizarras no leilão. Se a pessoa não possui nada de valioso, qualquer coisa serve: eletrodomésticos, jazigos, caixões, chuveiro. Selecionamos aqui alguns casos curiosos. Dê seu lance e boa sorte!

Eu também quero participar

Quer abocanhar umas pechinchas? Os leilões públicos são anunciados em jornais, no Diário Oficial, nos sites das prefeituras e nos murais dos Tribunais de Justiça e Fóruns Municipais (onde são realizados alguns dos leilões). Lá são publicados não só os bens a ser leiloados como também seu número de processo. Dessa forma, o interessado pode pesquisar no cartório respectivo todos os problemas daquele objeto. Apesar de muitos leilões hoje em dia serem realizados pela internet, é sempre bom visitar os bens antes da compra, para checar se estão em boas condições. A visitação de imóveis é um pouco complicada: é necessário entrar em contato com o cartório onde corre aquele processo e pedir a autorização do dono do imóvel para a visita. Os pagamentos são sempre feitos à vista e não há garantia nem possibilidade de troca.

Nas curvas da estrada de Santos

Produto: viaduto
Valor alcançado: R$ 0,03

Em 1983, o extinto jornal Notícias Populares estampava a manchete: “Pernambucano compra viaduto”. A parte do viaduto era verdade – a compra é que acabou não saindo. O tal do viaduto era um pedaço da via Anchieta, a rodovia que liga a cidade de São Paulo à Baixada Santista. O trecho, em obras, foi posto à venda pela Dersa, pois a encosta da serra corria risco de deslizamento. Assim é boa parte dos produtos que vão a leilão público: tem algum defeito ou pendência com a Justiça. Por isso, a compra pode demorar até um ano para ser concluída. No caso do viaduto, a conclusão nunca chegou. O jornalista Ivanildo Luiz de Pontes foi o pernambucano que deu o lance mais alto e arrematou o viaduto. “Na época o ferro e o aço estavam valorizados. Ia retirar as vigas para vender a uma empresa de sucata”, diz. Ivanildo comprou, mas não levou. A Dersa não aceitou a oferta de Cr$ 102 mil por considerá-la muito baixa (hoje, daria a fortuna de R$ 0,03). O caso foi parar na Justiça, mas não houve acordo. Quem se interessou pelo produto ainda pode admirá-lo: o viaduto continua de pé, depois de o solo ter sido nivelado – e é um dos trechos com maior índice de acidentes da rodovia.

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Intimidade criminosa

Produto: cuecas
Valor alcançado: R$ 1

Quem nunca sonhou em comprar as cuecas usadas de um traficante procurado internacionalmente? Pois, quando as 130 cuecas do traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadia foram colocadas à venda no Jockey Club de São Paulo, por R$ 1 cada uma, não faltaram interessados. Em duas horas e meia, todas as peças haviam sido vendidas. Em abril de 2008, Abadia foi condenado a 30 anos de prisão por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, uso de documentos falsos e corrupção. Como sua fortuna havia sido acumulada por meio de transações ilícitas, todos os bens foram parar em bazares e leilões. A ação arrecadou mais de R$ 500 mil, encaminhados ao Fundo Nacional Antidrogas. Por meio do leilão, foi possível conhecer um pouco da intimidade de Abadia: além de cuecas, havia carros, televisões, pés-de-cabra e uma coleção de peças da Hello Kitty.

Prazer, Hermann Goering

Produto: cartão de visita nazista
Valor alcançado: R$ 800

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Hermann Goering era o comandante-chefe da Luftwaffe, a aeronáutica nazista. Foi o responsável pela construção dos primeiros campos de concentração, e acabou preso no fim da guerra e julgado em Nuremberg. Acabou se suicidando em 1946 – mas um de seus cartões de visita atravessou o Atlântico, chegou ao Brasil e foi parar num leilão particular 6 décadas depois. Ele fazia parte da coleção de um médico. Roberto Pedroso juntava o que estivesse ao seu alcance: tinha 75 mil cartões-postais e 25 mil rótulos de cerveja, por exemplo. Juntou tanta coisa ao longo da vida que, quando morreu em 2007, a viúva não soube o que fazer com os mais de 500 mil itens. Assim, seus cacarecos acabaram num leilão. Leilões particulares também têm suas curiosidades. Muitas vezes, oferecem produtos mais selecionados, como itens de colecionador, antiguidades e obras de arte. Costumam ser mais exclusivos, com um público fiel e frequente, o que acaba gerando arremates mais disputados. Assim, os maços de cigarro do dr. Pedroso acabaram vendidos por até R$ 450 cada, e 11 figurinhas do time do Fluminense de 1922 alcançaram R$ 1 300. Já o cartão do nazista Goering saiu por uma pechincha: apenas R$ 800.

Tradição à venda

Produto: todos os bens de um hotel
Valor alcançado: R$ 271 mil

O primeiro pregão de vinho de que se tem registro aconteceu em 1673, em Londres, quando leilões eram feitos nos tataravôs dos pubs atuais. Mais de 3 séculos depois, em março deste ano, a prática dos leilões de vinho se repetiu quando lotes de garrafas do primeiro hotel cinco-estrelas de São Paulo, o Ca’d’Oro, foram leiloados pela internet. Junto com as garrafas, havia castiçais, quadros, tapetes, talheres e até roupões bordados com o nome do hotel (que foram arrematados por até R$ 960). Foi preciso contratar um especialista em antiguidades para avaliar e precificar todos os objetos. O hotel, fundado em 1953, não faliu, mas resolveu fechar as portas e vender seus pertences para reformá-lo e reabri-lo. E a ação foi um sucesso: rendeu R$ 271 mil. Teve um conjunto de móveis que saiu por R$ 35 mil, e até um chafariz de mármore por R$ 17 mil (o que foi feito dele, ninguém sabe). Já os vinhos foram mais baratos: 79 garrafas de tintos por R$ 900.

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A rainha está nua

Produto: 77 vestidos da Xuxa
Valor alcançado: R$ 20 500

Quanto você pagaria num vestido Versace que a Xuxa usou para se encontrar com o ex-presidente argentino Carlos Menem, na década de 1990? Pois um fã da apresentadora achou justo desembolsar R$ 20 500 pela peça. Esse e outros 76 vestidos da apresentadora foram a leilão em outubro de 2004, no Rio. A ação juntou R$ 140 mil para crianças carentes, mas quem também deve ter ficado feliz é o leiloeiro. Murilo Chaves é leiloeiro oficial há 45 anos, e levou sua comissão de 5% da arrematação – ou seja, R$ 7 mil. A profissão foi regulamentada no Brasil por Getúlio Vargas em 1932, para organizar os leilões de café realizados à época. Se você também ficou interessado em seguir essa carreira, é necessário ser registrado na Junta Comercial de seu estado. Não é preciso ter formação específica, mas poder de comunicação e simpatia são fundamentais. É também preciso fazer um depósito para cobrir algum eventual calote (cada cidade tem seu valor. No Rio, por exemplo, custa R$ 40 mil. Em São Paulo, R$ 15 mil). Em troca, o leiloeiro fica com 5% da renda negociada. Chaves, um profissional experiente, chega a vender até R$ 700 mil em apenas um leilão. Nada mal, não?

Lances históricos

500 A.C.
São feitos os primeiros leilões na Babilônia. Participantes disputam mulheres para casar. As feias são oferecidas com incentivos como vacas.

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193 d.C.
Marco Severo Juliano e Flávio Sulpiciano disputam o império de Roma. A forma de batalha? Lances de leilão.

1556
Surge na França a função de “meirinho leiloeiro”, funcionário público responsável por leilões.

1656
Todos os bens do pintor holandês Rembrandt vão a leilão depois que o artista declara falência.

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1744
Nasce em Londres uma das mais conceituadas casas de leilões de arte do mundo: a Sotheby’s. Vinte e dois anos depois, seria a vez da Christie’s.

1893
Maior leilão da história de Portugal, com 4 581 lotes das coleções de dom Fernando 2º. Dura cerca de dois meses.

1932
Getúlio Vargas regulamenta profissão de leiloeiro no Brasil.

1995
Nasce o site de leilões online eBay.

2004
Inaugura-se a tendência de leiloar a virgindade pela internet.

2009
Mecha do cabelo de Elvis atinge US$ 18 300 em leilão realizado em Chicago.

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