Namorados: Revista em casa a partir de 9,90

Veja as obras de arte danificadas pelos invasores dos Três Poderes

Especialistas acreditam que a maioria das obras podem ser recuperadas – mas não todas. Confira o estrago.

Por Luisa Costa
Atualizado em 11 jan 2023, 12h35 - Publicado em 9 jan 2023, 19h11

Hoje (9), a escultura “A Justiça”, do mineiro Alfredo Ceschiatti, amanheceu com um “perdeu, mané” pichada no peito. Inaugurada em 1961, ela fica na parte externa do prédio do Supremo Tribunal Federal e retrata Têmis – a personificação da Justiça na mitologia grega. Tem valor estimado entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões, e é só uma das várias obras de arte que foram destruídas ou danificadas na invasão criminosa à sede dos Três Poderes deste domingo (8).

“O valor do acervo que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto de obras é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK [Juscelino Kubitschek]”, disse Rogério Carvalho, diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, em comunicado. 

Há vidros quebrados, tapetes molhados e cadeiras jogadas para longe nos três edifícios. O estrago é grande – mas, segundo Carvalho, será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas. Confira abaixo algumas delas:

“As Mulatas” de Di Cavalcanti

Obra
(Twitter/Reprodução)

“As Mulatas” é uma das obras mais importantes da carreira do pintor Di Cavalcanti (1897-1976), que ajudou a construir a Semana de Arte Moderna de 1922. Esta era a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto, no terceiro andar do edifício. Agora, a tela está com sete rasgos. Segundo nota do Planalto, o quadro tem valor estimado de R$ 8 milhões. Mas ele poderia alcançar um valor cinco vezes maior em leilões – algo comum para obras dessa magnitude.

Relógio Balthazar Martinot

Relógio Balthazar Martinot quebrado.
(Twitter/Reprodução)

Balthazar Martinot era o relojoeiro do rei francês Luís 14. De suas criações, restaram apenas duas: uma está exposta no Palácio de Versalhes (antiga residência real francesa); outra, com o dobro do tamanho, é esta da imagem acima. 

Continua após a publicidade

O relógio de pêndulo do século 17 foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI – o rei português que abriu caminho para a independência do Brasil após deixá-lo nas mãos de seu filho, o príncipe-regente Dom Pedro I. A peça, cujo valor é considerado incalculável, ficou muito danificada. Carvalho estima como “muito difícil” a restauração do Relógio de Balthazar Martinot.

“A Bailarina”, de Victor Brecheret, e outras esculturas

Obra
(Agência Senado/Wikimedia Commons)

“A Bailarina”, escultura de bronze de Victor Brecheret (1894-1955), amanheceu fora de seu pedestal depois da caótica invasão deste fim de semana. Ela é uma criação dos anos 1920 do ítalo-brasileiro Brecheret, um dos principais escultores do Brasil e um dos maiores representantes do movimento modernista por aqui. A escultura faz parte do acervo da Câmara dos Deputados e é avaliada em R$ 5 milhões.

Pior é o estado de uma escultura de parede em madeira feita pelo artista Frans Krajcberg (1921-2017), que nasceu na Polônia e se naturalizou brasileiro. Estimada em R$ 300 mil, ela estava no terceiro andar do Palácio do Planalto. Os galhos de madeira que compõem a obra foram quebrados e jogados longe.

A escultura Vênus Apocalíptica”, criada pela artista argentina Marta Minujín (1943), também estava no Planalto – e apareceu jogada no chão, do lado de fora do prédio.

Continua após a publicidade

Outra escultura de bronze, “O Flautista”, do artista plástico Bruno Jorge, foi encontrada totalmente destruída. Datada de 1962, a obra ficava exposta em uma das salas do Congresso e tem valor estimado de R$ 250 mil.

Salão Nobre do STF

No prédio do Supremo Tribunal Federal, os invasores destruíram bustos de figuras importantes da República brasileira, como o de Rui Barbosa, responsável pela criação da Corte no modelo atual, e do abolicionista Joaquim Nabuco. Mas o estrago é ainda mais notável no Salão Nobre do edifício, como mostram as imagens abaixo. Lá estavam mais itens de valor histórico, como um tapete que pertenceu à Princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II e responsável por assinar a Lei Áurea, que acabou com a escravidão no país.

Cadeira do STF

Brasão da República em cadeira de Jorge Zalszupin.
(Twitter/Reprodução)
Continua após a publicidade

Também no STF, a cadeira da presidente Rosa Weber, desenhada pelo arquiteto e designer Jorge Zalszupin, foi danificada – e jogada para fora do edifício, com o brasão do STF. A primeira versão da cadeira apareceu nos anos 1960, mas Zalszupin criou uma série especial para o Supremo.

Vitral Araguaia, de Mariene Peretti

Obra
(Leonardo Sá/Agência Senado/Wikimedia Commons)

O vitral, que remete ao curso de um rio, é criação de 1977 da artista franco-brasileira Mariene Peretti. Ele estava no Salão Verde do Congresso Nacional e também foi danificado pelos invasores.

Retrato de José Bonifácio

Retrato de José Bonifácio com um bigode rabiscado.
(Secom/Divulgação)

Invasores também danificaram a obra de autoria desconhecida que retrata o Patrono da Independência do Brasil, José Bonifácio. Ele ganhou um bigode semelhante ao de Adolf Hitler, como você pode ver na imagem acima.

Continua após a publicidade

“Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo

A pintura de 1995 estava no andar térreo do Palácio do Planalto e retrata a bandeira nacional hasteada em frente ao edifício. Ela serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República e apareceu, depois da invasão, em meio à água que inundou todo o andar depois que os invasores utilizaram os hidrantes do local. No mesmo andar do prédio, a galeria com fotos dos ex-presidentes foi totalmente destruída.

Rastro de destruição

Este levantamento foi possível a partir de imagens feitas por jornalistas ou publicadas nas redes sociais. O Palácio do Planalto já divulgou uma lista preliminar dos objetos destruídos, mas o Supremo Tribunal Federal e o Congresso não o fizeram até a publicação deste texto.

Não só as obras citadas acima sofreram com a invasão à sede dos Três Poderes. As próprias edificações ficaram danificadas. Elas foram projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer e tombadas em 2007 pelo Iphan – órgão responsável pela preservação de nossa história e cultura.

Os invasores também danificaram a escultura Evolução, de Haroldo Barroso, e retiraram diversas pinturas das paredes nos Palácio do Planalto. No Congresso Nacional, danificaram um tinteiro de bronze da época do Império e painéis do artista Athos Bulcão. Até o crucifixo que fica em uma parede do STF não escapou e foi encontrado fora do lugar.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.