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Walt Disney tentou lavar nossos cérebros?

Pôster de desenho animado com pênis, e nudez explícita nas animações infantis: há quem diga que o pai do Mickey Mouse tenha infiltrado mensagens indecentes em seus filmes e tentado lavar os cérebros das criancinhas. Mas será que é verdade?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2016, 18h59 - Publicado em 2 out 2015, 17h00

disney pervertido

Fernando Duarte

A imagem de uma mulher nua aparece ao fundo de uma cena de Bernardo e Bianca, desenho animado da Disney que narra as aventuras de um casal de camundongos. A Pequena Sereia, versão disneyiana de um conto de Hans Christian Andersen, traz não apenas um, mas dois pênis eretos camuflados em cenas e material de divulgação. A palavra “sexo”pode ser lida no céu noturno e estrelado em uma passagem de O Rei Leão, outro sucesso dos estúdios que criaram Mickey Mouse e Pato Donald.

Enquanto muitas teorias conspiratórias se baseiam em delírios de gente paranoica, as provas contra a Disney são incontestáveis nesses e em alguns outros casos. Todas foram documentadas por pessoas que tiveram a paciência de assistir aos vídeos quadro a quadro ou vasculhar cada detalhe da capa de um DVD atrás de uma imagem de conteúdo sexual. Se elas confirmam uma conspiração maquinada pelo conglomerado de entretenimento, bem, isso já é outra história. Existe quem pense que sim.

Corria o ano de 1995 quando o grupo de lobby American Life League, mais conhecido por suas posições contra o aborto, voltou suas baterias contra o império de Walt Disney. A principal prova exibida pela ALL era a sequência de Bernardo e Bianca com a tal foto da mulher nua1. Embora a produção seja de 1977, foi somente com o lançamento do desenho em VHS, quase 20 anos mais tarde, que a existência da imagem pôde ser comprovada – ela aparece em apenas dois quadros do filme e é imperceptível na velocidade de projeção. Isso motivou uma imensa operação de recall por parte da Disney e posterior corte das imagens em relançamentos.

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O episódio abriu a porteira para mais denúncias. Algumas, com bastante procedência, como o caso dos centésimos de segundo de nudez da musa Jessica Rabbit em Uma Cilada para Roger Rabbit: a lasciva mulher do coelho aparece sem calcinha2quando se assiste quadro a quadro a uma cena em que ela é arremessada de um carro após um acidente. Também procede a existência de um pênis disfarçado 3de torre de castelo na capa da versão em VHS de A Pequena Sereia. No mesmo desenho, a cena do casamento da princesa Ariel precisou ser refeita depois que espectadores da versão em vídeo apontaram para a ereção no padre 4que conduz a cerimônia – a Disneyse defendeu com o argumento de que isso não passava de uma ilusão de ótica. Outras acusações eram fruto de mentes imaginativas demais, como as que viram uma mulher seminua 5nos contornos da face felina no pôster de O Rei Leão.

Todas, porém, serviram de lenha para uma fogueira conspiratória que já ardia antes do escarcéu feito pela ALL. Rumores sobre perversão no mundoDisney circulavam pelos Estados Unidos desde o final da década de 1960. Mais precisamente 1968, ano em que foi publicado The Disney Version (“A Versão Disney“, inédito no Brasil), um polêmico livro escrito por Richard Schickel, crítico de cinema da revista Time. Entre outras observações, o autor aponta uma suposta obsessão dos desenhos de Disney por bundas de bebês. Daí foi um pulo para a circulação de histórias sobre orgias secretas nas profundezas da Disneylândia, onde o empresário manteria uma rede secreta de túneis para suas práticas sórdidas, que incluiriam a pedofilia.

Veja mais: 6 vezes em que desenhos da Disney esconderam imagens pornográficas

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Lavagem cerebral

As acusações dos anos 90 supunham que o império Disney se dedicava a controlar a mente de crianças e adolescentes com o uso de mensagens subliminares – intervenções, como as fotos em Bernardo e Bianca, que não são captadas conscientemente em situações normais. Diversas aparições da palavra “sexo”6datam dessa época. Uma delas, novamente em O Rei Leão: a sequência em que uma nuvem de poeira parece soletrar “SEX”. O sexo também seria entreouvido numa das falas do desenho Aladdin. A frase “bons adolescentes tiram a roupa”(“good teen-agers take off their clothes”) chocou conservadores da Flórida à Califórnia numa cena em que o protagonista diz, pelo menos de acordo com o script, “bom gatinho, vá embora”(“good kitty, take off and go”). Como se trata de um momento em que o personagem Aladdin tenta espantar o tigre da princesa Yasmin, a versão oficial faz sentido. Ainda assim, grupos cristãos pediram um boicote aos produtos daDisney.

Então, vieram os ídolos problemáticos fabricados pela Disney. Programas de TV da empresa foram o nascedouro de fenômenos pop como Britney Spears e Christina Aguilera, ambas integrantes do elenco do Clube do Mickey. Anos depois surgiu Miley Cyrus, que, nos anos 2000, brilhou com o alterego Hannah Montana. Quando Britney começou a andar sem calcinha, a beber e a raspar o próprio cabelo em público, seus transtornos foram rapidamente associados a uma teoria conspiratória. Ela e as colegas estariam sendo usadas pelo império Disney como cobaias de um programa de controle mental inicialmente desenvolvido pela CIA para eliminar dissidências políticas dentro dos EUA (leia mais na reportagem da pág. 48). A Disney teria se apropriado desses planos com a intenção de dominar as jovens mentes na América.

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Tal estratégia, lógico, faria parte de uma pauta mais ampla. Walt Disneyseria um devoto do culto Illuminati, daí a preocupação em controlar a juventude e transformá-la num público subserviente – ainda que fosse por meio da sexualização de crianças e adolescentes. O americano Fritz Springmeier, autor de diversos livros sobre teorias conspiratórias, não mede palavras para descrever o envolvimento de Disney e de suas empresas num grande plano de lavagem cerebral. “Durante anos, a Disneylândia tem sido um local para rituais de lavagem cerebral. Os filmes e os programas deDisney são também uma forma de colocar em prática os protocolos de controle mental”, afirmou Springmeier numa entrevista. O pesquisador foi além: o Clube do Mickey, desde a sua criação, em 1955, teria sido usado como ponta de lança para os esforços de condicionamento mental da juventude. Os distúrbios de Britney Spears seriam um efeito colateral do traumático processo de condicionamento.

 

Sabotagem interna

Até a morte de Walt Disney acabou alimentando essas polêmicas. Vítima de um câncer no pulmão, consequência do fumo inveterado durante toda sua vida adulta, ele morreu em 15 de dezembro de 1966, em Hollywood, e seu corpo foi cremado dois dias depois. Até hoje, no entanto, é possível encontrar na internet fóruns que discutem se o corpo de Walt Disney estaria congelado à espera de uma cura para a doença. Segundo relatos de pessoas ligadas à empresa, a boataria surgiu nos corredores da Disney como uma piada para satirizar o egocentrismo do patrão.

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Pegadinhas e sabotagem interna, por sinal, são uma explicação muito mais plausível para as mensagens subliminares. Walt Disney estava longe de ser um democrata na maneira como conduzia os negócios. Uma de suas práticas consistia em não reconhecer o crédito do pessoal a sua volta. Tanto que, nos anos 40, ele enfrentou uma greve de animadores. A retaliação vinha em mensagens ocultas nas animações, que poderiam ser o crédito tão desejado ou uma figura pornográfica para desafiar a chefia. Como as gerações seguintes de executivos da Disney não se afastaram tanto do manual de RH de Walt, as pegadinhas se tornaram uma tradição.

No caso das letras no céu noturno de O Rei Leão, a pegadinha contou com certa incompetência e com a falta de noção dos envolvidos. O animador Tom Sito assumiu a autoria da piada, mas disse que a intenção era formar a sigla SFX, usada em inglês para se referir a efeitos especiais.

O curioso é que mesmo episódios de embaraço podem acabar se transformando em lucro para a Disney. Quando anunciou o recall de Bernardo e Bianca, por exemplo, a empresa provocou involuntariamente uma corrida de consumidores às lojas. Em tempos pré-YouTube, eles queriam checar a cena indiscreta antes que ela fosse eternamente banida, o que alavancou substancialmente as vendas do vídeo. Até então, elas estavam estagnadas. Nem quem imaginou uma Disney comandada por gênios do mal, empenhados em controlar a mente de criancinhas e adolescentes, poderia conceber o plano tão brilhante de usar o topless para ressuscitar a popularidade de um desenho animado de 1977.

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