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A Revolução das Cidades – Hidroanel de São Paulo

Elas guardam os grandes problemas da nossa época. Mas também apresentam as soluções. Descubra os projetos que estão construindo as metrópoles do futuro

Por Luiz Romero
Atualizado em 31 out 2016, 19h07 - Publicado em 21 jan 2013, 22h00

Vivemos no século em que as cidades venceram. Pela primeira vez na história, existe mais gente vivendo entre prédios e avenidas do que entre pastos e animais. Em 2008, os moradores de metrópoles viraram mais da metade da população do planeta. E, em 2011, cidades americanas cresceram mais do que os subúrbios pela primeira vez desde 1920. O fato é que centros urbanos tendem a ser mais “verdes” que subúrbios. A ilha de Manhattan, com todos aqueles prédios, é considerada um dos lugares mais verdes dos EUA: lá, só 25% das famílias têm carro, por exemplo, contra 92% no resto do país. Sim, as cidades venceram e podem ser mais ecologicamente corretas do que o senso comum imagina. Mas, claro: ainda existe muito o que corrigir. Os problemas você conhece: trânsito, sujeira, poluição… Mas as metrópoles também contêm as soluções para estas questões. É o que vamos ver nas próximas páginas.

Hidroanel de São Paulo
Os rios da maior cidade do Brasil são mais do que um esgoto: podem revolucionar o trânsito, a coleta de lixo e a qualidade de vida da metrópole

Trânsito e lixo. Esses dois agentes são a dor de cabeça de qualquer cidade grande desde o Império Romano. Em São Paulo, então, a dor é muito mais aguda. Considerando que a frota de carros na capital só cresce (foram de 1 milhão para 7 milhões dos anos 70 para cá) e que a velocidade média dos veículos no trânsito só cai (indo de 27 km/h para 17 km/h nesse meio tempo), o problema parece sem solução. Mas só parece. Um grupo de pesquisadores da USP tem um projeto para colocar ordem neste caos. E a resposta vem do lugar mais improvável: os rios da cidade.

O Hidroanel Metropolitano pretende resolver São Paulo em dois momentos. O primeiro envolve a construção de uma série de portos na borda dos rios e das represas que circundam a cidade. Eles serviriam para receber a quantidade enorme de sujeira produzida pela metrópole. Desde os saquinhos que os moradores colocam na porta de casa até a terra e o entulho de construções e demolições. Passando por outros dejetos, como a sujeira retirada dos córregos e das estações de tratamento.

Estas cargas seriam levadas para os portos de caminhão mesmo. Mas existe uma diferença importante. Com a construção dos portos para recebimento do lixo, as distâncias percorridas pelos veículos de carga seriam encurtadas de 30 km para apenas 8 km em média. Sem precisar atravessar a cidade, eles desafogariam o trânsito. Os barcos que esperam a sujeira atracados nos portos serviriam para percorrer o resto do caminho. Enquanto cada caminhão transporta apenas oito toneladas, um barco consegue movimentar 400 toneladas.

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Mas para onde estes barcos iriam? Este é o segundo passo. O Hidroanel Metropolitano prevê um enorme círculo de água em volta da cidade. Ele contaria com os dois rios e as duas represas que cortam a borda de São Paulo, mais um canal artificial ligando as pontas soltas. Além dos portos, existiriam três centros de processamento de lixo prontos para receber 800 toneladas de lixo por hora. E todas aquelas cargas públicas – que saíram das ruas, percorreram os rios e chegaram aos centros – seriam recicladas, transformadas em matéria-prima novamente.

“O Hidroanel constitui uma infraestrutura de saneamento, mobilidade e transporte, que tem como espinha dorsal o canal navegável. Ele serve também como um arco irradiador de desenvolvimento”, resume Alexandre Delijaicov, professor da USP e um dos responsáveis pelo projeto. Contando com a iniciativa dos governos que se sucedem na capital, ele poderia ficar pronto até 2045. E, mesmo grandioso, começa a virar realidade: já está planejada uma construção no rio Tietê que aumentaria em 14 quilômetros o trecho em que ele pode ser navegado, possibilitando que os barcos trafeguem por um trecho maior e iniciando a construção do círculo de águas. Nada mal para uma cidade que há décadas só vê seus rios como esgotos a céu aberto.

REFORMA HIDROGRÁFICA
Conheça uma São Paulo possível: com avenidas fluviais, reciclagem em massa e mais áreas verdes.

1. Das ruas aos rios
Com o Hidroanel, toda a sujeira produzida por São Paulo – como a terra e o entulho das construções e o lixo das casas – teriam um novo destino: portos fluviais. Como existiriam mais portos do que lixões, o trânsito ficaria aliviado dos caminhões que transportam a sujeira. Dos portos, eles seriam carregados nestes barcos de carga.

2. Caminhos equilibrados
Os barcos viajariam por um círculo de águas – composto pelos rios Tietê e Pinheiros, pelas represas Billings e Taiaçupeba e por um canal artificial criado para completar o Hidroanel. A conexão entre todos eles, além do transporte de cargas, possibilitaria o equilíbrio das águas. Ou seja, quando um dos rios enchesse, o excesso de águas poderia ser direcionado para outros trechos do sistema. Resultado: menos enchentes.

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3. Centros de transformação
Todos os materiais recebidos nos portos e carregados nos barcos seguiriam até centros gigantescos de processamento. Seriam apenas três espalhados pelas margens dos rios, suficientes para reciclar 800 toneladas de cargas por hora. Ali cacos de vidro voltam a ser garrafas de vidro, latinhas amassadas viram lingotes de alumínio…

4. Renovação de bairros
Mas o Hidroanel vai além do lixo, das enchentes e do trânsito. Ele ajuda no desenvolvimento das regiões que ficam nas bordas dos rios. Hoje, muitas delas, como o bairro paulistano do Jardim Pantanal, estão destruídas. Estes bairros renasceriam com o movimento gerado pelos rios. E contariam com áreas verdes, ciclovias, bondes – além de prédios que juntam moradia e trabalho, evitando longas viagens pela cidade.

 

Leia também:
A Revolução das Cidades – Energia esperta
A Revolução das Cidades – Solução em duas rodas
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