A Revolução das Cidades – Da terra aos telhados
Elas guardam os grandes problemas da nossa época. Mas também apresentam as soluções. Descubra os projetos que estão construindo as metrópoles do futuro
Da terra aos telhados
Uma tendência mundial, as hortas urbanas – em rios, paredes e tetos – estão aproximando as cidades das plantações
Vai ser difícil comer em 2050. Seremos 9 bilhões de pessoas lutando por pastos e fazendas que não conseguem alimentar direito nem 7 bilhões, nossa população hoje. A resolução para este problema é simples: aproximar a fonte da comida dos compradores e utilizar novos espaços para plantar.
Um grupo de agricultores de São Paulo aceitou este desafio. Claudia Visoni faz parte do time, que está começando a mudar o jeito que os paulistanos lidam com a comida. A iniciativa é nova: começou no meio deste ano, com uma pequena horta no bairro da Vila Madalena. Mas já cresceu para outra plantação, localizada na Avenida Paulista. Para Claudia, “plantar no espaço urbano significa eliminar a embalagem e o transporte, duas coisas que causam enorme impacto ambiental.”
As iniciativas, humildes em tamanho, mas carregadas de significado, reproduzem uma tendência mundial, muito bem representada pela cidade de Nova York. A metrópole mais movimentada do mundo chegou ao ponto de ter empresas que investem nas plantações urbanas e orgânicas. A Bright Farms teve a sacada de plantar perto de supermercados, ajudando a diminuir o caminho percorrido pela comida e economizando o dinheiro dos administradores. Outras duas, a Brooklyn Grange e a Gotham Green, vivem de hortas e estufas espalhadas pelo topo dos prédios do Brooklyn. E a coisa está crescendo: a Brooklyn Grange, que possuía 4 km² de hortas, inaugurou no começo deste ano outro espaço verde, com 6 km². Enquanto a Bright Farms deve inaugurar a maior horta urbana do mundo no ano que vem, com nada menos que 9 km² de produção verde.
Acha impressionante? O mexicano Fernando Ortiz acha que é pouco. “Quando converso com meus amigos que plantam nos tetos de Nova York, sempre provoco: eu tenho quatro vezes mais trabalho do que vocês.” E é verdade: o arquiteto acredita que os tetos não são suficientes e que devemos plantar também nas paredes. É isso que ele faz na Cidade do México. “Nova York consegue solucionar parte do problema, mas, para realmente transformar o cenário, precisamos usar todas as superfícies. E não apenas as exteriores, mas também as paredes de dentro, das salas, dos banheiros.”
É muita gente: a Claudia na Vila Madalena e o Fernando nas paredes da Cidade do México, os moradores da Bahia e de Belo Horizonte aproveitando os benefícios do smart grid, o exército de paulistanos nas ciclofaixas da cidade e o professor Delijaicov nos canais de São Paulo. Atuando em áreas tão diferentes e representando grupos tão diversos, todos eles têm algo em comum: acreditam nas metrópoles e não querem fugir delas. Em vez disso, estão tentando revolucionar as cidades onde vivem. E a melhor parte: estão conseguindo.
Cidades mais verdes, com produção de comida local, parecem um sonho. Mas existem.
1. Produção própria
Na Cidade do México, as paredes também produzem comida. “Eu acredito que, pelas próximas décadas, começaremos cada vez mais a consumir produtos plantados por nós mesmos”, conta Ortiz, responsável pelo projeto.
2. Tetos verdes
As hortas de Nova York estão crescendo: a Brooklyn Grange, que tinha 4 km², inaugurou outro espaço, com 6 km², no começo deste ano. E a Bright Farms deve abrir a maior horta urbana do mundo, com 9 km².
3. Chão, teto, parede e…
E nem os rios são o limite. Esta estufa, que aproveita a água da chuva para irrigar as plantas, pode ser vista navegando pelo rio Hudson, em Nova York. Ela é usada para educar a população sobre plantações orgânicas e sustentáveis.
4. Natureza vertical
A ideia de construir as fazendas verticais é antiga. Mas o plano saiu do papel. Uma fazenda vertical e comercial abriu as portas em Cingapura no final deste ano, com capacidade para produzir meia tonelada de vegetais diariamente.
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Fontes Marco Bontje, professor da Universidade de Amsterdã; Larry Susskind, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT); Mitchell Joachim, arquiteto da agência Terreform; Pam Warhurst, criadora do programa de hortas comunitárias Incredible Edible; Willian Cruz, cicloativista e responsável pelo blog Vá De Bike; Casemiro Tércio, diretor do Departamento Hidroviário de São Paulo; Fabio Toledo, superintendente de tecnologia e inovação da Light.