Antes de se tornar um espetáculo moderno, o evento era dedicado às divindades. O maior medalhista da Antiguidade, com o equivalente a 12 ouros, só foi superado por Michael Phelps em 2016.
Texto: Agência Fronteira | Edição de Arte: Juliana Vidigal | Design: Andy Faria | Ilustrações: Caco Neves
Na Era Antiga, os gregos celebravam o final da colheita louvando os deuses. Os festejos poderiam durar dias e incluíam teatro, dança e esportes. Em cada cidade, as disputas eram dedicadas a uma divindade específica. Em Atenas, naturalmente, em homenagem à deusa Atena; em Delfos, a Apolo; e em Corinto, a Poseidon. Mas as competições esportivas eram a expressão máxima da devoção.
Consagrava o maior de todos os deuses: Zeus. Coube à cidade de Olímpia sediar as de maior prestígio – daí a popularização do termo Jogos Olímpicos. A disputa era realizada a cada quatro anos. Os registros indicam que tudo começou em 776 a.C., ano em que foi realizada a primeira edição.
Em Olímpia, as modalidades se resumiam à corrida, ao salto, lançamento de dardo, luta, pugilismo e pentatlo e duraram até 393 d.C., quando o imperador cristão Teodósio proibiu os Jogos, alegando que se tratava de culto a deuses pagãos. O mesmo ocorreu nas demais cidades, por volta de 510 d.C., a mando de outro imperador cristão, Justiniano. Os Jogos só seriam retomados dali a um milênio, em 1896, na cidade de Atenas.
MANDA NUDES
Pinturas e esculturas da Grécia Antiga mostram uma quantidade significativa de atletas nus. A moda começou com os espartanos e se espalhou até chegar a Olímpia. O geógrafo grego Pausânias, que viveu no século 1, menciona que, na 15ª olimpíada, em 720 a.C., o corredor Orsipos de Mégara foi o primeiro atleta a ser coroado sem roupas – prática que se institucionalizou no final do século 6 a.C.
O motivo é simples: a moda da época prejudicava a performance. Vestimenta básica entre os gregos, o quíton era feito com dois retângulos de tecido presos por broches que, no caso dos adultos, iam dos ombros aos tornozelos. Assim, os atletas eram incentivados a usar, quando muito, a zôma, uma espécie de tapa-sexo. A palavra ginásio, inclusive, não surgiu à toa: ela deriva do termo grego gymnós, que significa “nu”.
LEÔNIDAS: O MAIOR DE TODOS
O maior campeão olímpico individual da Era Antiga – e por muito tempo da Era Moderna – chamava-se Leônidas de Rodes. Nascido em 188 a.C., o corredor grego competiu em quatro olimpíadas (164, 160, 156 e 152 a.C.) e, ao longo da carreira, acumulou nada menos do que 12 coroas de louros, a medalha de ouro da época. O recorde olímpico permaneceu insuperado por 2.168 anos. Foi quebrado por outro mito, o nadador norte-americano Michael Phelps, que em 2016, no Rio de Janeiro, arrebatou sua 13ª medalha individual de ouro, nos 200 metros medley.
COROAS E ESTÁTUAS
Nos Jogos antigos, os atletas se contentavam com fitas e coroas de ramos. Mas, à medida que os jogos foram se popularizando, surgiram as extravagâncias. Além da fama equivalente à imortalidade, os vencedores ganhavam o direito de virar estátua, ter poemas dedicados a seus feitos e receber premiações em dinheiro, além de isenções fiscais, alimentação vitalícia e direito a cargos públicos.
Modalidades olímpicas
As corridas eram as mais populares, seguidas das lutas.
• Corrida
A mais tradicional era a stádion (192 m), depois a díaulos (384 m), híppios (720 m) e dólikhos (entre 1,4 km e 4,2 km).
• Corridas de bigas
Um dos esportes mais populares, consistia em carroças puxadas por dois ou quatro cavalos.
• Arremesso de disco
Era usado um disco de pedra. Até hoje a técnica segue similar à usada na Grécia Antiga.
• Pancrácio
Mistura de boxe e luta livre. Valia de tudo, menos morder ou enfiar os dedos nos olhos ou qualquer outro orifício do adversário (graças a Zeus).
• Luta livre
Já tinha regras que lembram o esporte atual. Os lutadores ganhavam pontos por jogar o oponente de costas no chão.
• Pentatlo
Consistia na disputa de salto em distância, arremesso de disco, lançamento de dardo, pancrácio e corrida.
• Boxe
Os lutadores treinavam com luvas protegendo as mãos, mas lutavam com tiras de couro duro, para causar mais danos aos adversários.
• Hoplitodromos
Corrida em que os atletas não corriam nus, mas, sim, vestidos para a guerra: com armas, escudo, elmo e caneleira.
• Apene
Como os cavalos exigiam muitos recursos e cuidados, a apene era uma alternativa: uma corrida de carroças puxadas por mulas.
• Calpe
Corrida de cavalos semelhante às de hoje, só que feita com éguas.