A Grécia mitológica era povoada não apenas por deuses e mortais – mas também por inúmeras criaturas híbridas, espíritos naturais, bestas assustadoras e seres infinitamente sedutores.
Texto: Andreas Müller e Ricardo Lacerda | Design: Andy Faria | Ilustrações: Diego Sanches
Seres fabulosos não faltavam na mitologia grega. Alguns eram filhos de deuses e deusas; alguns eram frutos de maldições e de crimes. Uns eram brutais, horrendos e sanguinários; outros eram belos, formosos e amigáveis – ou simplesmente neutros e indiferentes. Em alguns casos, havia raças inteiras de seres semelhantes – como os centauros e os sátiros, que povoavam os bosques, vales e montes selvagens.
Mas também havia seres em edição limitada: houve apenas três Górgonas, e somente um Minotauro, por exemplo. Únicos ou numerosos, os seres fantásticos garantiam que a Grécia mitológica jamais sofresse de tédio. Seja nos braços das ninfas, ou enfrentando monstrengos demoníacos, os heróis sempre tinham muito que fazer.
Équidna
Conhecida como a Mãe dos Monstros, Équidna tinha metade do corpo em forma de serpente e a outra metade na forma de mulher. Alguns mitos dizem que ela era filha dos titãs Fórcis e Ceto; outros, que foi gerada por Tártaro e Gaia. Uma coisa é certa: Équidna e Tifão fizeram sexo, e da pavorosa união nasceu uma legião de monstros. Entre os filhos do casal tétrico, estão Cérbero, o cão de três cabeças que guardava as portas do inferno; a Hidra de Lerna, com corpo de cachorro e dezenas de cabeças de serpente; a Esfinge que assolou Tebas; e a Quimera.
Tifão
O filho de Gaia e Tártaro foi o mais horrendo monstro da mitologia. Tinha cem cabeças de serpente, com línguas sibilantes, e era tão alto que roçava as estrelas. Com seus imensos braços, tocava ao mesmo tempo o Ocidente e o Oriente. O monstro quase destruiu os deuses olímpicos: chegou a arrancar os músculos e tendões de Zeus e os guardou numa caverna. Hermes e Pã conseguiram resgatar os pedaços do deus supremo e reconstruíram seu corpo. Finalmente, Zeus soterrou Tifão sob uma montanha.
Górgonas
Medusa nem sempre foi um monstro: no início, ela era uma mulher de rara beleza, assim como suas irmãs, Esteno e Euríale. Certa vez, as três ousaram dizer que eram mais bonitas que as deusas. Como punição, dentes de javali rasgaram suas gengivas, e suas longas madeixas se transformaram em víboras venenosas. A partir de então, quem as olhasse viraria pedra.
Minotauro
Minos, o grandioso rei de Creta, era soberbo e arrogante. Para puni-lo, os deuses despertaram em Pasífae, sua esposa, um desejo mórbido: ela se apaixonou por um touro branco selvagem que assolava a ilha. O resultado desse estranho amor foi o Minotauro. Coberto de vergonha, Minos ordenou que o arquiteto Dédalo construísse um grande Labirinto, e encerrou lá dentro o bastardo monstruoso.
Quimera
Cria de Tifão e Équidna, a Quimera tinha três cabeças ferozes: uma de víbora, uma de cabra, uma de leão. Além de ser horripilante, cuspia fogo e veneno. A Quimera assolou a cidade grega de Patera, devorando rebanhos, queimando campos e massacrando pessoas. Foi morta pelo herói Belerofonte, que, montado no Pégaso, derramou chumbo derretido na goela do monstro.
Ninfas
Imortais, belas e sempre ligadas à natureza, as ninfas eram divindades menores, nem tão poderosas quanto os deuses olímpicos, mas muito superiores aos mortais. Habitavam bosques, nuvens, florestas, mares e rios. Entre seus poderes, estava o de curar feridas e, às vezes, prever o destino. Sua beleza atraía os deuses, os humanos e principalmente os sátiros – que estavam sempre correndo atrás delas. Entre as ninfas mais famosas estão as náiades, habitantes dos córregos e rios; as dríades, ninfas das florestas; e as nereidas, ninfas do mar salgado.
Ciclopes
Havia dois grupos de ciclopes na mitologia grega. O mais antigo era formado por Arges, Brontes e Estéropes, os “ciclopes antigos”. Eram gigantes de força descomunal e com um só olho no meio da testa. Também eram talentosos artesãos: forjaram o relâmpago de Zeus, o tridente de Poseidon e o elmo de Hades. Além deles, havia os “novos ciclopes”, uma tribo de homens selvagens, enormes e fortes, também com um único olho. Eram numerosos e viviam na ilha de Hipereia, no Mar Mediterrâneo.
Sereias
Hoje, a palavra sereia indica uma bela mulher com rabo de peixe – mas, na Grécia mitológica, as sereias eram monstros com corpo de pássaro e rosto humano. Apesar da aparência grotesca, tinham vozes hipnóticas: seus cantos atraíam os marinheiros, fazendo com que os navios naufragassem rochedos da ilha de Capri. Odisseu contra os foi o único que ouviu seu canto e viveu para contar a história. Ao navegar por Capri, ele ordenou que seus companheiros o amarrassem ao mastro do navio – e mandou que todos os outros marujos tapassem os ouvidos com cera.
Pégaso
Cavalo com asas brancas, nascido do sangue de Medusa, Pégaso foi domado pelo herói Belerofonte. Após derrotar a Quimera, Belerofonte ficou tão orgulhoso que resolveu cavalgar sobre o Pégaso até o alto do Olimpo e exigir um lugar entre os deuses. Mas Zeus puniu a ousadia, derrubando Belerofonte das alturas. O herói morreu entre os rochedos, e Pégaso virou uma constelação nos céus.
Sátiros
Conhecidos como faunos entre os romanos, os sátiros tinham aparência de homens – mas com pernas, patas e chifres de bode. Habitantes dos campos e florestas, geralmente andavam junto ao deus Pã, que, por sinal, tinha um físico semelhante ao deles. Donos de enorme apetite sexual, estavam sempre correndo atrás das ninfas – que às vezes se rendiam aos seus avanços, e às vezes os driblavam.
Centauros
Habitantes das montanhas da Tessália, os centauros eram humanos da cintura para cima – de resto, tinham corpo de cavalo. Hábeis arqueiros, eram criaturas selvagens e violentas, com uma queda pelo vinho, como os sátiros. Houve, contudo, um centauro famoso por seu comedimento e sabedoria: o bondoso Quíron, tão sábio que foi tutor de muitos heróis, como Jasão e Aquiles.
Hipocampos
Sempre presentes no séquito de Poseidon, os hipocampos eram animais marinhos, metade cavalo e metade peixe. Puxavam a carruagem do deus Poseidon e também serviam de montaria às belas ninfas nereidas.