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3 palavras para entender a tensão entre EUA e Coreia do Norte

Não se perca na troca de faíscas entre Trump e Kim Jong-un.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 15h58 - Publicado em 11 ago 2017, 19h14

Da última vez que o governo dos EUA tirou uma bomba atômica do armário, deu tudo errado tão rápido que o famoso relógio do juízo final – que marca quantos minutos metafóricos faltam para uma catástrofe nuclear – não teve tempo de se mexer. Ainda bem: se alguém tivesse mudados os ponteiros, ele teria ficado a apenas alguns segundos da meia noite.

Foi em outubro de 1962, na famosa crise dos mísseis de Cuba. Resumo da ópera: os EUA, à título de provocação, posicionaram ogivas na Turquia e na Itália e apontaram tudo para Moscou. A União Soviética, que não gostou nada dessa história, devolveu a alfinetada pondo seus próprios mísseis nucleares em Cuba, a pouco mais de 100 quilômetros da Flórida. Uma potência virou refém da outra, e por 13 dias o mundo prendeu a respiração – chegava ao auge a Guerra Fria. Entenda melhor a história aqui na SUPER.

Apesar da tensão, ninguém apertou o botão e tudo foi resolvido diplomaticamente – prova disso é que você está lendo esse texto e a Terra não virou uma cratera radioativa. Pena que, 50 anos depois do episódio, quem mais precisava não aprendeu a lição. O relógio da Bulletin of the Atomic Scientists, que rendeu até música do Iron Maiden, está a 2 minutos e 30 segundos do juízo final, o pior nível desde 1953.

A culpa é, em parte, de tuítes como este aqui, publicado hoje por Donald Trump: “As soluções militares estão totalmente posicionadas, as armas estão preparadas caso a Coreia do Norte haja de forma insensata. Espero que Kim Jong Un encontre outro caminho!”

Seu atrito com o líder norte-coreano, é claro, não chega nem aos pés da crise 1962 – a começar pelo fato de que, ao contrário da Coreia do Norte de hoje, a Rússia da época realmente tinha a tecnologia necessária para varrer os EUA do mapa (e vice-versa).

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“Eu não sei de ninguém no Pentágono, militar ou civil, que tenha recomendado ações preventivas contra o programa de armas nucleares da Coreia do Norte”, afirmou à Columbia Journalism Review o jornalista da CBS David Martin, especialista em segurança nacional. “Mas quando o presidente e o secretário de defesa falam essas coisas, fica fácil escrever uma matéria apocalíptica.

Agora que você está (mais ou menos) aliviado, vale entender melhor três palavras-chave dessa guerra verbal.

1) ICBM

A sigla que mais apareceu no noticiário nas últimas semanas, significa, em português, míssil balístico intercontinental. Ele não é sinônimo de bomba atômica – é “só” um veículo com alcance suficiente para levar uma (ou mais) ogivas nucleares do local de lançamento para um alvo muito, muito distante – no mínimo 5,5 mil quilômetros, a distância entre Nova York e Londres.

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O crédito da ideia é todo dos engenheiros de Hitler – que, nos últimos anos da Segunda Guerra, queriam dar um jeito de apagar Washington do mapa sem ter que pôr os pés nos EUA, e começaram a desenvolver a tecnologia necessária para isso. Com o fim do conflito, esses projetos e as melhores cabeças alemãs foram capturados pelos americanos e soviéticos – que usaram a tecnologia que os nazistas haviam começado a desenvolver para criar seus ICBMs. Os mísseis deram certo em 1957, no caso da URSS, e 1959, no caso dos EUA, dando início ao capítulo mais quente da Guerra Fria.

Desde o episódio de 1962, e principalmente após a queda do Muro de Berlim, em 1991, o número de ICBMs vêm diminuindo no mundo todo – além dos países permanentes do Conselho de Segurança da ONU, só Índia e Israel possuem mísseis do tipo em operação.  

Contrariando a tendência, a Coreia do Norte entrou para de vez para o clube em julho deste ano, quando, apesar de limitações técnicas, lançou seus primeiros ICBM realmente bem-sucedidos. O Hwasong-14 atingiu 3,7 mil quilômetros de altitude e viajou mil quilômetros antes de cair no local previsto, em águas próximas do Japão – um dos marcos iniciais das discussões inflamadas com Trump.

2) B1-B Lancer.

Ele não era um avião muito conhecido até a manhã dessa sexta-feira, quando Trump compartilhou um tuíte das forças armadas que afirmava que dois desses bombardeiros estavam sendo enviados para exercícios militares no Pacífico Norte em conjunto com Japão e Coreia do Sul. A notícia foi acompanhada da #FightTonight (lute hoje à noite), uma referência ao fato de que as forças armadas norte-americanas estão prontas para reagir caso seja necessário. 

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Com 44 metros de comprimento e asas de geometria variável – que podem se dobrar para trás, em forma de flecha –, o avião, que entrou em serviço em 1986, também é uma herança da Guerra Fria. Foi projetado ao longo da década de 1970 para atingir velocidades supersônicas e passar incólume pelas defesas soviéticas – uma resposta à evolução dos sistemas de defesa aérea russos.

O modelo costumava ser capaz de carregar armas nucleares, mas essa função foi desativada, por motivos óbvios, com o fim da Guerra Fria. Seja como for, suas rondas na região são uma demonstração de força dos EUA.

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3) Guam

É uma pequena ilha do Pacífico, localizada 2,1 mil quilômetros à leste das Filipinas e a meros 3,4 mil quilômetros de Pyongyang. Não é parte oficial do território norte-americano, mas responde à Casa Branca e seus 160 mil habitantes são cidadãos dos EUA.

Até o final do século 19, a ilha era comandada pela Espanha – uma herança das Grandes Navegações. Acabou nas mãos dos Estados Unidos em 1898, após a rendição dos ibéricos em uma guerra entre os dois países, e começou a abrigar uma espécie de pit stop das forças armadas ianques no Pacífico.

Após a invasão japonesa e eventual reconquista da ilha durante a 2ª Guerra, a presença militar se intensificou e o pedregulho paradisíaco, três vezes menor que o município de São Paulo, se tornou uma das bases estratégicas mais importantes – e bem protegidas – dos EUA (29% da superfície da ilha é ocupada por mais de 5 mil militares). De lá partiram, por exemplo, os enormes bombardeios B-52 que atuaram nos últimos anos da Guerra do Vietnã.

Não é surpreendente, portanto, que Donald Trump tenha reagido mal à ameaça norte-coreana de lançar seus ICBMs a alguns quilômetros de distância de Guam – em termos estratégicos, isso é bem mais do que uma “fina”. Ninguém, porém, leva tão a sério os ICBMs coreanos, que só conseguiram percorrer a distância necessária para o ataque hipotético em um dos quatro testes feitos até agora. A taxa de confiabilidade está muito abaixo do necessário para levar a ameaça a sério, e foi classificada como “drama máximo” pela CIA.

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