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35 anos sem solução: a história do maior roubo de arte de todos os tempos

O assalto ao Museu Gardner de Boston, em 1990, mantém o recorde do maior sumiço de obras – com prejuízo estimado em meio bilhão de dólares.

Por Luiza Lopes
10 dez 2025, 16h03 •
  • Na manhã do último domingo (7), dois homens armados entraram na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo. Eles renderam uma vigilante e um casal que visitava a mostra e retiraram treze gravuras de Henri Matisse e Candido Portinari de um mesmo setor da exposição. 

    A ação, registrada pelas câmeras, durou poucos minutos: a dupla caminhou até a porta principal com as obras em mãos e fugiu em um carro estacionado nas proximidades. No dia seguinte, um dos suspeitos – já conhecido por outros crimes – foi preso. O segundo permanece foragido. 

    Roubo de obras raras, como o que ocorreu em São Paulo, não é um fenômeno incomum. Há 35 anos, um caso nos Estados Unidos consolidou-se como o maior roubo de arte da História – e até hoje ninguém sabe onde estão as peças.

    Era madrugada de 18 de março de 1990 quando dois homens usando uniformes da polícia tocaram o interfone do Museu Isabella Stewart Gardner, em Boston. Alegaram responder a uma ocorrência de perturbação. A história parecia real, já que era noite do Dia de São Patrício, quando a cidade costuma festejar até tarde. O segurança de plantão violou o protocolo e abriu a porta de serviço para receber os supostos policiais

    Ao entrar, a dupla anunciou que havia um mandado e ordenou que o vigia se afastasse da guarita. Em poucos minutos, ele e um segundo guarda estavam no subsolo, imobilizados com fita adesiva e algemados a tubos metálicos. Ficariam ali até às 8h15 da manhã seguinte, quando a polícia real chegou.

    Com o museu sob controle, os ladrões começaram a percorrer as salas. Os sensores de movimento registraram cada passo, permitindo aos investigadores reconstituir a rota com precisão.

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    O foco inicial foi a Sala Holandesa, no segundo andar, onde ficava parte das pinturas mais valiosas da coleção particular reunida pela filantropa Isabella Stewart Gardner no início do século 20. Ali, os assaltantes arrancaram das molduras as obras Cristo na Tempestade no Mar da Galileia e Um Cavalheiro e uma Dama de Preto, de Rembrandt.

    Levaram também O Concerto, de Vermeer – uma das cerca de 35 pinturas conhecidas do artista – e a obra Paisagem com Obelisco, de Govaert Flinck. Também tomaram uma pequena gravura de autorretrato de Rembrandt e um antigo recipiente de bronze chinês.

    Em seguida, foram para a Galeria Curta e recolheram cinco desenhos de Degas e o remate de uma águia dourada que ornava uma bandeira da Guarda Imperial de Napoleão. Antes de fugir, passaram ainda no Salão Azul, no primeiro andar, e retiraram Chez Tortoni, de Édouard Manet. A moldura da obra foi abandonada mais tarde na sala de segurança.

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    Pintura do Johannes Vermeer, O Concerto, 1663-1666.
    Pintura do Johannes Vermeer, “O Concerto”, 1663-1666. (Wikimedia Commons/Reprodução)

    Às 2h45, após menos de 90 minutos dentro do prédio, a dupla saiu em duas viagens até o carro. Ao todo, 13 peças desapareceram, avaliadas em mais de meio bilhão de dólares. Algumas das pinturas, como a de Vermeer, eram tão raras que sua ausência representou perda irreparável para o acervo mundial.

    E o roubo deixou outro rastro duro de ignorar: cinco molduras vazias permanecem penduradas até hoje, como Gardner determinou em testamento. Sua coleção não poderia ser alterada sob nenhuma circunstância – nem mesmo após um crime dessa escala.

    A investigação

    A investigação começou imediatamente, mas nunca terminou. Nos anos seguintes, as autoridades seguiram pistas em Boston, em outros estados e até no exterior. O jornalista Stephen Kurkjian, autor do livro Master Thieves, contou à CNN que, por muito tempo, acreditou-se que James “Whitey” Bulger, o mafioso mais notório de Boston, estivesse envolvido no crime.

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    A hipótese perdeu força quando se constatou que Bulger não controlava a área onde o museu ficava Não havia indícios de que seus integrantes houvessem participado da ação, e nenhuma pista surgida ao longo da investigação o conectava ao roubo. Outros nomes ligados ao crime organizado local começaram a aparecer: Carmello Merlino, Frank Salemme, Stephen Rossetti e Robert Donati. Muitos deles morreram sem dar respostas.

    Em 2013, o FBI afirmou ter identificado os dois ladrões, mas não divulgou os nomes. A agência disse acreditar que parte das obras seguiu para Connecticut e Filadélfia antes de chegar às mãos de Robert Guarente, ligado à máfia. Segundo informações fornecidas por sua esposa, Elaene, Guarente teria repassado algumas peças ao também mafioso Robert “The Cook” Gentile.

    Em buscas feitas em 2013 na casa de Gentile, nada foi encontrado além de uma lista das obras roubadas. Gentile morreu em 2021 negando qualquer ligação com o caso. O FBI o tratava como o último suspeito vivo.

    A linha mafiosa não era o único fio investigativo. Em 2015, o FBI divulgou imagens de um homem desconhecido entrando no museu na noite anterior ao roubo, pela mesma porta usada pelos criminosos. O gesto reacendeu teorias de possível conivência interna. Um dado reforça o mistério: os detectores de movimento não registraram atividade na Sala Azul, de onde Chez Tortoni foi levado, apesar de a moldura ter sido deixada na sala de segurança.

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    Para o ex-agente especial Bob Wittman, também ouvido pela CNN, a ausência de registro é significativa: “No FBI, descobrimos que cerca de 89% dos roubos a museus são crimes cometidos por pessoas de dentro. É assim que esses objetos são roubados”.

    Havia ainda teorias mais improváveis e internacionais. Por volta de 2005, a investigação se desviou para a Córsega após surgirem franceses supostamente ligados à máfia local tentando vender um Rembrandt e um Vermeer. Wittman participou de uma operação para recuperá-los – mas o plano fracassou, e os homens foram presos por outro caso de tráfico de arte.

    A hipótese de envolvimento corso ganhou uma curiosidade narrativa: um dos itens roubados era justamente o ornamento de águia de uma bandeira napoleônica, símbolo associado à ilha onde Napoleão nasceu.

    Outros suspeitos históricos também orbitavam o caso. Myles Connor, ladrão de arte e músico que já havia subtraído um Rembrandt do Museu de Belas Artes de Boston nos anos 1970, foi investigado. Mas tinha álibi, já que estava preso na época do roubo ao Museu Gardner. 

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    A diretoria do museu, assim como o FBI, investiu milhões na busca pelas obras. Anthony Amore, diretor de segurança da instituição e investigador do caso desde 2005, disse ao canal A&E Crime + Investigation: “Estamos fazendo todo o possível para recuperar as obras”. Em outra declaração ao mesmo veículo, comentou o desafio: “É impossível dizer se as peças ainda estão juntas ou separadas”.

    E acrescentou que a solução virá de métodos tradicionais, não de especulações online: “Investigações sobre roubo de arte são complicadas porque não são resolvidas lendo a internet. Elas são resolvidas por meio de trabalho investigativo à moda antiga”.

    Décadas depois, o museu permanece marcado pelo que perdeu. Paradoxalmente, o item mais valioso da coleção – O Rapto de Europa, de Ticiano – não foi tocado pelos ladrões. A obra é muito maior e mais pesada que as demais (mede cerca de 1,8 metro por 2,1 metros), o que pode explicar por que ficou para trás. 

    A investigação nunca esclareceu se os criminosos sabiam exatamente o que estavam levando. Amore acredita que os Rembrandts eram os alvos principais: todo Rembrandt que poderia ser retirado da parede foi removido. O caso segue aberto e sem perspectivas concretas de solução. 

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