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A psicopata das legendas

Conheça Tata, a bióloga de 35 anos que coordena a Equipe Psicopatas. Em menos de 4 horas, ela e seus amigos criam as melhores e mais baixadas legendas de Lost no Brasil

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h24 - Publicado em 18 Maio 2010, 22h00

Texto Gisela Blanco

Do outro lado da linha, a mulher de voz jovem confessa empolgada: “É como um vício. Quis parar várias vezes, mas não consigo. É uma paixão enorme”. A apaixonada em questão é conhecida na internet como Tata. Há 3 anos ela é a coordenadora informal da Equipe Psicopatas, que faz as melhores, mais rápidas e mais requisitadas legendas amadoras da série no Brasil. Só no site Legendas.tv, mantido por Tata e pelo amigo conhecido como Lovesick, são mais de 30 mil downloads de legendas por episódio. “Meu marido é que não gosta muito”, diz a moça, uma bióloga de 35 anos do Rio de Janeiro, dona de uma voz tranquila e alegre. “Já deixei de viajar por causa de séries e até de comemorar meu aniversário porque caía justamente no dia que Lost passava nos EUA!”

Mas o esforço em trocar a vida real pela virtual compensa. Sem o trabalho dela e de seus colegas que disponibilizam as legendas quase que simultaneamente à exibição do seriado nos EUA, Lost não seria um fenômeno tão grande na internet do Brasil. Fã incondicional de seriados – atualmente ela acompanha 33 deles -, Tata entrou no mundo das traduções por causa do seriado Dexter, em 2006. “Um dia procurava legendas para um episódio e não achei de jeito nenhum. Então resolvi fazer as minhas próprias e deixar disponível para todo mundo.”

Trabalho de equipe

Hoje, os Psicopatas são um time de 15 tradutores voluntários de vários estados do país, com diferentes profissões (estudantes, médicos, advogados…). O mais novo deles tem 15 anos; o mais velho, 66. “Mesmo sem ganhar nada por isso, somos muito exigentes. Muita gente diz que nossas legendas são melhores do que as feitas pelos estúdios profissionais”, diz. Os colegas da internet acabaram virando camaradas no mundo real. “Criamos uma turma com gente do Brasil inteiro. Conversamos o dia todo pelo MSN, rimos juntos de nossos erros, fazemos muita piada, ajudamos uns aos outros. E vira e mexe viajamos pelo país para nos encontrarmos”, afirma Tata.

O que mais anima a Equipe Psicopatas é fazer o trabalho na correria, como se participassem de uma gincana. O objetivo deles é quebrar o último recorde de rapidez na produção das legendas. Assim que um capítulo de Lost passa nos EUA, os participantes correm escrever, revisar e sincronizar o texto. Quase sempre o processo demora menos de 4 horas (confira o método aí ao lado). Quem coordena essa força-tarefa é Tata. “Ela é a rainha das legendas na internet”, conta João Luiz, um estudante paulista que participa do grupo há dois anos, quando respondeu a um anúncio que Tata publicou no site Legendas.tv buscando novos colaboradores. Segundo ele, Tata é tão profissional quanto executivos de grandes empresas. “É muito respeitada e reconhecida pelo perfeccionismo com que faz o trabalho. E tem uma capacidade incrível a turma.”

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Legal ou ilegal?

Nem todo mundo compartilha o entusiasmo dos Psicopatas. Para a Justiça brasileira, o assunto ainda é cinzento. Fazer legendas de seriados sem fins lucrativos não pode ser considerado crime e não leva ninguém para a cadeia, mas pode custar uma indenização e muita dor de cabeça. É que para entidades de combate à pirataria, como a Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM), que representa gravadoras e canais de TV, fazer legendas de seriados é ilegal – seria como traduzir um livro brasileiro para o inglês e distribuir nos EUA de graça. “É uma prática recente, então não há leis específicas no Brasil. Mas entendemos que é ilícito, então pedimos aos provedores que retirem os sites do ar sempre que possível”, afirma Juliana Branco, advogada da associação.

Há cerca de um ano, o site Legendas.tv foi tirado do ar pela empresa que o hospedava, a pedido da APCM. Não demorou muito e o site voltou, com novo servidor e o apoio de centenas de usuários que contribuíram com pequenas doações. Enquanto o impasse não se resolve, Tata e os outros integrantes da Psicopatas preferem não divulgar o nome completo nem topam aparecer em fotos. “Não acho que esteja errada, mas tenho medo de ser processada”, diz Tata. Ela acredita que até entre as produtoras deve haver quem defenda a importância do trabalho de guerrilha dos fãs para o sucesso das séries. “Recebemos muitos agradecimentos empolgados. Muitos dizem que não assistiriam os seriados se não fosse por nosso trabalho”, afirma.

Como os Psicopatas trabalham

1. Os escolhidos
Para entregar boas legendas em pouco tempo, a equipe escolhe 15 colaboradores que não enrolam e não erram. O escolhido precisa ter inglês perfeito, entender o programa de tradução e ter uma boa conexão de internet.

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2. Divisão de tarefas
A cada episódio, os 15 escolhidos se revezam em grupos de 5 pessoas. Uma semana antes de Lost ir ao ar, cada integrante fica sabendo sua função: legendar, revisar ou sincronizar o texto com as falas.

3. Direto dos EUA
Quando o episódio passa nos EUA, um brasileiro que mora por lá grava a série da TV com a função Closed Caption ativada. O recurso gera um arquivo de texto em inglês que ao fim do episódio é logo enviado ao Brasil.

4. Portinhola, não!
Por MSN, os voluntários dividem o texto e atravessam a madrugada traduzindo. Quando terminam, um revisor une as partes, corrige erros e uniformiza expressões (troca, por exemplo, “portinhola” por “escotilha”).

5. Sincronia
O texto é enfim sincronizado com as falas. É preciso adequar cada frase à proporção de 16 caracteres por segundo, o que deixa a leitura confortável. Tudo pronto, é hora de distribuir as legendas na web. E ir dormir.

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