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Bolo de 106 anos é encontrado na Antártida em ótimo estado

A guloseima – deixada lá em 1911 por uma expedição britânica – tinha um leve cheiro de manteiga rançosa, mas sobreviveu graças às baixas temperaturas

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 15h57 - Publicado em 14 ago 2017, 19h12

Você gosta de bolo da vovó?

Que tal comer um bolo de quando a vovó ainda não existia? Ativistas do Antarctic Heritage Trust (AHT), órgão da Nova Zelândia que luta pela preservação da Antártida, encontraram, perdida no continente gelado, uma lancheira de latão com bolo de frutas secas de 106 anos de idade. Tudo indica que a guloseima foi parar lá na bagagem do britânico Robert Scott, líder da famosa expedição Terra Nova, que alcançou o Polo Sul em 1912. O final não foi feliz. Scott e três de seus companheiros perderam a “corrida”, alcançando o marco geográfico 33 dias depois do norueguês Roald Amundsen, e morreram na viagem de volta por causa do frio. 

O recipiente enferrujou, mas mantém resquícios da pintura original. A sobremesa foi preservada pelo gelo – “Dá quase para comer”, na opinião dos pesquisadores que abriram a embalagem.

“Tinha um cheiro de manteiga rançosa muito, muito leve; tirando isso, o bolo parecia comestível!”, afirmou em uma declaração à imprensa Lizzie Meek, responsável por artefatos históricos da AHT. “Não há dúvidas de que o frio extremo da Antártida ajudou a preservá-lo.” Segundo ela, bolos com nozes e frutas secas são favoritos de quem vai encarar regiões frias até hoje por fornecerem muitas calorias (e, é óbvio, por serem a companhia perfeita para o chá das cinco).

A lancheira não passou os últimos 100 anos sozinha. Foi encontrada na companhia de 1,5 mil itens históricos de todos os tamanhos, esquecidos por aventureiros de várias nacionalidades em uma cabana construída por uma expedição norueguesa (que não foi a de Amundsen) em 1899, e reaproveitada pela missão britânica (de Scott) em 1911. A pequena construção fica no cabo Adare, uma península na extremidade do continente mais próxima da Austrália.

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Fruit cake tin after treatment_c AHT
(Antarctic Heritage Fund/Divulgação)

A equipe de Meek removeu a ferrugem do recipiente de estanho e fez um tratamento químico em sua superfície para evitar mais corrosão. O papel da embalagem e o rótulo também passaram por “manutenção”, mas o bolo em si foi deixado como está. Após a restauração das cabanas, todos os artefatos históricos – mesmo os que contém comida – serão devolvidos ao local exato em que foram encontrados. A área é patrimônio histórico e protegida por acordos internacionais de preservação. No inventário, além do doce de Natal, estão ferramentas, roupas, aquarelas da fauna local, pedaços de carne e peixe em péssimo estado de conservação e alguns potes de geleia que ainda renderiam uma boa dupla com pasta de amendoim.

Atribuir o bolo especificamente à missão histórica de Scott pode parecer uma aposta arriscada, mas não é. Documentos remanescentes dos preparativos para a viagem mencionam a origem do produto – que é da Huntley & Palmers, espécie de Bauducco britânica sediada até hoje na cidade de Reading, a oeste de Londres. Ninguém na empresa se impressionou.

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“Nossas latas aparecem nos lugares mais inesperados”, afirma o site oficial. “Em 1904, os primeiros europeus a visitarem a cidade sagrada de Lhasa, no Tibet, foram recebidos com biscoitos Huntley & Palmers.”

Toma essa, Coca-Cola. E vida longa à uva passa!

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