Caça aos comunistas
E do outro lado da mesa poderia estar o senador Joseph McCarthy, um homem que se orgulhava de caçar cidadãos em ¿atividades antiamericanas.
Cíntia Cristina da Silva
Eram os anos 50 e, em meio à guerra fria, os EUA entraram em histeria contra o perigo vermelho. Qualquer opinião pró-União Soviética ou simpatia ao comunismo rendia convite para esclarecimentos diante de uma comissão parlamentar. E do outro lado da mesa poderia estar o senador Joseph McCarthy, um homem que se orgulhava de caçar cidadãos em “atividades antiamericanas”.
Em 1953, o apresentador Edward R. Murrow, do programa See It Now, da CBS, resolveu enfrentar o senador e exibir o caso de Milo Radulovich, expulso do Exército sem direito a defesa por se recusar a denunciar o pai e a irmã como comunistas.
Os bastidores do programa são o tema do filme Boa Noite e Boa Sorte – o título é referência ao bordão de despedida de Murrow. Mesmo morto há meio século, McCarthy tem papel de destaque: ele aparece vociferando contra Murrow, sempre em imagens de arquivo gravadas na época.
Filmado em preto-e-branco, Boa Noite e Boa Sorte é dirigido por George Clooney, que, entre um blockbuster e outro, encarna um dos melhores atores engajados do cinema. Faz filmes sobre o petróleo (o elogiado Syriana, inédito no Brasil) e a Guerra do Golfo (Três Reis), mas está longe de ser comunista. Nos anos 50, quando McCarthy elegeu Hollywood como alvo, astros como ele provavelmente seriam chamados para um papo com o senador – e talvez saíssem da conversa banidos do cinema.
A lista de Hollywood
• Em 1947, o Comitê de Atividades Antiamericanas foi para Hollywood investigar a indústria cinematográfica. Entrevistou mais de 40 pessoas que apontaram colegas de esquerda. O diretor Elia Kazan, de Sindicato de Ladrões, ele mesmo ex-membro do PC, ficou conhecido como um dos mais notórios delatores.
• O roteirista Dalton Trumbo preferiu se calar e foi colocado na lista negra. Proibido de trabalhar, mudou-se para o México e começou a escrever sob pseudônimos. Às vezes, usava a assinatura de amigos. Um de seus roteiros, A Princesa e o Plebeu, ganhou o Oscar de 1953. Mas quem levou a estatueta foi Ian McLellan Hunter, que emprestara o nome para os créditos.
• Inspirado no macarthismo, o dramaturgo Arthur Miller escreveu As Bruxas de Salem (1953). Na peça, um grupo de garotas inventa culpados e denuncia inocentes para se livrar de uma acusação de bruxaria. Miller escreveu o texto pouco após uma conversa com Elia Kazan em que o diretor afirmou que ia cooperar com o senador McCarthy para continuar a fazer filmes.