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Carmim de cochonilha: a história do pigmento feito de insetos moídos

Ele era uma tradição pré-colombiana, deu nome à cor vermelha e tinge batom e iogurte até hoje. A receita? 70 mil cochonilhas trituradas rendem 0,5 kg.

Por Manuela Mourão
25 set 2024, 12h00
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  • Colagem de imagens na cor vermelha.
     (Luana Pillmann/Getty Images e Wikimedia Commons/Montagem sobre reprodução)

    Este é o segundo texto da série “Azul, amarelo e veneno também”, que conta a história dos pigmentos antes da invenção de cores sintéticas. Leia o primeiro texto, sobre o verde-paris, aqui.

    A palavra “vermelho” vem do latim vermiculus, que significa “verme”. O motivo é que, por muito tempo, um pigmento vermelho comum na Europa vinha de um inseto minúsculo de nome científico Kermes vermilio.

    Esse bichinho excreta um composto químico batizado de ácido quermésico, que já dava cor a roupas, cerâmicas e
    quadros em Roma. Civilizações antigas das Américas, como astecas e maias, eram fãs de um ácido colorido similar – o ácido carmínico, presente no inseto Dactylopius coccus, a cochonilha.

    No século 15, por exemplo, Montezuma, o imperador asteca, exigiu tributo na forma de cochonilha de onze cidades
    conquistadas. Até hoje, o Peru e o México estão entre os maiores produtores desse pigmento. Os insetos são criados em cactos, que eles adoram parasitar.

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    Para obter meio quilo de pó de carmim, é necessário pulverizar 70 mil cochonilhas secas. Até 20% do corpo do inseto de 0,5 cm consiste nesse ácido de cor vibrante, mas elas pesam frações de grama cada uma. Não rende.

    O pó escarlate se tornaria um dos produtos mais importantes da balança comercial do México colonial: só não movimentava mais dinheiro que a prata. Sua importância era tamanha que essa substância era negociada em bolsas de valores na Europa – como soja e minério de ferro são hoje, por exemplo –, e foi essencial para que a Espanha se tornasse uma potência econômica.

    Essa commodity fez muito sucesso nos retratos e cenas cristãs dramáticas do barroco. Caravaggio, o pintor italiano, utilizava frequentemente sua tonalidade cor de sangue. Quando os tintureiros europeus começaram a experimentar com o pigmento americano em tecidos, ficaram deslumbrados com sua vivacidade e concentração: o vermelho era muito mais bonito que o gerado pelos insetos do Velho Mundo.

    A Revolução Industrial e a ascensão dos corantes sintéticos no século 19, como a alizarina, mudaram o cenário. A indústria da cochonilha entrou em crise, e muitas fábricas fecharam: criar e triturar insetos aos milhões não era
    uma solução tão lucrativa ou escalável quanto usar pigmentos artificiais.

    O carmim de cochonilha só voltou a ser viável economicamente nas últimas décadas: embora tenha saído de
    cena nas artes, na construção civil e na indústria têxtil, ele ainda é uma opção biologicamente inofensiva para colorir comida e cosméticos, aprovada por agências de vigilância sanitária mundo afora.

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    Aparece em iogurtes, balas e outras coisas sabor morango, bem como no bolo red velvet e em quase todo batom. No futuro, é possível que o corante passe a ser secretado por microrganismos geneticamente modificados, eliminando a preocupação dos veganos com a matança de artrópodes.

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