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Cientistas podem ter descoberto quando – e onde – a roda foi inventada pela primeira vez

As primeiras rodas podem ter sido criadas há 6 mil anos por mineiros, sugere um novo estudo.

Por Bela Lobato
27 out 2024, 12h00

A roda é descrita por muitos especialistas como a invenção mecânica mais importante de todos os tempos. Sua disseminação levou a mudanças radicais em civilizações diversas ao longo da história da humanidade, permitindo a fabricação de cerâmicas e o transporte otimizado de todo tipo de carga. Entretanto, não há consenso sobre quando, como, onde e por quem ela foi originalmente criada.

Na verdade, o consenso entre os historiadores é de que ela não foi inventada uma única vez: acredita-se que várias civilizações tenham criado a roda em épocas e lugares diferentes ao redor do mundo.

Existem muitas evidências arqueológicas de rodas e veículos com rodas na Idade do Cobre (período que vai de cerca de 5 mil a.C. a 3 mil a.C.) em toda a Europa, Ásia e norte da África, incluindo cenas de batalha pintadas em paredes, rodas em miniatura, brinquedos infantis, carroças enterradas e até mesmo escritos sobre o uso de rodas.

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Roda de Ljubljana Marshes é a roda mais antiga já encontrada, e é feita de madeira. Ela data do ano 3130 a.C – ou seja, tem cerca de 5.100 anos. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Agora, um novo estudo sugere que, já em 3.900 a.C, os mineiros de cobre do Leste Europeu podem ter criado três grandes inovações na tecnologia de rodas – possivelmente sendo a primeira vez que humanos aperfeiçoaram a tecnologia. A pesquisa foi publicada na revista Royal Society Open Science na última quarta-feira (23), e afirma que a descoberta da roda “foi possível graças às características físicas exclusivas do ambiente de mineração, cujo impacto foi análogo às pressões ambientais seletivas que impulsionam a evolução biológica”.

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A nova pesquisa usa conhecimentos da mecânica estrutural para embasar a teoria apresentada em 2016 pelo historiador Richard Bulliet, da Universidade de Columbia. Segundo ele, naquela época, a busca por cobre intensificou as atividades mineradoras, e era preciso ir cada vez mais fundo para encontrar o mineral. 

Depois da extração, ainda era necessário subir com os contêineres pesados de volta para a superfície, e depois descê-los montanha abaixo. O artigo argumenta que, ao longo de quinhentos anos, os mineiros do Leste Europeu passaram por três etapas de produção da tecnologia das rodas.

O primeiro passo deve ter sido o uso de rolos simples, como troncos de árvores sem galhos. As cargas eram colocadas em cima desses rolos, que conforme giravam, iam sendo movidos de trás para a frente.

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A primeira inovação nesse processo teria sido criar um encaixe para esses rolos no compartimento de carga, formando um carrinho rudimentar e impedindo que a carga escorregasse de um lado para o outro. Isso também retirou a necessidade que os rolos fossem reposicionados ao longo do movimento.

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Depois, os rolos foram modificados e ganharam um formato de carretel, com extremidades mais largas do que o centro, o que possibilitou o desenvolvimento de um eixo fixo. Essa melhoria permitiu o uso de menos rolos e facilitou a navegação e a superação de obstáculos.

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Por fim, a terceira grande inovação envolveu a separação das rodas e dos eixos, dando mais mobilidade, independência na montagem e capacidade de manobra. 

Esquema explicativo da evolução dos modelos de roda.
(Alacoque et. al/Reprodução)

Segundo os pesquisadores, a teoria tem embasamento também em evidências arqueológicas: na cordilheira dos Cárpatos, que se estende de onde hoje é a República Tcheca até a Romênia, foram encontradas 150 pequenas esculturas de argila inusitadas. 

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As esculturas, acreditam os arqueólogos, eram utilizadas como canecas e tinham um formato que lembrava mini-carroças. Segundo a hipótese da equipe, essas canecas eram inspiradas nas carroças com rodas usadas para transportar minério nas trincheiras ou túneis das minas de cobre. Datadas de cerca de 3.600 a.C, elas são as mais antigas representações de transporte sobre rodas conhecidas no mundo. 

Segundo Kai James, engenheiro aeroespacial que é coautor do estudo, a abordagem de design computacional que os pesquisadores adotaram nesse estudo poderia ser aplicada a outras questões arqueológicas. “Por exemplo, acho que ainda há muito a aprender sobre como exatamente as pirâmides foram construídas”, disse em entrevista ao site LiveScience. “O projeto mecânico computacional pode ser fundamental para responder a algumas dessas perguntas.”

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