Cinco vezes que os humanos se deram mal ao mexer com a natureza
Guerra dos emus, a cidade em chamas e gatos paraquedistas. Conheça alguns resultados incomuns da ação do homem na natureza.
A humanidade já mexeu tanto com a natureza que conseguiu criar uma nova era geológica: o antropoceno. A palavra é formada pela junção dos termos gregos anthropo (humano) e ceno (novo). O início da nova era geológica é marcada pelo lago Crawford, no Canadá, cuja contaminação começou a ficar preocupante em 1952.
Na maioria das vezes, o caldo desanda em uma série de consequências digna de filmes de ficção. De gatos paraquedistas a guerra com aves, confira cinco vezes em que a gente foi mexer com a mãe natureza e o tiro saiu pela culatra.
A Guerra dos Emus
Se você acha fascinante o feito dos 300 espartanos na guerra das termópilas, é porque não conhece a habilidade militar dos emus.
Ao voltar da Primeira Guerra Mundial, o governo australiano decidiu presentear seus soldados veteranos com terras ao oeste do país para a plantação de trigo. Eles foram encorajados a aumentar a produção do produto, mas a Grande Depressão de 1929 fez o preço do trigo despencar.
Como nada está ruim o suficiente para que não possa piorar, os agricultores se viram diante de outro problema: os emus. Essas aves parentes dos avestruzes são nativas da Austrália, e após o seu período de reprodução, entre os meses de maio e junho, costumam migrar para o oeste em busca de alimento. Com campos cheios de trigo e água abundante, as propriedades dos veteranos de guerra agradaram os emus.
Estima-se que chegaram aproximadamente 20 mil pássaros, o que deixou todos os agricultores em pânico. Eles então solicitaram ajuda do Ministério da Defesa Australiano, que decidiu declarar guerra aos nossos amigos de penas e combater a “ameaça” da forma que sabia: com soldados e metralhadoras.
No primeiro dia, o exército deu de cara com um grupo de 50 animais e soltou o dedo no gatilho. As aves se mostraram mais espertas e rápidas do que o esperado. Elas se espalharam e correram das balas, tornando o tiroteio inútil.
Sua tática daria inveja a qualquer exército no mundo. Cada bando de Emu tinha uma espécie de líder, que ficava de olho em tudo. Ao menor sinal de problema, ele avisava os demais e corria. Seis dias, muitas balas, e só algumas aves mortas depois, foi decretado oficialmente o impensável: as aves foram as vencedoras do confronto.
A cidade do fogo eterno
Era 27 de Maio de 1962, e o Memorial Day, feriado de homenagem aos soldados americanos mortos em combate, estava próximo. O problema era que, ao lado do cemitério dos heróis de guerra, havia sido instalado um aterro sanitário com toneladas de lixo. Buscando se livrar do problema de forma rápida, a prefeitura da cidade de Centralia, na Pensilvânia, EUA, decidiu colocar fogo em todo aquele lixo. Simples não?
O que eles não sabiam é que o aterro não estava ali por acaso. Antigamente, ali funcionava uma antiga mina de carvão, que acabou deixando um grande buraco no chão. Eles conseguiram de fato queimar o lixo, mas o fogo encontrou o combustível que precisava e continua queimando até os dias de hoje. Toda a cidade de Centralia foi construída por cima de um grande labirinto de túneis de mineração, cujo carvão abandonado ainda alimenta as chamas.
Como você já deve ter imaginado, o fogo se espalhou pela rede subterrânea de túneis, abrindo rachaduras no solo, e liberando gases tóxicos. Após diversas tentativas de apagar o fogo, o governo desistiu, vendo que a solução para o problema seria muito cara ou até impraticável. Se espalhando por uma área de 15km, o fogo deve durar pelo menos mais 250 anos.
Os pardais de Mao Tse Tung
Entre os anos de 1949 e 1976, o governo do líder comunista chinês Mao Tse Tung decidiu dar início ao programa Grande Salto Adiante, que visava dar um salto industrial e econômico do país. Dentre as diversas campanhas do projeto, uma em especial ficou famosa pela sua ideia e principalmente pelas suas consequências.
Em 1958, a chamada Campanha das Quatro Pragas buscava eliminar quatro animais que, segundo as autoridades, levavam doenças para a população: ratos, moscas, mosquitos e…pardais. Para além das doenças, Mao acreditava que os pardais estavam sendo responsáveis por comer os grãos das plantações, diminuindo os ganhos da economia chinesa.
Mao Tse Tung ordenou então um extermínio em massa dos pardais do país. Todas as técnicas possíveis foram empregadas para eliminar animais: os ninhos foram destruídos, panelas e frigideiras eram usadas para espantar os pardais e evitar que pousassem, além de saraivadas de tiros no céu. Estima-se que quase 1 bilhão de pardais foram mortos durante essa campanha.
Mas o problema não acabou por aí. Sem os pardais, a população de gafanhotos e outros insetos do país disparou – e eles se alimentavam, justamente, de grãos. As plantações foram devastadas pelos insetos, o que gerou uma escassez de alimentos generalizada para toda a população.
O país teve que importar cerca de 250 mil pássaros da antiga União Soviética, mas o estrago já estava feito. A falta de alimentos levou ao episódio da Grande Fome Chinesa, em que quase 50 milhões de pessoas morreram de fome.
Os diques do Mississipi
O rio Mississipi é o segundo maior rio dos EUA. Por mais de 7 mil anos, ele levou sedimentos da América do Norte por toda a sua extensão até chegar no Golfo do México. Tudo ia bem até 1718, quando os franceses fundaram a cidade de Nova Orleans. Eles ficaram incomodados com o transbordamento do rio durante a primavera, fazendo com que a água corresse pelos prédios em construção na cidade. A solução foi construir diques para conter essas inundações do rio. Com o passar dos anos, mais e mais diques foram sendo construídos – e assim começa o problema.
Os rios desaguam no mar de duas formas diferentes. Quando sua foz termina em uma única saída, é denominado estuário (um exemplo é o Rio da Prata, na América do Sul). Mas quando a saída se divide em vários canais, acontece o que chamamos de delta (como o do rio Ganges, na Ásia). A construção dos diques diminuiu exatamente a formação desse delta do rio Mississipi. Ele era responsável pela reciclagem do solo, formando os famosos pântanos do Mississipi.
Os diques transformaram a saída do Mississipi em um estuário. Resultado: o estado da Louisiana, onde fica o Mississipi, está sendo engolido pelo mar. Sem os deltas para o depósito dos sedimentos, o rio leva tudo para o fundo do Golfo do México. Desde 1930, a Louisiana já perdeu mais de 5 mil quilômetros quadrados de terra. Seria algo como um campo de futebol tragado pelo mar a cada 100 minutos.
Os gatos paraquedistas de Bornéu
Em 1950, a ilha de Bornéu, no sudeste asiatico, enfrentava um surto descontrolado de malária. A solução criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o mosquito transmissor da doença foi atear na ilha um tipo de inseticida chamado DDT. Os mosquitos de fato morreram e a malária foi contida.
Acontece que o DDT desencadeou uma cascata de consequências. O inseticida matou também uma espécie de vespa parasita que vivia na ilha, que se alimentava de lagartas. Essas lagartas comiam as palhas dais quais os tetos das casas da ilha eram feitos. Sem as vespas, as lagartas se proliferaram – e o teto das casas começou a cair na cabeça dos moradores.
Mas o que tudo isso tem a ver com gatos saltando de paraquedas? Bom, é que o inseticida também envenenou outros insetos da ilha. Esses insetos faziam parte do cardápio das lagartixas, que por sua vez, era prato dos gatos. Resultado: os gatos começaram a morrer envenenados. Sem os gatos para tomar conta do pedaço, outro animal começou a se aproveitar do caos: os ratos.
A população de ratos na ilha começou a crescer, e com isso, a ilha foi tomada por surtos de várias doenças diferentes, como Tifo e Peste. A solução para essa bagunça toda? Gatos de paraquedas. A OMS lançou a chamada Operação Cat Drop. Apesar de alguns jornais dizerem que somente 23 gatos foram usados, relatos dizem que a OMS soltou mais ou menos 14 mil gatos na ilha para resolver o problema.