Desabrigados e cibernéticos
No Japão, até os sem-teto são modernos: eles dormem em cibercafés
Texto Maurício Horta
Para viciados em World of Warcraft e ciberpornógrafos, passar a madrugada numa cabine individual de uma lan house em Tóquio pode soar maravilhas. Com direito ilimitado a refrigerante, melhor ainda.
Mas, para as cerca de 5,4 mil pessoas que dormem pelo menos 4 noites por semana em lan houses japonesas, não é o computador que interessa, e sim a poltrona reclinável. São os net cafe refugees, que compõem um quinto da população sem-teto do Japão.
Dos adultos japoneses entre 25 e 34 anos, 26% viram-se com bicos – novidade trazida pela recessão japonesa e pelas reformas econômicas do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi. A maioria continua na casa dos pais, envergonhando aqueles que reconstruíram a economia do país às custas de horas extras. Sair desse ninho é difícil – sem um fiador é quase impossível alugar um apartamento e sem um endereço fixo é impossível ter um emprego formal.
O que sobra são as lan houses. Muitas têm chuveiros e, algumas, até saletas com tatame, a 100 ienes a hora (R$ 1,70). Não há vagas? Vão para um hotel-cápsula, 4 vezes mais caro, e dormem num espaço pouco maior que um caixão. O dinheiro não dá? Vão para uma lanchonete 24 horas e viram McRefugees. A necessidade bateu? Vão para uma sauna ou para uma soapland, onde funcionárias administram uma confortável massagem ensaboada.