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Descoberto povo pré-colombiano governado por mulheres

Técnica moderna de análise de DNA mitocondrial revela que os Chaco, povo próspero que habitava o Novo México em 1000 a.C., eram comandados por mulheres.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 13h50 - Publicado em 23 fev 2017, 14h41

Três mil adornos feitos de conchas do Pacífico e treze mil miçangas e pingentes de turquesa. Era essa a decoração de apenas um dos 14 mortos encontrados em uma cripta funerária que data de 1000 a.C. em um cânion no Novo México, no sul dos EUA. Pertencente à cultura pré-colombiana dos Chaco, o mausoléu, repouso eterno das maiores autoridades políticas e sociais do povo do deserto, contém gerações de uma só família — que, agora se sabe, passou o poder de mãe para filha, e não de pai para filho, por aproximadamente 330 anos.

O segredo para revelar essa dinastia matriarcal centenária só pode ser detectado no microscópio: no ser humano, o DNA principal, que fica no núcleo celular, é uma mistura do código genético dos pais da criança, mas o DNA de nossas mitocôndrias (organela responsável pela respiração da célula), vem só da mãe.

Ou seja: em governos hereditários patriarcais, cada rei ou imperador carrega em suas mitocôndrias o DNA das mulheres de uma família diferente. Já nos matriarcais, as organelas se mantém idênticas geração após geração.

Segundo a NewScientist, os Chaco eram sofisticados do ponto de vista tecnológico: se adaptaram ao clima quente e seco do deserto construindo reservatórios e sistemas de irrigação, conectaram seus vilarejos com uma rede de estradas e construíram prédios com centenas de “apartamentos”. Apesar disso, não desenvolveram o próprio método de escrita — motivo pelo qual não se conhecia, até hoje, sua organização política.

A cripta em questão, cuja investigação foi liderada por Douglas J. Kennett, da Universidade Estadual da Pensilvânia, era parte de um conjunto habitacional de 650 cômodos chamado Pueblo Bonito, uma construção monumental para os padrões da época. Como esse, haviam outros doze, mas nenhum tão grande — é provável que cada “condomínio” desses fosse dominado por uma família diferente, mas que todos mantivessem relações sociais e comerciais.

No artigo, os pesquisadores afirmam que uma seca duradoura pode ter posto fim ao próspero reino indígena. O desmatamento decorrente da ocupação da área, por exemplo, teria aumentado a erosão do solo e criado problemas para a agricultura. Sem registros escritos, porém, é impossível ter certeza.

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