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Deus = Natureza

O cientista mais brilhante da era moderna pregava a religiosidade cósmica, que transcende a ideia clássica do Criador e evita os dogmas da teologia

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Texto Eduardo Szklarz

Tanto já se escreveu sobre a suposta crença de Albert Einstein em Deus que pouca gente duvida dela. Como ele mesmo se dizia “profundamente religioso”, há quem até se utilize da imagem de Einstein para desqualificar o ateísmo. Afinal, se o maior cientista da era moderna acreditava, quem seríamos nós para não acreditar?

Acontece que a história não é tão simples assim. Para responder se Einstein acreditava em Deus, primeiro é preciso saber de qual Deus estamos falando. Esqueça o senhor de barbas brancas sentado num trono no céu, que castiga ou premia nossas ações e responde a cada oração que enviamos da Terra. Nesse Todo-Poderoso, o cientista definitivamente não depositava sua fé.

“Não creio em um Deus pessoal”, escreveu Einstein em 1954. Para ele, só os ingênuos são capazes de aceitar a ideia do Criador de características humanas, onipotente e onisciente, comum às grandes religiões monoteístas (leia mais nas reportagens das págs. 18, 22 e 26). O físico alemão defendia que é preciso superar esse velho conceito e partir para outro, mais evoluído – um caminho que ele próprio já havia percorrido.

Fé X religião

Albert Einstein era filho de judeus nada religiosos, mas seguia com fervor os rituais judaicos como o shabat (dia do descanso). Aos 12 anos, porém, desistiu da religião. “Ao ler os primeiros livros de ciência, ele acabou concluindo que muito do que havia nos textos sagrados não poderia ser verdade”, diz escritor americano Walter Isaacson, biógrafo do cientista.

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O rapaz tinha abandonado os dogmas do judaísmo, mas manteve sua admiração pela harmonia e pela beleza do Universo. Adulto, dizia professar uma “religiosidade cósmica”, ideia que pouca gente entendia – apesar de suas seguidas explicações em artigos e entrevistas. Para acabar com a dúvida de uma vez por todas, certa vez o físico americano e rabino ortodoxo Herbert Goldstein enviou-lhe um telegrama perguntando: “Você acredita em Deus? Resposta paga – 50 palavras”.

Einstein só precisou de metade delas para responder: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia de tudo o que existe, não num Deus atento ao destino e às ações da humanidade”. A referência era ao filósofo holandês Baruch Spinoza, defensor de um Deus sem personalidade, sem vontades e que se manifestava apenas na natureza ordenada do Cosmos. “Nesse contexto, milagres deixam de fazer sentido”, afirma o pesquisador Matthew Stanley, da Universidade de Nova York, nos EUA. “Não há separação entre Deus e o mundo. Deus é a natureza, em vez de ser seu Criador.”

Razão + sensibilidade

A tal religiosidade cósmica, para Albert Einstein, representaria o estágio mais maduro da religião. O primeiro teria sido o do medo – medo da fome, dos animais selvagens, da morte, que levou o homem primitivo a criar um Deus pessoal. No último desses estágios, porém, a crença no divino daria lugar a um sentimento religioso que não se baseia em dogmas ou Igrejas, mas em leis imutáveis da natureza.

“Segundo Einstein, todo evento no mundo físico é causado por outro evento físico, e toda causa é descrita com precisão pelas leis científicas”, explica Stanley. Trocando em miúdos: na ordem que rege o Cosmos, não haveria espaço para o Deus das grandes religiões. “É o sentimento de compreender os mistérios do Universo que move os cientistas em suas pesquisas e os motiva após cada fracasso”, Einstein costumava dizer. “Os cientistas sérios são os únicos homens profundamente religiosos.”

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Entre a cruz e a espada
Deixando de lado a religiosidade de Einstein: cientista pode acreditar em Deus?

Para o psicólogo canadense Steven Pinker, da Universidade Harvard, nos EUA, a resposta só pode ser não. Especialista naquilo que se chama de psicologia evolutiva, ele enxerga na Teoria da Evolução motivos de sobra para descartar a possibilidade de Deus. “A seleção natural explica a vida em todas as suas peculiaridades.” O biólogo britânico Richard Dawkins concorda. Autor do livro Deus – Um Delírio (Companhia das Letras), ele não se cansa de destacar que a teoria de Darwin está 100% comprovada, é inquestionável e fornece explicação para cada passo dado pela vida na Terra ao longo de muitos e muitos anos – desde as suas formas mais rudimentares até as mais sofisticadas e improváveis, como o cérebro humano. “Não podemos presumir que Deus tenha feito alguma coisa só porque ela é complexa demais ou improvável”, diz Dawkins. “Se foi Deus quem nos criou, estranho que tenha esperado 10 bilhões de anos até que a vida começasse a surgir e outros 4 bilhões para que fôssemos capazes de cultuá-Lo.” Há cientistas, porém, que não enxergam contradição alguma entre Deus e evolucionismo, nem entre milagre e comprovação científica. É o caso do médico e geneticista americano Francis Collins, ex-coordenador do Projeto Genoma. O homem que mapeou nosso DNA acredita que Deus não pertence ao mundo natural – está fora dele – e teria ativado o mecanismo de evolução das espécies no momento da Criação. “O Deus da Bíblia é o mesmo do genoma. Pode ser adorado tanto numa catedral quando num laboratório.”

Para saber mais

• Einstein: Sua Vida, Seu Universo
Walter Isaacson, Companhia das Letras, 2007.

• A Linguagem de Deus
Francis S. Collins, Gente, 2007.

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