Dia D não foi a virada na 2ª Guerra Mundial
Mais de um ano antes do desembarque na Normandia, o império nazista de Hitler já tinha sido ferido de morte pelo Exército Vermelho
Textos Eduardo Szklarz
São principalmente os autores americanos, ingleses e franceses que costumam apontar o Dia D como a operação militar que marcou a virada dos Aliados sobre as forças do Eixo. Mas, se você for consultar livros alemães ou russos sobre 2ª Guerra Mundial, vai descobrir que a versão da história é outra. Nessas obras, fica claro que Adolf Hitler e seus comparsas começaram a perder a guerra muito antes – em batalhas decisivas travadas contra os soviéticos no front oriental.
O primeiro grande tropeço dos nazistas aconteceu quase 3 anos antes do Dia D, em dezembro de 1941, quando o Exército Vermelho de Josef Stalin emplacou uma contraofensiva fulminante na batalha de Moscou. Os nazistas achavam que o sucesso da invasão à URSS era certo. Quebraram a cara. E pior: os revezes no front oriental se acumulariam a partir dali.
“Na historiografia militar alemã e soviética, a crise de dezembro de 1941 é qualificada como a virada decisiva ante Moscou”, diz a historiadora Marlis Steinert, professora do Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais de Genebra, na Suíça. “Algumas obras vão além e falam de virada decisiva da guerra, por causa da dimensão global que o conflito tomou a partir dali”.
O destino de Hitler foi traçado de vez na batalha de Stalingrado, que começou em junho de 1942 e só foi terminar em fevereiro de 1943. Considerada uma das mais sangrentas de todos os tempos, seu saldo foi assustador: quase 2 milhões de baixas dos dois lados. Entre mortos e feridos, a URSS de Stalin venceu. E o 3º Reich de Hitler acusou o golpe. Daquela derrota em diante, faltando ainda 15 meses para os desembarques do Dia D, o nocaute da Alemanha seria apenas uma questão de tempo.
DEVAGAR COM O ANDOR
Ninguém questiona a importância do Dia D. Iniciada a 6 de junho de 1944, foi uma das operações militares mais corajosas e bem-sucedidas da guerra. Depois de libertarem a França ocupada pelos nazistas, os soldados norte-americanos, britânicos e de outros 10 países marcharam em direção à Alemanha, onde se juntaram aos soviéticos para jogar uma pá de cal sobre o 3º Reich. Sem o Dia D, Hitler provavelmente teria resistido mais tempo. Mas os fatos demonstram que sua derrota era inevitável, mesmo antes da operação.
Benditos soviéticos
Foi no front oriental que Hitler começou a perder a guerra
Front oriental
Soviéticos contra alemães, húngaros, e italianos.
Front ocidental
EUA, França e Reino Unido contra alemães e italianos.
1941
Dezembro – Front oriental
Os soviéticos emplacam uma contraofensiva fulminante na batalha de Moscou.
1943
Fevereiro – Front oriental
Os alemães se rendem ao Exército Vermelho em Stalingrado.
Agosto – Front oriental
Tanques soviéticos derrotam os alemães na batalha de Kursk.
1944
Janeiro – Front oriental
Termina o cerco de quase 900 dias à cidade de Leningrado.
Junho – Front ocidental
Dia D: a 6 de julho, os aliados desembarcam na Normandia.
Agosto – Front ocidental
Paris, até então ocupada pelos nazistas, é libertada.
Setembro – Dront ocidental
O avanço aliado empaca na batalha de Arnhem, à beira do rio Reno.
Dezembro – Front ocidental
Os alemães contra-atacam na batalha do Bulge, em território belga.
1945
Janeiro – Front oriental
O Exército Vermelho liberta o campo de concentração de Auschwitz.
Março – Front oriental
Com o avanço das tropas de Stalin, caem as cidades de Viena e Praga.
Abril – Front oriental
Berlim é ocupada pelo Exército Vermelho, Hitler se suicida e a guerra chega ao fim.
Junho – Front oriental
EUA, Grã-Bretanha, França e URSS dividem a Alemanha em 4 zonas de controle.
Março – Front ocidental
Os aliados ocidentais finalmente conseguem cruzar o Reno.
Abril – Front ocidental
Tropas aliadas libertam os campos de concentração de Belsen, Buchenwald e Dachau, já em território alemão.